jisung está tão aliviado que não tinha começado a desenhar no rosto dele ainda. com aquele comentário seu coração bate tão alto que, se estivesse movendo seus braços, teria perdido completamente o controle.
- que pergunta é essa? – tenta soar descontraído, sorrindo mais aberto do que gostaria – claro que eu já beijei.
- jura? quem?
- uma garota – é tão vago, e tão falso, que chenle não pode evitar a risadinha que escapa, mas ele cobre a boca logo em seguida – coreana. ela era coreana.
- era?! – surpreende-se – a pobrezinha perdeu a nacionalidade dela depois de um beijo seu?
- idiota.
- deve ser um beijo muito bom, então.
comenta, olhando por cima do ombro para a janela entreaberta. jisung nem tem tempo de reagir ao comentário e o rosto do outro já está colado no seu.
o alaranjado pôde jurar que, naquele segundo, seu coração parou completamente e toda a sua função neurológica funcionava completamente por chenle.
com base em chenle, para chenle, a partir de chenle.
seus olhos estavam tão juntos que, se jisung piscasse, sentiria seus cílios roçando nos do chinês e aquilo arrepiava cada um dos pelinhos do seu corpo.
- vamos ver o pôr do sol.
lançou, assim mesmo, sem um segundo sequer de aviso. um minuto depois chenle já estava usando o próprio moletom e uma calça jeans mais larga de jisung, para não estragar o desenho em seu corpo.
- eu aposto que chego lá embaixo primeiro!
gritou, já disparando pela porta do apartamento sem jisung sequer ter tempo de trancá-la.
claro que ele correu até o elevador e gritou quando chegou lá dentro, totalmente sozinho.
deus, o que estava acontecendo com o seu dia? ele só ia fazer o maldito trabalho de biologia!
depois de mais uns gritos, uns pulinhos, e tremer inteiro, jisung parou. era mesmo esperto deixar a porta de casa aberta?
meu deus, ele seria assaltado, com certeza!
estava seriamente considerando voltar para seu andar, entretanto assim que chegou ao térreo – e viu o sorriso de chenle na sua direção, o atraindo para o fim do mundo – qualquer ideia sumiu da sua cabeça e só havia os dois correndo como adolescentes pelas ruas movimentadas de um fim de tarde na cidade grande.
- eu ganhei.
chenle está ofegante, levemente suado e com um sorriso tão gritante no rosto que suas bochechas começam a ficar doloridas. mas nenhum deles realmente se importa, porque jisung está sorrindo também.
correr com o céu da cor do seu cabelo e sentir os dedos do mais baixo ao redor do seu pulso fazem o mundo de jisung parecer completamente fora da realidade.
eles estão na ponte. a mesma ponte onde chenle sentou no parapeito e fez perguntas pras quais ninguém tem respostas e beijou seu ex namorado com quem sai o tempo todo.
mas agora lucas não está ali e jisung está e o pôr do sol acabou de começar, do jeitinho que o esverdeado estava imaginando assistir lá no quarto bagunçado do mais novo.
jisung se senta ao seu lado no parapeito – um monte de medos surgem na sua cabeça, mas desaparecem assim que sente os joelhos tocando os do menino que também tem medos demais dentro da cabeça – e os dois de all star preto balançam como crianças, com buzinas atrás de si e todo o eternamente lá pra frente.
- então, por que um garotinho sem nenhuma experiência de vida feito park jisung vive sozinho em outro país?
lança a pergunta no ar, sem sorrir ou olhar pra ele. de certa forma, é quase como uma esperança.
- pra estudar. eu quero... eu vou entrar na faculdade de artes de nova iorque, mas pra isso tenho que fazer o ensino médio daqui.
- artes, é? Imaginei que fosse tentar astronomia.
- eu vou dançar.
chenle está olhando pra ele – não só pra ele como jisung, mas pra ele como ser humano – e a esperança está tão grande agora que a sente sufocando em seu peito.
- você me leva com você? – dispara, sem nem pensar duas vezes, e olha pro outro lado – nem precisa ser por muito tempo, só... só me leva pra nova iorque com você, por favor.
- levo.
a resposta vem tão rápido que nenhum dos dois têm certeza do que ouviu, mas eles também não se importam. gostam de acreditar que tudo o que dizem na frente do pôr do sol são verdades eternas.
- e é chonlo.
- o quê?
- meu nome, se pronuncia chonlo – explica, olhando para os próprios pés – todo mundo sempre falou chenle, então não quis estragar a vibe. mas é chonlo.
- certo então, chonlo – fala meio sussurrado, testando o sabor do nome exclusivo na boca. e jisung adora, fecha os olhos um pouquinho, só pra se sentir mais livre – é engraçado? chonlo, chonlo...
- jisung.
- fala, chonlo.
- se você disser meu nome desse jeito mais uma vez eu só tenho duas alternativas.
os olhos de jisung pedem que o garoto continue falando, falando daquele jeito tão errado com uma oitava abaixo do normal, porque sua garganta não deixa que som algum saia.
mas chenle não continua.
ele quer ouvir a voz sussurrada mais uma vez, então estende o silêncio.
- quais? – questiona, em um arfar só.
- tirar seu bv ou te empurrar desas ponte – comenta bem baixinho, perto demais da orelha do mais novo para que ele consiga evitar o arrepio que chega até seu baixo-ventre – e, como você não é mais bv, acho que vou ter que te empurrar.
- ei, chenle!
a mão do esverdeado estava sobre o ombro de jisung e, por um aterrorizante segundo, ele teve a mais absoluta certeza que chenle o derrubaria dali sem nem pensar duas vezes.
e, se fosse qualquer outra situação, chenle teria derrubado de verdade, mas dessa vez apenas puxou o ombro de jsiung para mais perto e selou seus lábios.
não era um beijo de verdade.
nem de longe.
era um selinho de criança, talvez só um pouquinho mais longo que o normal, e só serviu pra deixar o chinês com mais vontade, mas seu pescoço já estava vermelho de vergonha e não entregaria toda a sua timidez assim, de bandeja.
se afastou tão de repente quanto se aproximou, deixando um jisung todo piscante e atordoado parado ali, olhando pro azul nublado de um fim de tarde que já tinha passado do pôr do sol.
- vamos voltar pra você desenhar o meu rosto – manda chenle, deslizando pelo parapeito – inclusive, eu vou dormir na sua casa, então vamos assistir desenho animado.
- como é?
jisung desperta com um baque, pulando de volta para a ponte e correndo um pouquinho só, pra conseguir ficar ao lado do garotinho que já vai longe. ele se equilibrava no meio-fio, de braços estendidos e olhos fechados.
naquele fim de tarde, caminhando em silêncio com chenle como se já tivessem dito todas as palavras do mundo, jisung sentia uma parte de si pra sempre. e uma outra parte de si tão mortal quanto o verde quase completamente desbotado nos cabelos ao seu lado.
mas tudo bem, ele pensa. tudo bem ser mortal por chenle, ele pensa.
tudo bem cometer alguns erro e renascer de novo só pra ter uma parte de si sentindo-se pra sempre.
a parte em que ele era o único a guardar um segredo eterno: que zhong chenle sempre foi meio chonlo.
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kids; chensung
Fanfictionem que chenle é verde desbotado, histórico ruim e tentativas falhas de ser um badboy com aquela jaqueta surrada dos rolling stones, mas para jisung, o novato de cabelos laranjas, o garoto só é meio bonitinho demais.