amor das antigas

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Esses dias vi um tweet de uma menina, eram as fotos das centenas de cartas que o avô dela escreveu pra avó, todas começavam com "Inesquecível Helena"

"A gente se contenta com muito pouco" a garota escreveu.

Eu sempre me pergunto como será que era a sensação. De ser amado na moda antiga. Como seria a sensação de conhecer alguém num parque, num café, numa livraria, dois olhares trocados, encontrados, coração acelerado. "Elx me escolheu" eu pensaria. "Dentre todas as pessoas neste cômodo, elx viu algo em mim, que só tinha em mim!"

Como seria ter um beijo roubado, as bochechas coradas, um encontro marcado, peito apertado no aguardo de um reencontro, o quarto cheio da presença daquela ausência. E debaixo do travesseiro uma carta que comece com "Inesquecível Helena".

Pensei já com tristeza: eu fico feliz quando me olham nos olhos. Será que antigamente quando não haviam celulares grudados em nossos corpos. Será que as pessoas se olhavam nos olhos?

Será que os beijos eram mais longos, com o anseio do toque e amargo da saudade?

Será que as conversas eram mais profundas, com a sede do conhecimento que só se encontravam em pessoas em enciclopédias?

Será que os amores eram mais verdadeiros?

Será que somos assim tão vazios...

sou?


Eu vou te escrever centenas de cartas que comecem com "Inesquecível", vou pegar dois ônibus num dia chuvoso, chegar encharcada na porta da sua casa pra ficar cinco minutos dentro do seu abraço. Do meu abrigo. Do nosso mundo, eu vou olhar nos seus olhos e te dizer todos os poemas toscos que conseguir lembrar

assim que você sair do celular e perceber

que meu amor anos 60 é woodstock

e está completamente nu para você

As Coisas Que Falo Com o EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora