VII. part V

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 Na tarde de segunda fomos ao escritório de nosso agente para que os detalhes do vídeo fossem acertados. Enquanto estávamos em reunião, Paul bateu à porta e chamou por Fred. Ele sempre causava reviravoltas em meu estômago apenas com sua presença. Nunca me passara uma boa impressão. 

 Os dois caminharam silenciosamente até um ponto do corredor no qual Paul julgou suficientemente vazio para que pudessem conversar.

 Eu não conseguia me concentrar nas palavras de nosso agente. Minha mente estava lá fora com os dois.

 - Por que achou que seria boa ideia viajar repentinamente neste final de semana, Freddie? - Paul indagou acendendo um cigarro. Sua postura parecia ameaçadora, mas Fred não tinha medo de nada.

 - Porque nós quatro precisávamos descansar.

 - Estão andando muito cansados.

 - O que você está insinuando?

 - Eu estou insinuando que precisam parar com essas frescuras e ficarem na cidade para os ensaios! Precisam fazer shows! - Disse erguendo o tom da voz.

 - Você quer saber? Que se fodam os shows! - Fred berrou mostrando os dedos feios para Paul. - Estão arruinando nossas vidas pessoais. Para o inferno com isso! - Paul deu um tapa em seu rosto diante da resposta malcriada e, então, Freddie lhe revidou com um soco. Nunca se conteve em nenhum aspecto, afinal.

 Através das portas e paredes de vidro era possível notar um desespero geral se instalando no corredor, saímos correndo dali diante de berros odiosos e insultos sendo disparados. Brian e nosso agente tentavam retirar Fred de cima de Paul, que estava tomando uma surra ferrenha. Quero dizer, até mesmo na parede haviam espirros de sangue. Passados alguns segundos, eu, Brian, Roger e nosso agente conseguimos separá-los. Fred também carregava sua parcela de hematomas, sangue escorria de seu nariz e dois cortes pequenos agora acompanhavam sua sobrancelha e o lábio inferior. 

 - Vá para sua casa. - Disse o agente, simplesmente. - E estou falando com os dois.

 - Vocês estão acabados antes mesmo de começarem! Seus bichas! - Paul esbravejava fuzilando-nos com o olhar, quase enfiando o dedo indicador dentro de nossos rostos, talvez quisesse deixar bem claro aos demais presentes. 

 - Vá para sua casa, seu filho da puta! - Roger berrou. Paul lhe dirigiu um insulto e saiu pisando duro pelo corredor. 

 As pessoas ao redor encaravam a mim e Fred com certa desconfiança no olhar, mas aquilo era mero detalhe diante da briga. Todos rapidamente se dispersaram com seus papéis, retornando às funções normais em total silêncio. 

 - Você acha que sentirá muita dor se os hematomas forem cobertos com maquiagem? - Nosso agente questionou a Freddie enquanto apoiava a mão em um de seus ombros.

 - Eu aguento qualquer coisa para fazer esse vídeo acontecer, meu querido, não seja ingênuo! Ora, que cuidadoso!

 Fomos todos caminhando rumo ao apartamento de Fred. Um grande silêncio consumindo boa parte do trajeto.

 - Nunca fui muito com a cara dele. - Rog decidiu lançar as primeiras sentenças.

 - Tenho minhas preocupações. Ele estava bem nervoso. - Brian admitiu enquanto estalava os próprios dedos tomado por uma certa ansiedade. Ansiedade essa que consumia a todos nós. Roger concordou e amaldiçoou Paul bem baixinho. 

 - Meus amores, por favor! - Fred os advertiu. - Nada será feito. Esta é uma preocupação desnecessária. 

 - Nada será feito contigo. - O loiro disse com deboche na voz. - E quanto a nosso querido Deacon? - Indagou apoiando as mãos em meus ombros, me sacudindo. 

 - Ora, Rog! Freddie é capaz de cometer um homicídio contra quem fizer algo ruim à Deacy. Sabemos disso. - Brian disse, rendendo uma bela gargalhada coletiva.

 Fiquei com Freddie no apartamento, a seu pedido. 

 Subimos intermináveis lances de escada, abri a porta e ele se jogou no sofá resmungando de dores. Distribuí cubos de gelo numa toalhinha, me sentei a seu lado e coloquei a compressa onde ainda havia sangue. Ele me encarou, aquilo sempre me deixava sem jeito. Então, o telefone começou a tocar escandalosamente. Atendi.

 - John? O que está fazendo no apartamento de Freddie? - A companheira de Veronica indagou.

 - O que está fazendo ligando para o apartamento de Freddie?  - Quem é? - Ele questionou.

 - Eu ouvi a voz dele. Veronica pediu para ligar.

 - Por que? Ela está bem? Aconteceu alguma coisa?

 - Como se você desse a mínima! - Ela zombou.

 - Eu dou a mínima! - Protestei já perdendo a paciência. Aquela mulher não gostava de mim e estava numa missão para fazer o sentimento ser recíproco. 

 - A bolsa se rompeu. Ela está em trabalho de parto e seu filho pode chegar ao mundo a qualquer momento. - Encaixei o telefone no gancho. Estava desesperado por dentro, mas mantinha as aparências por fora.

 Me sentei no chão com a respiração já descompassada. Freddie avançou em minha direção preocupado, perguntando o que estava acontecendo. 

 - Robbie. Ele vai nascer. - Tampei o rosto. 

 - Oh, meu Deus! Isso é maravilhoso! Você está quase morrendo. E não queremos uma criança órfã, Johny! - Ele correu para o telefone, ordenando que Roger nos desse uma carona.

 O loiro chegou às pressas com Brian, ambos me parabenizavam. Estavam todos muitíssimo animados e eu entrando em pânico, quase numa posição fetal. Despachei todos para fora do apartamento e tranquei a porta para que pudéssemos ir. Eles correram escada abaixo, fazendo uma histeria, completamente tomados por alegria enquanto eu estacionei na porta, segurando a maçaneta com força, engolindo seco.

 - Johny Boy! - Roger apareceu com os braços abertos. Carregava empolgação na voz.

 - Vamos lá, John. - Brian dizia delicadamente.  - Vamos, querido. - Freddie segurava minhas mãos, me puxando. 

 Entre "vamos", "precisamos ir", "o menino vai chegar ao hospital antes de você", fomos. 

 (...)

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