zhong chenle é meio sensível;

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- qual é jisung, corta essa bro, vamos embora – mark está repetindo pela quinta vez, empurrando seus ombros pra longe da cena onde chenle está abraçando a cintura de lucas – não é como se ele te devesse alguma coisa.
aquela frase, curtinha assim e sem nenhuma vírgula, foi o suficiente para desmontar toda a guarda do park e derrubar seus braços compridos ao lado do corpo cansado.
ele sabe que mark está certo. na verdade, o que ele não sabe é porque sua cabeça dói tanto sendo que ele e chenle só conversaram de verdade nos últimos três dias.
- e aí, vítima? – donghyuck aparece assim que eles chegam do outro lado da rua da escola, tomando uma latinha de coca-cola e com os olhos inchados – ele já te magoou?
- hyuck... – jaemin avisa, mas tem um suspiro meio exausto na sua voz que só o outro entende.
- amor é uma vadia, já diriam os filósofos gregos – completa, acompanhando os dois no caminho até a casa do park – o nana, aqui por exemplo, está tentando fazer eu me sentir melhor depois do meu namorado ter me traído com o namorado dele.
- donghyuck, para de ser escroto.
- o que foi, jaemin? – sua inocência é tão falsa que dói nos ouvidos de jisung – só estou sendo honesto.
- se você não vai ajudar, já pode ir embora – sentencia mark, as mãos enfiadas tão fundo nos bolsos do moletom que parece prestes a rasgar – ninguém é obrigado a lidar com as suas merdas além de você.
donghyuck toma mais um longo gole do refrigerante, mas acaba se calando, mesmo que completamente contrariado.
ele não gosta que sejam grossos com ele. entretanto gosta menos ainda quando é mark Lee – o garoto conhecidamente apaixonado por si desde a sétima série – quem despreza seus sentimentos.
- ele e o lucas sempre fazem isso, você sabe que não é nada sério né jisung?
- eu não estou preocupado – retruca, mas sua voz ríspida diz exatamente o contrário – não é da minha conta.
- jisung...
- vocês querem jogar overwatch?
os três garotos se entreolham, sabendo muito bem que esconder sentimentos pode dar muito mais merda do que explodir com eles e quebrar garrafas no meio-fio.
de qualquer forma, os quatro se amontoam na sala de estar do coreano e passam a tarde toda descontando suas frustrações amorosas – e, cara, aqueles quatro têm muitas – nos consoles do pobre playstation do mais novo.

- o lucas é nosso amigo e costuma ser um cara legal a maior parte do tempo – comenta jaemin, como se não fosse nada demais, colocando seu sanduíche para esquentar – mas ele é insuportavelmente persistente quando quer.
- uma boca só não beija.
- jisung, você conhece meu amigo há seis meses, eu conheço há seis anos, quer calar a boca e ouvir as porras dos meus conselhos?!
engolindo com um pouquinho de dificuldade, o alaranjado se obriga a continuar montando os sanduíches em silêncio conforme jaemin segue seu monólogo ao som da luta entre mark e donghyuck no vídeo-game.
- enfim, chenle é sensível pra caralho, se a pessoa levanta a voz pra ele é capaz dele chorar – comenta, meio sorrindo, meio tristinho – e o lucas... bem, ele é bom em dizer o que você quer ouvir, mas é ainda melhor em dizer o que você não quer.
- se o relacionamento é abusivo assim, por que vocês não intervem?
- a gente já interveio, tanto que eles terminaram.
- mas?
- mas não podemos ficar de olho no chenle o tempo todo, ainda mais depois das últimas coisas que aconteceram... enfim, eu não sei direito onde erramos, ou onde ele errou, mas o lucas chegou perto demais e aquilo foi reflexo disso – mordendo o sanduíche, agora jaemin o encara – sem contar que tem você.
- eu não fiz nada.
- ah, fez sim. você entrou.
- eu juro que eu e chenle só nos beijamos até agora!
- jisung, você é nojento – reclama, gargalhando junto com a musiquinha irritante que vem do jogo pausado – nos muros, seu burro. ele baixou a guarda com você e agora está mais vulnerável do que nunca pra, bem, pra tudo.
- chenle ficou com o lucas porquê ele gosta de mim?!
- exatamente.
a musiquinha irritante continua, mas o cérebro do park já deu um nó tão gigantesco que ele sequer consegue interpretar direito o que está tocando.
na verdade, ele se sente tão estúpido e ao mesmo tempo aliviado que as coisas todas giram no seu campo de visão.
- mano vocês podem desligar o som, pelo amor de... – sai jaemin berrando até a sala, travando ainda na porta e virando com o rosto de uma criança pestinha pro alaranjado – jisung!
o garoto vem correndo até a porta a tempo de ver mark debruçado sobre donghyuck – a mão dentro do bolso traseiro da sua calça jeans – beijando seus lábios tão furiosamente que mal dá pra saber se eles estão mesmo gostando daquilo.
mas, quando a mão do lee mais novo vai parar debaixo da camiseta do moreno, ninguém pode negar que os dois estão indo um pouquinho longe demais.
- ai, puta merda, na minha sala não! – reclama jisung, jogando a almofada mais próxima neles – vocês são adolescentes ou cachorros no cio? que horror!
donghyuck mostra a língua pra ele, mal-humorado como sempre, mas mark não diz nada. suas orelhas estão vermelhinhas como na primeira vez que falou com donghyuck – lá na sétima série mesmo, pra perguntar em que dia estavam – e ele se esforça muito pra esconder o sorrisinho satisfeito, mas todo mundo já viu que ele está falhando.
a pior parte é que hyuck gosta.
de uma forma egoísta e egocêntrica, a devoção de mark Lee por si o deixa excitado pra caralho.
eles acabam indo embora logo depois – jaemin os segue para que não acabem se comendo em um beco qualquer, é a desculpa – e jisung fica sozinho para limpar tudo, mas só acaba indo dormir. ele está irritado e frustrado e exausto.

- desce.
ele não pode acreditar que está mesmo sonhando com zhong chenle depois de toda a merda que aconteceu. aquilo é o cúmulo do absurdo até mesmo pra park jisung e sua imbecilidade.
- anda logo, park, eu não tenho o dia todo.
abre os olhos pesadamente, observando a escuridão do quarto engolindo bem devagar as luzes dos postes que entram pela janela. jisung não quer levantar ou ouvir aquela voz, mas quando vê está sentado na cama.
- jisung? você ainda está aí?
- chenle?
- oi.
o celular ao lado do seu travesseiro está ligado, a foto de contato do chinês iluminando todo o quarto.
seu relógio na cabeceira marca 1:47 e jisung está trocando de roupa.
- já desço. o que você quer?
- você.
e a linha fica muda, como se o chenle autoritário do outro lado fosse realmente um sonho pesado demais do garoto de cabelos laranjas desbotados.
mas, ao chegar na calçada e ver aquela maldita jaqueta com o símbolo dos rolling stones, park jisung odeia cada célula do seu corpo por se agitar ao descobrir que não, ele não estava sonhando.
- oi.
jisung só precisa disso, um oi meio sussurrado do garoto apoiado no capô do carro roubado dos pais no meio da madrugada. dos olhos inchados que denunciam um choro insistente. da marca de mordida em seu ombro que não vai sumir tão cedo.
jisung odeia admitir, mas nesse segundo, ele só precisa de zhong chenle.
- oi.
responde, porque algumas vezes as maiores conversas do mundo começam assim.
é um carro bem rápido, mesmo parecendo meio patético quando você olha pelo lado de fora.
ver chenle no volante chega a ser estranho, meio engraçado, porque ele parece só uma criancinha e, de repente, eles derrapam e param lá.
é óbvio que eles param .
mas, antes de qualquer coisa, chenle segura a mão de jisung com força e se curva ompletamente sobre ele, sussurrando como se estivessem sendo espionados:
- vamos fugir.
- pra onde, chenle? – ele pergunta, meio confuso – eu nem tenho dinheiro.
- qualquer lugar, não precisamos de dinheiro, você só... – soluça, o aperto afrouxando e a animação sumindo do seu rosto tão rápido quanto surgiu – por favor, continua me chamando de chonlo, mesmo se eu for a pior pessoa do mundo e te destruir e não te merecer porque você é incrível, jisung. por favor, me chama de chonlo!
e é quando ele desaba em lágrimas sobre o banco de couro, manchando as próprias roupas e espalhando pânico por cada átomo do corpo de jisung, é que ele percebe como o imbecil lento que é.
chenle pode ser descolado e durão e foda pra caralho, mas zhong chenle é meio sensível também.
assim como todos nós.


kids; chensungOnde histórias criam vida. Descubra agora