meu emaranhado de eus

setenta × sete

Uma...
Duas...
Três...

Você está enfiado suco guela a baixo;
Sem açúcar tudo fica com

gosto amargo,
O natural tem seu preço,
Pode comer sem medo...

Quatro...
Cinco...
Seis...

Já está pronta para a quarta ou quinta vez?
Querida, não se preocupe!
É só enfiar até sangrar.
Faça sua garganta rejeitar,
Se encurve, está na hora de leve ficar.

Sete...
Oito...
Nove...

Está fazendo suco outra vez?
Mas não era você que queria engordar?
Fazendo isso, como massa magra vai ganhar?

Dez...
Onze...
Doze...

Assim você não passa nem do 18!
Enfie e se obrigue a beber,
Seu estômago está doendo,
Mas um belo efeito você vai ter.

Treze...
Quatorze...
Quinze...

Você não é uma criança,
Mas parece uma principiante.
Vá para o banheiro!
Grite para sua figura horripilante.

Dezesseis...
Dezessete...
Dezoito...

Mais?
Ótimo!
Assim, talvez, você não precise usar um plus size até os 28.

Dezenove...
Vinte...
Vinte e um...

Você quer ter um corpo parecido com o número oito?
As pessoas geralmente preferem o um, por isso ele é o primeiro da fila,
Não é você que quer ser sempre a número um?
Sangre até morrer, mas seja a melhor!

Vinte e dois...
Vinte e três...
Vinte e quatro...

Dance conforme a música,
Faça sua cintura sair do 74,
Ele disse que o corpo perfeito é 24.

Vinte e cinco...
Vinte e seis...
Vinte e sete...

Você não será uma princesa calçando tênis 37.

Vinte e oito...
Vinte e nove...
Trinta...

Para você, não daria certo em panos esconder-se igualmente a outras meninas,
Muitas delas têm o corpo perfeito, você não.
Todos os panos largos que você colocar não vão encobrir o que você é por fora, muito menos por dentro, pois você fede a podridão.

Trinta e um...
Trinta e dois...
Trinta e três...

Ótimo, para o banheiro!
Aproveite para chorar e se cortar mais uma vez,
Limpe o chão, lave a boca e passe flúor;
Coma duas laranjas e vá dormir, ou soque a parede até virar pó.

Trinta e quatro...
Trinta e cinco...
Trinta e seis...

Meu deus!
Ainda com esse corpo!
Garota, escute suas tias!
Você já tem quase dezoito!

Trinta e sete...
Trinta e oito...
Trinta e nove...

Não tem nada de especial em você,
Você é comum!

Quarenta...
Quarenta e um...
Quarenta e dois...

Nesses últimos tempos, só há tempo de se ajoelhar em frente ao sanitário.
Com os braços envolvendo a barriga,
Você precisa de um manto quente,
Mas só tem líquido fervente.

Quarenta e três...
Quarenta e quatro...
Quarenta e cinco...

O ácido da bile em suas mãos ferve...
Sua pele amolece...
Seu corpo estremece...

Quarenta e seis...
Quarenta e sete...
Quarenta e oito...

Nessa contagem você perece,
Coloque uma maçã junto a seu chá que emagrece,
Mescle suas intenções e faça delas um disfarce,
Se mostre natural, enquanto seu corpo se despede.

Quarenta e nove...
Cinquenta...
Cinquenta e um...

Seu estômago virou mais uma vez,
Eles dizem que você é perfeita,
Você sorri desconcertada e retribui,
Porque sabe que ninguém acredita em nada que (você) diz.

Cinquenta e dois...
Cinquenta e três...
Cinquenta e quatro...

Seus joelhos estão machucados de tanto ficar ao lado da privada?
Desculpe, mas a pia já está estragada;
Você tem noção do quanto de água foi desperdiçada?

Cinquenta e cinco...
Cinquenta e seis...
Cinquenta e sete...

Bochechas avermelhadas,
Olhos encharcados,
Boca inchada.

Cinquenta e oito...
Cinquenta e nove...
Sessenta...

O que você acha de dizer à sua mãe que sobre seu corpo ela está enganada?
Me disseram que seu corpo é perfeito, mas a barriga o estraga...
Você sabe que foram bons por não dizerem que você é toda errada?

Sessenta e um...
Sessenta e dois...
Sessenta e três...

Você ama os outros corpos,
Consegue distribuir amor a todos os seus,
Porque eles são belos e autênticos,
Mas porque não consegue dar amor ao seu?

Sessenta e quatro...
Sessenta e cinco...
Sessenta e seis...

A semana acaba e você chora sem remenda,
Com transparência...

Sessenta e sete...
Sessenta e oito...
Sessenta e nove...

Faz de tudo para se manter,
E se perde no viver...

E finaliza em setenta.