Capítulo Um

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A M A N D A

Eu e Henrique nos conhecemos na faculdade. Ele estava um semestre a minha frente. Sempre soube que ele era um mulherengo, mas depois de tanta insistência da parte dele, acabei cedendo e pior, me apaixonando. Depois do primeiro encontro, ele não desgrudou mais. Disse que havia se apaixonado por mim, vivia no meu pé e por fim me pediu em namoro.

Após tornar público o nosso relacionamento, a mulherada enlouqueceu. Passei a receber bilhetes anônimos dizendo que Henrique me traía, que eu era boba e precisava abrir os olhos. A princípio fiquei com pé atrás e até o seguia, mas nunca vi nada que o comprometesse. Então cheguei a conclusão de que era alguma invejosa querendo atrapalhar meu relacionamento. Ou ele não fazia nada ou fazia bem feito. Vou ficar com a segunda opção.

Concluímos nosso curso de Medicina — me especializei em Pediatria, pois amo crianças e Henrique em cardiologia e está entre os 10 melhores do país.

O maior desejo que tinha no momento era me casar, formar minha família e ter cinco filhos. Acho que pelo fato de ter crescido sozinha. Henrique não concorda muito com essa ideia de ter cinco filhos, mas vou acabar convencendo ele.

Venho de uma família, onde todos foram médicos. Meus pais, meus avós, os pais dos meus avós. Era um tipo de tradição permanecer na medicina e com isso ao longo dos anos fomos acumulando alguns investimentos como compra de terrenos e prédios. Uma boa parte dos prédios da pequena cidade que vivemos pertence a nós. Todos eles alugados, que nos rende uma boa quantia no fim do mês. Enfim, sou herdeira de uma pequena fortuna.

Eu e Henrique resolvemos construir uma casa, uma que fosse do nosso jeito, com a nossa cara, em bairro calmo e agora faltam apenas alguns detalhes e com isso fomos a uma loja de material de construção e decoração.

Acabei me distraindo com tantas coisas bacanas que podiam decorar nossa casa, e fui separando algumas e deixei Henrique com a vendedora comprando o que realmente precisávamos para finalizar a obra. Escolhi tudo o que queria e resolvi procurar meu noivo, mas antes precisei ir ao banheiro, pois estava apertada.

Enquanto vou passando pelo corredor, as luzes vão se acendendo, mas a medida que avanço, escuto vozes e gemidos de mulher. Caraca, não acredito que tem alguém transando em um banheiro "público"! Sorrio com a possibilidade de dar um susto nesses safados, pois aqui não é lugar para isso. Que procurem um motel! Mas ao contrário resolvo dar meia volta. Mas uma voz me faz parar. Uma voz que eu conheço.

Você é muito gostosa!

— Henrique? — Não, não pode ser.

Quase que inconsciente, viro meus pés na direção dos gemidos até que consigo vê—los. A mulher, a vendedora, está em cima da pia e Henrique, o meu Henrique está entre as pernas dela e suas calças estão arreadas até o chão.

Levei minha mão à boca, pois no mesmo instante meu estômago se contorceu e me dirigi à privada mais perto, colocando tudo o que estava dentro de mim para fora.

Ao ouvir o barulho, os dois se assustaram. Henrique se soltou da mulher, colocou as calças rapidamente e veio em minha direção:

— Amor, não é nada disso que você está pensando. — Ouvir sua voz, me fez vomitar mais uma vez. Ele deu mais um passo.

— Não chega perto de mim! — Vociferei. Ele pareceu não ter me ouvido, pois deu mais um passo. — Não chega perto de mim. — Disse mais uma vez, me levantando e limpando minha boca.

— Amanda... — Aquele a quem chamo de noivo choramingou.

— Não quero te ouvir. — Ralhei, tapando os ouvidos. —Nada do que você me disser vai me convencer de que você não estava agarrado a uma mulherzinha qualquer. — Não me permiti derramar uma lágrima sequer. — Eu sei o que eu vi. Tomara que seu pinto caia!

Saí pisando duro, de nariz empinado, sem nenhuma lágrima nos olhos. Minha mãe sempre me ensinou a ser forte, a nunca chorar na frente dos outros, pois isso é demonstrar fraqueza e foi exatamente o que eu fiz. Saí sem derramar uma gota de lágrima.

Fui em direção ao estacionamento, entrei no meu carro, pois o carro era meu e saí de lá. Dirigi sem pensar, sem ter rumo. Apenas entrei no carro e saí. Acabei parando perto de uma praia que para mim era a mais bonita da região, mas não hoje.

Como o tempo não está bom, pois chegou uma frente fria, a praia está vazia. Ondas enormes engoliam as pedras que margeavam a praia. Peguei uma trilha que dava ao penhasco e sentei na beira. Aí sim, sozinha, permiti que as lágrimas caíssem. Elas desceram como uma cachoeira. Uma onda de desespero pairou sobre mim e tudo o que eu sentia era agonia, agonia por estar viva.

Há dois anos perdi meus pais em um acidente de carro, ficando sozinha. Não tinha irmãos, nem tios e nem avós. A única pessoa que me restou foi Henrique. Ele era tudo o que eu tinha.

Lágrimas escorriam pelo meu rosto, o gosto do sal logo chegou a boca, substituindo o gosto amargo da traição e da solidão. Lembrar que a partir de agora estarei só, sem ninguém, faz o desespero chegar ao ápice.

Olhei as pedras abaixo de mim. Se eu morrer, tudo passará e nada mais me fará sofrer e sentir essa dor que me sufoca. Decidida a acabar de uma vez por todas com o que estava sentindo, me levantei e dei um passo à frente sem pensar duas vezes.

O Homem que me Salvou - Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora