V. 'em

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 A bateria exaustiva de ônibus e shows chegara ao fim após o período de um mês. Fui para minha casa, que ficava no mesmo bairro que a de Fred. E, como prometido, ele bateu na minha porta para uma visita.

 Abri e mal tive tempo para raciocinar quem era, ele avançou em minha boca com um beijo daqueles que aguentava há muito para se fazer presente ali. Todo o desejo contido se despejava. Ele estava matando a sede diretamente na fonte mais almejada. 

 - Eu acho que nunca senti tanto a sua falta estando perto de você. - Sussurrou e sorriu.

 - Obrigado por vir, Freddie. Muito obrigado. - Lhe abracei forte, tranquei a porta. Enterrei o rosto em seu pescoço. - Ei, eu te escrevi uma música! - Segurei seu pulso conduzindo-o pelo corredor até chegarmos à sala. Coloquei os papéis de composição em seu colo.

 - Uma música! Para mim! Meu amado, não precisava! Você é tão precioso, John Deacon. - Desviou o olhar para o papel. - You're My Best Friend! Vai estar em nosso próximo álbum. E ele será grande. 

 - Não acho que seja necessário colocar no álbum.

 - Ora, uma declaração de amor disfarçada dessas! É tudo que a rainha necessita. E vou me deliciar cantando. Estará no álbum, e sabe que não pode arrancar isso da minha cabeça. - Sorri com o ânimo que acompanhava a voz de Freddie, era contagiante. - Você é um menino maravilhoso. E fica ainda melhor quando sorri. Minha descrença em anjos é brutalmente contestada nestes momentos.

 - Pare de me exaltar.

 - Eu sei que você se derrete.

(...)

 Ele entrelaçou seus dedos de unhas pintadas com esmalte preto nos meus. Talvez fosse o primeiro momento em que tínhamos a absoluta liberdade para fazermos qualquer coisa. Poderíamos colocar a casa abaixo. Mas apenas deitamos na cama e apreciamos a presença um do outro.

 - Eu posso dormir aqui? - Indagou-me. E já era realmente tarde quando observei o relógio em meu pulso.

 - É claro, Freddie. 

 Lhe preparei um chá com sanduíches de queijo para que não dormisse de barriga vazia, organizei o quarto de hóspedes, lhe dei um beijo de boa noite e fui para o meu quarto me preparar para dormir.

 Tinha comigo a certeza de que ele iria bater na porta às duas ou três da manhã, com cara de cachorro abandonado, pedindo para dormir ali como se tivesse medo de dormir sozinho. Mas tudo bem, não havia problema, era um ritual do qual me sentia privilegiado em poder participar. 

 E assim foi.

 O moreno apareceu na porta pela madrugada, me agarrou na cama como se eu fosse um urso e dormiu profundamente.

 - Fred? - Minha voz invadiu o silêncio do quarto, interrompendo seu cochilo.

 - Sim?

 - Eu sou seu menino. - Sussurrei.

 Ele abriu os olhos e me deu o sorriso mais belo que a luz vinda da rua poderia estar iluminando.

(...)

 Nosso período de folga se resumiu em longas noites de proveito, retornando tarde dos shows em porões de faculdade, gargalhando pelas ruas gélidas e úmidas, por vezes nos encontrávamos sob chuva ou neblina. Os moradores solicitavam silêncio, completamente indignados com nossos ruídos escandalosos, e Fred pedia suas mil desculpas ao "querido" ou "querida" que apontasse na janela.

 Entrávamos em salas de aula vazias, banheiros, nos fundos das faculdades e fazíamos o que fosse possível com um pouco de roupa. Freddie admirava minhas habilidades manuais. Eu nunca lhe masturbava apenas para fins de prazer, era maravilhoso vê-lo naquela agonia que o tesão trazia a seu corpo. E ele se vingava de mim utilizando a boca.

 Àquela altura do campeonato já me sentia convicto de que jamais poderia encontrar alguém com quem partilhar tanto desejo carnal, mas também tanto carinho. Tanto pecado, tanta inocência.

 E, de fato, nunca encontrei.

(...)

  

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