VOCÊ MATOU ALGUÉM E OUTRO CONTOS

A RAZÃO DO POR QUÊ

Eu nunca soube definir a diferença do bem e do mal, como também nunca entendia o real significado da vida. Sempre gostei de filosofia, mas nasci em família extremamente religiosa e não podia questionar sobre meus pensamentos, diante disso colecionei frustrações e indagações, certa vez vi uma frase de Schopenhauer que me chamou atenção '' Se olharmos a vida em seus pequenos detalhes, tudo parece bem ridículo. É como uma gota d'água vista num microscópio, uma só gota cheia de protozoários. Achamos muita graça como eles se agitam e lutam tanto entre si. Aqui, no curto período da vida humana, essa atividade febril produz um efeito cômico. '' De fato, nós seres humanos somos assim, estamos acostumados com o que nos foi dado, causando gargalhadas. Não me lembro bem como aconteceu, só sei que estava apressada para uma palestra de um professor da Universidade com doutorado em filosofia, isso me agrada muito, e levei um tombo, na verdade não me lembro se foi um tombo, apenas lembro da frase que escutei em seguida ''Quanto maior é a sede, maior é o prazer em satisfazê-la.'' Foi tudo muito rápido e cá estou, diante de dois loucos que dizem ser a representação do bem e do mal: Deus e Samael ou melhor Senhor L.

- Sim, estamos aqui, foi você que pediu a gente aqui. Ainda não sei como vir parar aqui. – Falou Senhor L com os olhos mais dourados e tentadores do universo.

- Vocês querem que eu acredite mesmo que acabei de morrer e tenho que decidir se quero ir para o paraíso ou para o inferno? Pensei que fosse mais emocionante!

- Criatura, você pediu respostas, não pediu? E eu, o Lorde das Trevas, o Cavalheiro Soberano, O Magnata do Poder, tirei uma hora do meu tempo para te responder e... – Escutei torces forçadas ao fundo.

- Samael, seu egocentrismo te prejudica. Minha cara Jadis, você é uma das minhas promessas mais bonitas – Lúcifer revirou os olhos – Só que você é muito ansiosa, você quer respostas das quais nem eu mesmo sei dar, por isso eu vim até você e trouxe meu filho mais rebelde. – Deus falava sério – Você como os outros filhos da Terra, querem respostas para tudo, uns acabam enlouquecendo, outros tirando a própria vida, alguns deixam de acreditar em mim. Mas pessoas como você, não desisti. É de pessoas assim que eu preciso... – Escuto choro forçado e alguém assoando o nariz.

- É tão comovente. A última vez que chorei assim foi... an.... não. Não vou confundi-la mais. Pode voltar Papai.

- Vocês são loucos. Por que estão fingindo ser Deus e di... – Samael olhou para mim ameaçadoramente – Samael? Vocês devem ter fugido da ala psiquiátrica. – Levantei rapidamente. Quando percebi que meu corpo mantinha-se ainda deitado e eu estava em pé, dei um grito. Samael riu – O que aconteceu comigo? Por que estou assim?

- Seu corpo está inconsciente, monsieur. – Samael falava tranquilamente. Deus se levantou e tocou em mim acompanhando-me de volta para a maca.

- Calma minha filha, tudo ficará bem! Você implorou por perguntas, apenas viemos respondê-las. – O grande homem de olhos de nuvem me observou deitar novamente.

- Por que vocês responderiam as minhas perguntas? – perguntei.

- Quantos por quês. Não sei como você consegue viver. – Samael falou e continuou – Não conseguiria dividir o mesmo espaço com filósofos. Vocês iriam me enlouquecer! – Deus riu – Qual o motivo da risada?

- Ai Samael, você chega a ser cômico, mas o objetivo central não é você e sim Jadis. Estamos aqui por ela e, por favor, pare de achar que é o sol. – Jadis riu.

- Não é você que falou que eu sou Estrela da manhã? – Samael ironizou – Portanto, tenho que da jus ao nome Papai do céu.

- Opa, vamos parar com isso? Parem de tantas brigas, vamos trazer a paz, não é isso que todos querem? – falei fazendo a pose de namastê. Deus e Samael olharam para mim. Abri os olhos e Samael foi em direção à mesa perto da porta, onde havia uma maçã, ele riu maliciosamente.