Lia passou o dia esperando ver o Tristan. Ele não estava na sala de aula, não estava no refeitório, nem no parapeito do andar de cima. Ela passara o dia ansiosa esperando vê-lo, pois se isso ocorresse saberia que o que o Dr. Louis dissera na noite anterior era mentira. Ela desejava que fosse mentira.
- Lia, você está no mundo da lua hoje. – Caillin aproximou-se assustando Ophelia e interrompendo seus pensamentos.
Caillin colocou seu guarda-chuva roxo e com uma ponta de metal ao lado do sofá e sentou-se. James estava inquieto como sempre, andou de um lado para o outro. Então finalmente parou, olhou para o Ophelia e perguntou:
- Ophelia, você tem certeza que nunca morou aqui em Nova York? – Ele cruzou os braços.
- Tenho, falei para o Brad quando vocês me visitaram no hospital.
- Desculpa estar perguntando, é que tenho certeza que já te vi pela cidade.
- Eu realmente nunca morei aqui, James.
- Isso é irritante!! – James passou a mão na cabeça, preocupado.
- Como é?
- Não, não você. O fato de eu não lembrar de onde te conheço... você é familiar demais. – Ele sentou-se ao lado da Caillin.
- Não liga para ele, Lia... sério... – Caillin. Ela era sempre tão despojada, “não ligo para nada”.
- É que como responsável pelas contramedidas da sala oito, meu dever é manter todos em segurança.
Lia ficou um pouco confusa. Mais uma vez essa história de “sala 8”, o que um responsável pelas contramedidas fazia afinal??
- O que exatamente um responsável pelas contramedidas faz? – Lia perguntou confusa.
- Sou responsável por elaborar e executa contramedidas para proteger a classe.
-Proteger a classe? – Do que? Garoto doido. Lia pensou. Ela esperava achar uma desculpa para sair daquela conversa.
- Lia, quero que você entenda a situação em que a classe 8 está e as regras que temos que seguir. – James olhou nos olhos de Ophelia. Ela gelo.
- James! – Brad o interrompeu assustado.
- O que? – James falou bravo
Então James, Brad e Caillin afastaram-se um pouco da Lia, deixando-a só na área dos sofás. Eles estavam cochichando o que a deixava curiosa, ela tentou desviar sua atenção olhando para o espaço ao seu redor e buscou por uma saída. Até que ela finalmente o viu. Tristan!
Ophelia aproximou-se do grupo e sem olhar para eles despediu-se, estava completamente hipnotizada. Finalmente ela o seguiria. Eles olharam incrédulos e assustados; James rangeu os dentes. No que Ophelia estava se metendo?
****
Lia seguiu o Tristan por uns dois quarteirões. Ele atravessara a mesma avenida na qual Lia quase fora atropelada no dia anterior. Tinham muitas pessoas, mas Lia focou no garoto. “Não o perderei de vista”.Até que ele sumira por um instante. Lia entrou em choque. Para onde ela havia ido?? Não tinha como ele sumir daquela forma! Não tinha nenhuma saída, nada. Ela andou um pouco mais na esperança de acha-lo. Olhou para direita e uma loja em particular chamou sua atenção. Uma loja de brinquedos antigos. Na vitrine tinha uma boneca parecida com a qual Tristan tinha no elevador.
Ela respirou fundo e entrou na loja. A porta vez barulhos de sinos e seus olhos demoraram para se acostumar com a pouca luz. Ophelia deu uma olhada geral no local, um pouco empoeirado, cheio de brinquedos antigos e uma senhora no balcão que a encarava. O reflexo em seus óculos deixou-a arrepiada.
- Bem Vinda!- Sua voz era tremula. Lia deu alguns passos para traz e respondeu nervosa “Oi” – Fico feliz de finalmente ter uma cliente. Fique a vontade. – a velhinha voltou sua atenção para o crochê, deixando Lia de lado.
Ela andou um pouco pela loja, admirando os brinquedos de madeira, porcelana, eram tão delicados, provavelmente feitos a mão. Entretendo, eles tinham olhares assustados. No canto da loja tinha uma escada que dava no andar de baixo, ela pensou um pouco, mas logo desceu. Lá deparou-se com um boneco em tamanho real, ela deixou seu celular cair no chão.
- Ele é igual ao Tristan – assim que ouvira sua voz e o que dissera ela colocou a mão na boca. Estava espantada. Ela aproximou-se do boneco, que estava encostado na parede, e o tocou. Tocou seus cabelos loiros, loiro quase igual ao cabelo de um albino. Tocou seus lábios um pouco rosados e então encarou os óculos do boneco, os mesmos usados pelo garoto misterioso. Como ela tinha curiosidade de saber o motivo dele sempre os usar, ela o vira uma única vez sem eles, mas não conseguiu reparar muito bem, só sabia que eram azuis e um deles parecia de vidro. Ophelia levantou as mãos para retirar os óculos do boneco, fez isso cuidadosamente. Quando os tocou hesitou, por que diabos ela achava que isso mostraria como seriam os verdadeiros olhos do Tristan? Ela segurou-os e os retirou lentamente. E assim que pode ver o que tinha por traz espantou-se. Gritou e acabou deixando os óculos caírem no chão. Ela deu um pulo tão grande que acabou tropeçando em algumas caixas e caindo.
- Não tem nada. Nada – ela falou espantada.
- Nada.
Lia gelou, aquela voz. Ele? Ele estava ali? Seu coração começou a palpitar com velocidade. O ambiente ficou em silencio e ela conseguia ouvir os seus próprios batimentos. 1,2,3 acalme-se. Ela repetia para si.
- Quem está ai? – ela perguntou para o além. – Alguém?
Nenhuma resposta.
Ela ficou atenta a qualquer barulho que pudesse ouvir, mas nenhum som vinha. Levantou-se cuidadosamente, ajeitou suas roupas retirando a poeira. Arrumou os cabelos castanhos e os amarrou com um elástico que tinha no bolso. Abaixou-se para pegar seu celular que estava a poucos centímetros dela e olhou as horas. 16:00, estava tarde, ela tinha que voltou para casa. Levantou e virou-se para dar uma última olhada no boneco macabro que parecia o garoto que estudava com ela, mas que a um dia descobrira que tinha uma possibilidade dele estar morto e ser um fantasma que perambula por ai. Ela tremeu por causa do calafrio que sentira.
Quando estava prestes a subir as escadas quando sentiu um toque em seu ombro direito. Lia estremeceu e congelou na posição na qual estava.
- Você deixou sua pulseira cair, Ophelia. – Tristan? Lia virou-se lentamente, com o coração acelerado, quase saindo pela boca.
Sim, era o Tristan e ela não sabia como devia se sentir. Feliz? Com medo? Ela tentou parecer calma, pegou a pulseira de suas mãos; Tristan sabia que ela estava nervosa, não tivera a atenção de assusta-la, só achava engraçado ver sua ingenuidade sobre tudo que estava acontecendo. Ele ajeitou os óculos e enquanto ela colocava sua pulseira no pulso ele a observou, sabia que se contasse tudo ela provavelmente não aguentaria, mas tinha o direito de saber.
- Ophelia?
- Sim?! – Lia estava nervosa.
- Alguém já te contou sobre a maldição da sala oito? – Tristan sempre mantinha o tom de voz seco o que deixava qualquer coisa que ele falava misteriosa e quando o som dela chegava aos ouvidos de Lia a deixava arrepiada.
-N-não. – Lia respirou fundo, não tinha certeza se queria saber, mas era tão curiosa.
- Você quer saber? – ele analisou ela. Dos pés a cabeça, tinha a esperança que ela dissesse não, assim não teria o trabalho de explicar algo que ela não compreenderia. Seus olhos pousaram nos dela. Um castanho, as vezes preto, às vezes vermelho. Tinham uma história, um mistério e muita dor. Então ele olhou para sua boca, rósea, estava tremula, provavelmente medindo os riscos de sua futura resposta. “Sim” ela balbuciou, ele levantou as sobrancelhas, ela entendera o recado, ele não compreendera a resposta. Ela inspirou todo o ar possível e após expira-lo. Olhou nos olhos, escondidos por óculos, do garoto morto-vivo e respondeu:
- Quero. Eu quero saber sobre a maldição da sala oito.