Fünf #5

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Lá estava eu, de olhos vendados, em pé e descalça, no meio de uma sala ampla amadeirada dentro da casa, no endereço do qual fui informada a ir. Uma espécie de mordomo me conduziu a sala e me deu as instruções do que fazer para o teste. E lá estava eu, vestia uma meia calça preta e um body, ombros tentando relaxar.

Nunca gostei de coisas muito explicadas. Gosto da objetividade, se quer algo de mim me diga diretamente, e o principal, não dê voltas. Eu vejo a vida assim: preto e branco, sim ou não. Aquela situação por si só era assim.

Me pediram algo, eu fiz. Mas e agora? O que aconteceria? Eu jogaria aquele jogo até o fim, isto sim era certo, ou eu não me chamava Alana Tess.

Sinto uma espécie de vento vir por trás e uma música começa a tocar suave e baixo no ambiente.

Passos atrás de mim me deixam em alerta, porém a música me relaxa e me acalma. Seria a mulher que estava atrás de mim quando toquei Fantaisie, Gaia?

É tão boa na dança como é no piano?

E lá estava àquela voz, um tanto ríspida, em um alemão arrastado.

"Como respondo essa pergunta estúpida?" – foi o que meus neurônios cogitaram trabalhar.

Convenhamos que sou muito melhor dançando do que tocando. Aliás, eu não tinha técnica alguma no piano. Na dança, sim, era elaborada, fruto de estudo e dedicação de anos.

Mas por quê? Por que todo o encanto por eu tocar piano? Essa Gaia só podia ser louca mesmo. Estava em Viena para dançar e não tocar.

Serei boa no que quer que eu seja. ― respondi, afrontosa.

É mesmo? ― bradou a mulher com voz surpresa. ― Então fará o que eu pedir...

Isso era uma pergunta ou uma afirmação? Sua respiração estava quase ao pé do meu ouvido, porém, não me tocava.

A música terminou.

Vaganova.

O que?

Epaulement. ― continuava ela como se estivesse encarnando algum personagem.

Poderia ela ser mais didática que isso? Impossível.

Ela implorava ali por postura. As costas, sobretudo, deveriam ser algo importante para ela. Me alinhei, e uma nova música começa a tocar, um piano fúnebre numa marcha um tanto dramática e fria, que eu não me recordo ter ouvido falar.

Estou a sua frente, senhorita Tess. Irá executar a dança em Vaganova, sem me tocar em momento algum. Esta sala tem 90 metros quadrados e tem espaço de sobra, mas terá de finalizar aqui, onde começou, na minha frente, nenhum milímetro a mais nem a menos.

Filha da mãe! Ela é quem? Deus?

Como eu faria aquilo de olhos vendados? Tenho de admitir que a tal dona da voz ríspida me surpreendeu. De que filme ela tinha tirado isso? Ela quer uma dança perfeita, executada a olhos vendados e com um censo perfeito de GPS e localização geográfica?

Pois bem. Assim seja, Gaia!

Descrevendo sem termos difíceis de dança, iniciei um movimento de abertura, com as mãos espalmadas para baixo a frente do corpo, este estando levemente inclinado para a esquerda, pernas cruzadas, os pés em posição.

O que seria de mim e daquele "teste"? Só sabia de uma coisa: deveria finalizar ali a sua frente como ordenou "Deus".

Deus ordenou e foram criados os céus e a terra. Deus decretou e foram criados o dia a noite. Gaia ordenou e seria executado o que ninguém jamais havia pedido. E o pior: ninguém veria aquilo. Era só eu e ela. Se eu conseguisse terminar a seção e estar a sua frente na posição solicitada, quem garantia que o faria novamente?

Em VienaOnde histórias criam vida. Descubra agora