Sechs #6

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Não perguntaria se tinha me saído bem. Não haveria resposta.

A sala já deveria estar na mesma temperatura que fazia lá fora, em torno dos 5° e já nem sentia meus pés. Estava já começando a tremer.

É só isso?

Ela não respondeu, ao invés, retirou a venda dos meus olhos. A sala era iluminada apenas por um candelabro no centro e meus olhos não demoraram acostumar.

Gaia tinha os olhos negros, tristes, mas firmes e uma feição carrancuda similar a sua voz. Era sim uns centímetros mais alta que eu, mas nem tanto. Não era exatamente nova tampouco velha, tinha um ar de sofrimentos no rosto.

Só isso? Tem mais coisas para me mostrar? ― retrucou ela.

Como ela não estava tremendo eu não sei, mas eu estava, da cabeça aos pés. Confesso que não esperava aquilo, esperava mais dela, que cobrasse mais. Está certo que o teste que ela fez foi bastante difícil e ainda estava ali sofrendo de frio, mas pelo que havia lido, imaginava coisas piores.

Imagino que tenha lido coisas horríveis a meu respeito. ― afirmou Gaia com um leve sorriso de canto e debochado. Ela deu um passo atrás e cruzou as mãos atrás do pescoço. Me olhou dos pés á cabeça como se estivesse escolhendo o que fazer a seguir.

Eu não aguentava mais aquilo. Meu corpo tremia todo dos pés à cabeça.

Gaia então se afasta, alcança o controle do aquecimento e liga o aparelho central. Numa mesa ao canto ela pega um casaco felpudo e me estende.

Que Gaia era aquela afinal? Por que não me levava ao limite da dor e do sofrimento? E o que eu queria afinal? Deveria estar comemorando, mas confesso que ela ficou abaixo das minhas expectativas.

Ela percebeu minha cara de decepção.

Como termina isso? Assim?

Eu não a conheço e ela não me conhece, mas aquilo não era a Gaia que me pintaram.

Eu não vou te levar ao limite de nada, senhorita Tess. Se é isto que quer, sofrer em minhas mãos, não conseguirá. Desculpe.

Que vadia! Como ela assume assim que quero sofrer em suas mãos? Eu só queria entender.

Já aquecida e de frente para ela, agora com os braços cruzados, resolvo afrontá-la.

Eu não vim aqui para teste algum. Eu sou boa o suficiente para conseguir o que quiser e...

e então para que veio? ― Gaia começa a andar ao meu redor olhando em outras direções. ― Se é tão boa, porque veio para cá? Eu não aceito ninguém quando tentam a primeira vez, por isso está aqui. Você veio para cumprir a risca como tem sido, e você é uma exceção, deveria se sentir feliz. Não vá além disso.

e você é quem, Deus?

Gaia pára a minha frente com um olhar diferente, quente e assustador. Parecia ter raiva e ódio. Minha vontade era de cuspir em sua cara.

E assim o faço.

Gaia fecha os olhos, o cuspe descendo pela sua face. Ela retira um lenço do bolso e começa a se limpar lentamente sem fazer qualquer contato visual comigo.

O que ela faria eu não sei, mas eu, eu estava pronta para deixa-la ali sozinha falando ás paredes. Não daria certo dançar para essa mulher arrogante. Acho que ela me fez chegar ao meu limite mental.

Ela me olha com ódio, dá três passos á frente e com o nariz quase colado ao meu profere algumas palavras que não entendi e agarra o meu rosto com a mão direita, apertando minha mandíbula.

Meu olhar é o mesmo que o dela. Onde daria aquilo eu não sei.

Antes eu tivesse feito você sofrer como as outras.

Ela solta o meu rosto e abranda a face, olhando fundo nos meus olhos. Até que vejo remorso em seu olhar. Algo ali não estava correto. Ela tinha todas as razões para bater em mim ou me cuspir de volta. Ou até mesmo me beijar a força. Mas não. Ela parece estar com o pensamento em outro lugar, em um lugar bem distante.

Estaria ela arrependida de ter feito outras mulheres sofrerem para entrar em sua companhia de dança? Por que comigo era diferente?

Afinal, eu só queria ir embora.

Até que vejo uma lágrima soltar dos seus olhos. Ela volta a me olhar com o mesmo olhar de ódio e profere raivosa.

Amanhã no mesmo horário! Este será o seu teste final.

Eu poderia dizer adeus ao meu sonho de dançar na Gaia Institute, mas dane-se, dançar para essa mulher arrogante seria o fim do mundo. Eu não voltaria. Dei as costas e ela e parti.

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