Alice corria em direção aos armários da escola enquanto o garoto esbarrava entre as pessoas para tentar alcança-la. Os cabelos esvoaçantes de Alice roubava a atenção dos estudantes aglomerados nos corredores apena para si, o sorriso bonito enfeitando o rosto, o par de olhos brilhantes que pareciam sorrir juntamente com os lábios, em volta de si havia feixes de luzes de todas as cores, a aquarela parecia sonda-la naquele momento, estudando-a como o lápis do Garoto estudava o papel antes de esboçar os primeiros traços de algum desenho que apenas ele entendia.
Os braços fortes repletos de veias azuladas, os fios de cabelos negros acompanhando o vento que insistia em beijar a face morena tão bonita, esculpida a mão por deuses correspondentes a beleza. Sua blusa branca acomodava o corpo grande e seus jeans claros tornavam-o indiscutivelmente belo. Seu sorriso de dentes avantajados deleitava dos passos rápidos e brincalhões de Alice que em sua frente gargalhava tentando escapar, mas assim que seus braços enlaçaram a cintura da garota, não havia mais rendição, ela desejava estar envolva das mãos de dedos longos e alguns anéis delicados que faziam-na suspirar.
Como alguém poderia ter tido tanta sorte para abrigar um mundo inteiro como o da pequena e astuta Alice em apenas um abraço? O Garoto também não sabia, mas sentia-se feliz por poder admira-la detalhadamente assim tão perto de si, ele estudava-a como alguém estuda a arte. Repleto de sede, desejo, harmonia e louvor.
Os risos abafados pela mão pequena de unhas compridas faziam o garoto que possuía os olhos de estrelas sentir ainda mais vontade de rir, quem dera se pudesse sorrir para ela em todos os minutos de seu dia.
Eles possuíam essa conexão estranha como aquele dia quando surfava na praia e uma onda gigante quase o derrubou, Alice, mesmo com os olhos voltados para o lado contrário de onde se encontrava sentiu seu peito queimar em uma sensação nauseante. Nadou em direção ao Garoto e foi prontamente ajudá-lo, resgata-lo da maré alta que desejava afundar o corpo grande que a lembrava um abrigo, um lugar para descansar. Não havia espécie de segredos que não pudessem ser compartilhado entre eles, a maior parte do tempo que passavam juntos, iam em direção a seu próprio paraíso, um universo particular que prontamente os abrigava e fazia Alice navegar nos olhos de estrelas, enquanto o Garoto navegava no corpo pequeno que tanto desejava afundar.
-Precisamos conversar urgente, algumas coisas estão saindo do controle, eu estou falando sério, está tudo confuso- A voz de Jimin saiu chorosa e preocupada no telefone enquanto tentava manter a situação sob controle, precisava apenas esclarecer que Alice está cada dia mais perto da verdade
-Me encontre atrás do prédio abandonado da escola em quinze minutos
Jimin estava andando em direção ao prédio abandonado que havia na parte traseira de sua escola, o prédio antigamente era onde funcionava às aulas de artes, mas como agora havia um estudio ao ar livre, o departamento havia se instalado em outro local deixando o compartimento vazio. Jimin tentava manter a calma, havia saído escondido no meio da aula de matemática apenas para se encontrar com o Garoto Problema como assim chamava. Algumas coisas precisavam ser ditas.
Jeon, ou o Garoto Problema, como assim chamava, estava a sua espera com sua costumeira jaqueta de couro, calças pretas com alguns rasgos no joelho e botas pesadas, ele estava sentado ouvindo música em seus fones enquanto esperava o melhor amigo de Alice com novidades, e céus, ele não precisava de más notícias, mas era justamente isso que o menino vinha lhe contar
-Temos mais notícias- Jimin disse sem rodeios sentando-se ao lado de Jeon no chão empoeirado
-Eu estava contando que você não me falasse isso- Jeon disse sem levantar o olhar
-Alice encontrou uma espécie de diário e tecnicamente esse diário contém relatos de todos os dias que vocês passaram juntos
-O quê? Então a essa altura ela já sabem quem sou e o que fomos
-Não, parece que esse diário não revela o nome de ninguém
-Qual o sentido de escrever um diário se você não escreve o nome de quem está falando?
-Eu não sei, não entendi o propósito também, mas demos sorte
-Ela não irá suspeitar de mim, está tudo bem- Jeon deu de ombros indiferente a situação
Os olhos de Park aumentaram de tamanho enquanto um tom escarlate tomava conta de seu rosto
-O quê você quer dizer que está tudo bem? Não está nada bem, Alice está cada vez mais perto a verdade, eu tenho que olhar para os olhos dela todos os dias e despejar mais uma dúzia de mentiras, tenho que fazer com que ela pense que é louca apenas para acobertar as suas mentiras enquanto eu, o melhor amigo dela, estou destruindo não apenas a confiança dela mas, também meu emocional sabendo que todos os dias eu vivo uma mentira
-Qual é, está tudo bem, fica calmo, tá legal? Não tem outra saída
-Qual é? "Não tem outra saída"? É só isso que tem a me dizer? Grande babaca você. Vá para o inferno com as suas saídas, eu estou farto de suas meias verdades repletas de mentiras
-Me escuta Jimin, nós chegamos até aqui com isso, não podemos simplesmente pular fora do barco ou mudar os planos, para quem conviveu sobre a dúvida por tantos meses, é possível que possa crescer acima disso
-Garotão, acorda! As coisas estão ficando sérias e a única coisa que você faz é me trazer para esse lugar mofado trajando sua roupa de motoqueiro com esse cigarro nos lábios e agindo como se o mundo fosse um lugar perfeito? ACORDA!
-O quê eu ganho agindo como se o mundo fosse acabar amanhã? Não vai, ou talvez vá, não sei, você está gritando nos meus ouvidos, eu não sou surdo
-Jeon, seu babaca, eu nem sei porque ainda conto com você
Jeon dá de ombros, alheio a situação que ele mesmo se meteu. Pouco sabem, mas o silêncio e a postura arrogante e desinteressada que persistia em sondar aquele garoto como uma segunda pele, uma nova casca, poderia não somente ferir, mas também matar lentamente, dia por dia qualquer resquício de alegria que insistisse em morar em seu coração machucado
Alice estava estranhando o comportamento de Jimin. Primeiro havia agido com desdém e falsa graça sobre o seu físico, depois tornou-se desinteressado, até certamente envergonhado em ouvi-la contando sobre o que havia lido, agora ele estava tratando-a de maneira fria, quase infantil, e por último simplesmente desapareceu da sala de aula e não voltou até então. Ela não fazia ideia do porque daquela situação estar cada vez mais complexa e sempre se manter tão longe da verdade, aquilo estava intrigando-a e também a decepcionando, seu amigo parecia esconder algo de si e pouco disposto a falar sobre isso, não havia como argumentar, se quiser respostas teria que buscar sozinha, mas nem ao menos sabia por onde começar. Seu diário estava lhe parecendo um lindo romance, Alice e o Garoto Misterioso estavam ainda mais envolvidos, partilhando de um mundo particular que ela mesmo em uma daquelas linhas descrevera como "um infinito céu de sensações, poderíamos voar eternamente em nosso mundo vasto e colorido" embora soubesse que sua personagem fora enganada, seu mundo colorido era finito e efêmero, temia ter chegado ao fim.
Ela precisava de ajuda, de alguém que pudesse traçar uma rota, a ajudá-la mapear os caminhos que teria que percorrer caso quisesse desvendar os mistérios que assombravam-na, mas quem? Quem estaria disposto a se arriscar e embarcar nessa aventura com ela? Seu melhor e único amigo estava descartado, ele mesmo parecia esconder partes de si, então quem...quem...quem
Alice gritou "Eureca" enquanto seus olhos se iluminavam, era quase uma cena engraçada de desenhos, arriscava que havia uma lâmpada acesa no centro de sua cabeça. Ela sabia perfeitamente quem adoraria um bom mistério com pinta de um romance fajuto, iria telefonar para seu novo ajudante assim que se livrasse dessa aula chata, mas no momento Srta Morellos olhava-a de esguelha como quem sabia que iria aprontar, já poderia ouvir seu parceiro metido a Sherlock dizer "está com cara de quem vai aprontar"
Talvez, sua busca tenha apenas iniciado, Alice sabia ainda estava longe do fim
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Par de Estrelas Sem Nome
RomanceOs verões da Califórnia são resquícios de ousadia, aventura, liberdade e vibrações, e através de um pequeno impulso do destino duas almas se cruzaram explodindo em cores quentes e frias, tonalidades eternamente marcadas em suas vidas, e nem mesmo a...