jisung assiste ao amistoso que abre a temporada com um sorriso meio congelado no rosto, só porque mark literalmente implorou a ele que fossem naquele fim de semana em específico.
nenhum dos dois está no time de futebol americano. nenhum dos dois sequer gosta de futebol americano. jisung só está ali porque não tinha nada pra fazer na sexta à noite e mark está pagando seus cachorro-quentes.
o lee, por outro lado, escolheu a primeira arquibancada estrategicamente posicionada logo em frente o show das animadoras de torcida por uma única e escandalosamente linda razão: lee donghyuck.
até mesmo pra jisung – que com certeza não faz do tio que se apaixona por pompons e marias-chiquinhas – o garoto de pele bronzeada, calça justa e cropped de mangas longas parece muito mais bonito do que qualquer outra animadora. e também mais carismático, inteligente, simpático.
ele não ocupou o lugar de líder de torcida só com um rostinho bonito, afinal.
então, bem, eles assistem ao jogo.
lee jeno – que enganou a escola toda durante a quinta e sexta série fingindo ser primo de mark – é bom no que faz, mas é ainda melhor em mostrar a donghyuck exatamente isso.
o capitão do time e o líder de torcida.
deus, esse colégio é um clichê ambulante...
jisung suspira, olhando pro céu meio nublado como se aquelas nuvens fizessem o imensurável favor de arrancar ele dessa noite entediante para que pudesse tentar espiar plutão pelo seu telescópio pintado de amarelo. até estrelas encobertas pelo nada parecem melhor do que o claro massacre que sua escola está dando no time visitante.
é só quando, bem devagar, sua atenção passeia pelo campo que ele se dá conta de um vulto que não tinha visto antes, parado bem abaixo do placar.
daquela distância, eles estão próximos o suficiente para serem vistos, mas não se reconhecerem.
ou, pelo menos, o park não é reconhecido.
mas, mesmo em outro continente, ele saberia exatamente a quem pertencem os cabelos esverdeados. um verde bem desbotado, como se risse da sua cara por tentar dar um nome a ele.
verde menta.
inclusive o próprio dono, zhong chenle, estava sempre rindo. da cara dele e de qualquer outro que se metesse no caminho.
- ei, mark, qual o problema com aquele cara? – sussurra, cutucando os amigos nas costelas e apontando para o vulto – por que ele só não senta com todo mundo igual alunos normais?
- ah, o chenle é meio biruta.
- no bom sentido ou no mal sentido?
o moreno agora encara seus olhos pequenos como se ele estivesse perguntando seu próprio nome. e jisung não tem a menor ideia do que isso significa.
- sei lá, em todos, eu acho – comenta, desviando o olhar para a dança de encerramento das animadoras – dizem que ele é assim por causa do ex chinês dele, ou por causa do melhor amigo chinês. alguma coisa sobre chineses e suas esquisitices chinesas.
- assim como?
- assim, ué. biruta.
mark se levanta, e há tanta determinação no seu olhar que jisung tem certeza que o garoto vem remoendo alguma ideia estúpida – e provavelmente envolvendo donghyuck – o jogo todo. o park poderia impedir – deveria impedir – mas a ideia de ver mais algum plano do melhor amigo fracassando é muito maior do que seu senso comum.
é quando está quase descendo da arquibancada que o lee vê: donghyuck deslizando a calça das líderes de torcida – assim mesmo, no campo, sem pudor algum – puxando jeno pela nuca para um beijo barulhento e, saltitando para conseguir vestir a calça jeans rasgada, correndo na direção de chenle.
e ele também vê quando o garoto dá um selinho estalado nos lábios do melhor amigo, que apenas o encara de cara feia. é tão surreal para jisung, mas todo o colégio encara aquilo naturalmente, como se vissem todo dia o namorado do capitão do time distribuindo selinhos.
e é natural, porque, sim, donghyuck dá selinhos em todos com quem conversa.
os dois garotos se afastam conversando e só há a logo dos rolling stones estampada nas costas da jaqueta de couro do zhong na visão borrada de um jisung aéreo. ele até quer desviar o olhar, mas assim como mark continua babando para o líder de torcida - e tendo ideia estúpidas que o envolvem-, jisung sorri meio intrigado para o colega de classe silencioso.
na primeira vez que park jisung viu zhong chenle ele pensou exatamente assim.
esse tal garoto zhong chenle, deve ser meio biruta.
na antiga cidade do park – que ele deixou tem uma semana – pessoas não pintavam o cabelo de verde, fugiam de casa para fumar, brincavam de esconde-esconde depois da meia-noite em estacionamentos escuros demais ou beijavam garotos.
e zhong chenle fazia todas essas coisas.
o fuso horário da coreia ainda mexia com toda a sua cabeça, então era uma da manhã quando lá foi o pobre jisung até a loja de conveniência comprar chá gelado e cup noodles para conseguir dormir.
a sacolinha na mão direita estava confortavelmente pesada, pra fazê-lo ter certeza que não estava enlouquecendo ao ver três garotos escondidos atrás dos carros estacionado na loja de conveniência enquanto um quarto se debruçava sobre um poste e contava em voz alta.
e jisung sabia que precisava ir embora, ele não era estúpido, mas o símbolo engraçado dos rolling stones na jaqueta do pegador parecia estranhamente atrativo, por isso se permitiu demorar mais uns minutinhos, vendo a partida se estender.
um dos garotos, com as roupas mais bonitas, ficou esperando atrás do contador e, assim que o grito de "já" soou, ele tentou alcançar o poste, entretanto o mais baixo o empurrou com toda as forças e o segurava pra longe do pique.
-hyuckie! – gritou, e sua voz era tão aguda que jisung riu – hyuckie, você tá roubando, não vale!
enquanto os dois se matavam ali no meio, os outros garotos de cabelos escuros correram para salvar suas vidas e, no fim, nem mesmo o tal hyuckie o menino dos cabelos verdes conseguiu pegar.
frustrado, ele até abriu a boca pra protestar, mas seus olhinhos começaram a encher de água e os amigos, sem saber como reagir, correram para abraçá-lo. todos falavam e gritavam ao mesmo tempo, dando tapinhas nos cabelos esverdeados e tentando de todas as formas acalmar o garoto.
de nada adianta e, quando se dão conta, ele é só choramingos e fungadas no meio daquele monte de desespero.
- chenle, eu trouxe seu sorvete...!
- lucas, eles estão roubando no jogo!
birrento, chenle corre para os braços do rapaz alto que saía da loja de conveniências e esse, gargalhando, começa a dar bronca nos outros três que apenas concordam de cabeças abaixadas e olhos risonhos.
chenle continua choramingando, mas o sorvete faz ele esquecer da briga muito mais rápido do que qualquer ser humano normal esqueceria.
jisung percebe que são quase duas da manhã e começa a andar mais rápido pra casa, com medo de encontrar algum assaltante no meio do caminho.
claro que ele continua rindo meio bobo pro garoto de cabelos verdes e, mesmo que não saiba seu nome ainda, uma coisa ele sabe: zhong chenle deve ser meio biruta.
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kids; chensung
Fiksi Penggemarem que chenle é verde desbotado, histórico ruim e tentativas falhas de ser um badboy com aquela jaqueta surrada dos rolling stones, mas para jisung, o novato de cabelos laranjas, o garoto só é meio bonitinho demais.