VII. part II

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Estava sentado numa cadeirinha em meu camarim, a cabeça encostada na parede, olhando para o nada, milhares de reflexões na cabeça. Roger me encarava no outro canto do cômodo enquanto ajeitava seus cabelos dourados.

 - Ei, Johny Boy! - Me trouxe à realidade novamente. - Tudo bem? Parece estar em outro planeta.

 - Tudo bem, Rog.

 - É Veronica? 

 - Também. 

 Algumas batidas na porta nos interromperam. Era Freddie segurando um colar e pedindo ajuda para alguém fechá-lo em seu pescoço. Me prontifiquei em ajudar com aquela missão, passei seus cabelos cuidadosamente para o lado, estavam especialmente bonitos naquela noite. Roger sempre nos observava com um fascínio esquisito e engraçado estampado no rosto.

 - Seu cabelo está cheiroso. Parece morango. - Sussurrei e ele sorriu se virando, olhava bem dentro de meus olhos.

 - Eu tomei a liberdade de roubar seu shampoo. - Alinhou minha sobrancelha. 

 - Que bonitinhos. - Rog tinha o queixo apoiado nas duas mãos e sorria de leve.

 - Não é? - Fred disse convencido. - Eu precisava dar um beijo nele.

 - Ah, por favor, tome essa liberdade também. - O loiro abanou a mão para prosseguirmos. Mas Freddie estava sem jeito de fazer aquilo com ele vendo. E eu também. 

 Então apenas dei um beijo rápido em sua testa e o despachei sorrindo. Ele beijou minha bochecha e abriu a porta para sair.

 - Ah, é mesmo. Aquela menina, sabe? Que parece sua irmã. - Meu coração gelou.

 - Veronica? - Perguntei e Roger me encarou com os olhos arregalados.

 - Eu não sei o nome dela, querido. Mas é a que beijou minha mão. Ela está com Mary, as duas estão bebendo refrigerante no bar. Uns amores.

 - Você gostou dela, Freddie? - Rog se aproximou de nós. 

 - Ah, sim, ela é um doce. Conversamos bastante quando fui cumprimentar Mary. 

 Freddie parecia realmente entusiasmado com Veronica. Eu não sabia se aquilo me aliviava ou aterrorizava. Meu desejo legítimo era que continuassem se gostando. Era tão bom vê-lo encantado daquela forma com alguma pessoa ainda pouco conhecida.

 E os dois realmente se gostavam. Talvez fosse uma das ironias do universo, jogando aquela harmonia toda em meu rosto para depois varrê-la completamente, como se nunca houvesse ocorrido absolutamente nada. Uma piada de muito mal gosto reunindo o homem pelo qual eu vinha nutrindo um amor que jamais havia antes sentido ou oferecido e a mãe de meu primeiro filho. Os dois realmente aproveitavam a presença um do outro. Eu não queria, e talvez nem mesmo permitiria, que nada me arrancasse aquilo.

 Com frequência Veronica marcava presença em nossas festinhas de banda, em nossos chás, nossos encontros e shows. Fred já sentia a liberdade de convidá-la para tomar chá com nós dois em minha casa e comprar roupas, esmaltes pretos, colares e brilhantes. Quando ela sumia eu precisava escutar seus questionamentos, amenizar seu tédio.

 - Johny, estou achando que Veronica está grávida. Aquela barriga certamente carrega um ser humano dentro. 

 E, então, ele lançou a bomba.

 - Ela está mesmo, Fred. 

 - Ora, mas isso é maravilhoso! Por que ela não comentou comigo? Talvez não sinta conforto suficiente. - Ele enrolava meus cabelos nas pontas de seus dedos e observava meu rosto enquanto falava. 

 - Talvez ela quisesse manter segredo por um tempinho a mais.

 - Então vou ficar quietinho. 

 Lhe apertei forte contra mim e ele retribuiu aplicando ainda mais força.

 - Meu Deus, você tem uma força do cacete escondida. - Disse assustado e ele gargalhou bastante. - Obrigado por existir nesse momento, Freddie Mercury.

 - Vou existir eternamente pra você, meu querido. - Encostou o dedo indicador em meu nariz. 

 (...)

Virgo.Onde histórias criam vida. Descubra agora