As mágoas celeste

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A dança continua e Ben nem percebe que Evie já tinha ido embora do baile, além de Uma ele dançou com mais quatro ou cinco moças, sempre procurando a jovem azulada com o olhar, mas ainda achando que ela estava só fora do seu campo de visão. Carlos e Jay até quiseram ir junto a amiga, mas Audrey garantiu que não deixaria ela enquanto não soubesse que estava bem e só depois voltaria para o baile se ainda houvesse tempo, os dois se olharam e confiaram na garota, desde o ocorrido com Mal Audrey vem genuinamente tentando mudar. Ao fim da última dança, pelo menos temporariamente, Ben viu os pais, alguns amigos com sorrisos amarelos, mas não viu Evie.


— Onde ela está? — A pergunta era óbvia para a mãe. — Não vi a Evie durante toda a dança, ela saiu meio estranha, aconteceu algo?


— A senhorita Grimhilde não se sentiu bem e foi embora. — Foi a Fada Madrinha quem respondeu. — Mas ela foi na companhia da Audrey e do Harry, então está tudo bem.


— Claro que não está, eu vou atrás dela agora. — Ben deu dois passos até ser interrompido por alguém. — Pai, me deixe passar.


— Não, você tem deveres como rei e estar nesse baile é um deles. — Os olhos de Adam até brilhavam como se ordenasse aquilo a Ben. — A sua coroa e seus deveres vem antes do seu coração, achei que tivesse te ensinado isso.


— Não diga bobagem. — O revirar de olhos foi imediato. — Ela é minha amiga e não está bem, que tipo de rei eu ...


— O rei que confia em seus amigos, a Fada Madrinha já disse que Harry e Audrey estão com ela. — Bela tomou a frente interrompendo Ben e se colocando entre o marido e o filho, o segurou pelo blazer arrumando sua gravata. — Agora vá lá e dê seu melhor sorriso, amanhã cedo você vai ver a Evie, ela também precisa descansar.

Ben não teve muito o que fazer a não ser obedecer a mãe, não por ela ser a mulher que havia dado à luz, mas por Bela ter a total razão no que dizia, os seus deveres reais deveriam vir primeiro, mesmo para Evie e seria o certo, além de que Audrey e Harry estavam com ela agora, tudo daria certo. O rei não conseguia dar um sorriso, mas a cara amarrada tinha sumido para dar lugar a uma mais cordial e amigável, não dava para simplesmente forçar a felicidade quando a preocupação era mais evidente.

No caminho de volta para o chalé de Evie o silêncio permeou por um bom tempo, o carro era guiado por um motorista, Harry comia algumas bobagens na limusine sob o olhar sério de Audrey enquanto Evie encostava a cabeça no vidro e ficava calada, ela tinha pensado tanto tempo nessa noite para finalmente estraga-la daquela forma, ela mesmo não se perdoava por isso, sentia até o nó na garganta só de pensar em como se desculparia com Ben depois pelo que fez, Mal com certeza não se sentira orgulhosa por ela, mas agora já era tarde.

— Tem certeza que não quer que fiquemos por alguns minutos? — A voz de Audrey chamou a atenção de Evie que piscou algumas vezes.

— É, até você dormir talvez, parece cansada. — Harry respondeu, Evie quase nunca via o pirata se preocupar.

— Eu estou bem, sério, podem ir. — Ela forçou o sorriso segurando o vestido. — Digam a Fada Madrinha meu estado para ela não se preocupar.

— Ok, a gente fala, boa noite. — Audrey respondeu fechando a porta do carro.

A garota tomou um longo banho depois de tirar o vestido, muito mais para tirar aquele cansaço do corpo do que para qualquer outro fim, Evie estava exausta em diversas maneiras e mesmo tentando aparentar animação todos os dias e acumular mil funções era evidente que ela ainda não estava bem. Após vestir o seu pijama e aninhar-se embaixo das cobertas, a única coisa que iluminava o quarto era o abajur no criado ao lado da cama, até mesmo as pesadas cortinas estavam fechadas.

A de Evie tocou o porta-retratos ao lado do item que iluminava o ambiente, a foto dela com vários amigos na Auradon Prep, os dedos deslizavam calmamente por cada rosto e cada sorriso de animação, era uma época em que todos estavam felizes e quando ela repousou o indicador próximo a Mal e Ben uma lágrima tocou o vidro, ela percebeu que estava chorando novamente pela amiga, não tinha como superar Mal Bertha tão fácil, não importava os dias e as semanas, os acúmulos de função e os eventos, a amiga não estava lá.

— Eu sinto tanto a sua falta. — Ela murmurou baixo se aninhando ao travesseiro.

Grimhilde não demorou a dormir, talvez o cansaço coletivo embalasse seu sono, ela não sonhou nada, apenas um vazio negro que parecia mais e mais angustiante a cada momento, o seu sono leve no entanto a fez acordar horas depois quando a luz que iluminava seu quarto foi apagada e o click do abajur não passou despercebido por ela, Auradon era sempre muito segura, mas isso não significava que ninguém fosse invadir sua casa, aquela noite haviam pessoas da ilha lá e mesmo que ela acreditasse que alguns eram muito bons, outros ainda tendiam pra maldade.

— Quem está aí? — Ela perguntou se encolhendo nas cobertas. — Eu tenho uma arma.

— Um porta-retratos? — A voz perguntou ligando a luz novamente. — Vai ter que fazer melhor, Evie.

— Ben?! — A garota respirou aliviada ao ver que era só o rei. — Como você entrou aqui?

— Vim ver como você estava, a porta da cozinha estava aberta, não destrancada, aberta mesmo, fiquei com receio de alguém ter entrado e vim verificar se você estava no quarto mesmo. — Ele se sentou em um banco próximo ao criado. — Os guardas já vasculharam todos os cômodos, está seguro.

— Ainda bem. — Ela se sentou aos poucos na cama. — Como foi o baile?

— Não teve graça sem minha bela dama. — Ben via nos olhos dela que ela estava triste, queria poder animá-la. — Foram só os trâmites sem graça nenhuma, sério.

— Me desculpe por ser um fracasso total e ir embora daquele jeito. — Evie rapidamente levou a mão ao rosto contendo as lágrimas. — Desculpa mesmo, Ben. Falhei com você.

— Ei, ei, não faça isso. — Benjamin se levantou rapidamente sentando perto dela na cama.

Primeiro ele envolveu Evie com um abraço para deixa-la confortável, ele como rei deveria estar lá, mas ela não tinha a mesma obrigação, o baile estava impecável justamente porque Evie se esforçou, ela só não pode estar lá durante uma parte dele, não era errado, não tinha sido prejudicado por isso, ela não tinha que se culpar definitivamente. Eles permaneceram assim por alguns minutos, não falavam nada só ficavam abraçados esperando que Evie parasse de chorar aos poucos.

Quando notou que ela tinha enfim parado de chorar, Ben separou-se dela segurando as duas mãos de Evie e olhando-a nos olhos, novamente aquela sensação estranha que tivera ao encará-la quando a garota lhe pediu ajuda com o vestido, ele não sabia o que estava acontecendo consigo por achar aquela menina tão linda e tão de repente, mas só continuou a olhá-la, ela era gentil, doce, prestativa e estava magnífica até com os olhos molhados de lágrimas.

Já Evie sentia o nó na garganta sob o olhar do rei, assim como as bochechas coradas, o leve mordiscar de lábios veio com o desviar de olhos, mas ela não soltou as mãos de Ben, na verdade as apertou por mais alguns momentos até afrouxar novamente, ela só não sabia como aquele estranho silêncio entre eles tinha se formado do nada, mas não poderia deixar de considerar como ele tinha ficado incrível com aquela barba e a atitude dele, Benjamin tinha amadurecido bastante nos últimos tempos.

— Você fez tudo ser perfeito, cada detalhe, cada coisa, não se martirize. — Ele tocou o rosto dela com uma das mãos. — Só foi perfeito pois você fez.

— Eu sei, mas ... — Evie não conseguiu completar as palavras, estava confusa com o que sentia, era muita coisa. — Só não queria que você ficasse chateado comigo.

— Não fiquei, só estou preocupado com você. — Os olhos de Ben ficavam nos lábios róseos dela enquanto percebi a aproximação involuntária.

— Obrigado por estar aqui, Majestade. — Ela respondeu olhando também os lábios dele e passando a língua pelos seus.

Eles não notaram, já que tudo parecia tão confuso a seus corpos, mas haviam acabado de se beijar, algo que parecia impossível a um tempo estava acontecendo, por todas as suas tristezas, angústias e pela admiração que sentiam um pelo outro, Benjamin Florian e Evie Grinhilde estavam se beijando e ignorando por alguns instantes tudo que vinha antes deles ou viriam depois, eles precisavam de consolo e encontraram por um momento nos lábios um do outro.

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