Tra il dire e il fare, c'è di mezzo il mare

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O cowboy prepara sua arma, pronto para colocar todo o treinamento em prática, tudo que ele precisava fazer era disparar um tiro certeiro e toda sua jornada acabaria ali, no meio do deserto, onde o vento cobriria o sangue derramado com a areia escaldante, apagando a história de todos os seus crimes, apagando a historia de todas as vidas perdidas ali, como se nunca tivessem existido. O disparo da arma, alto e poderoso, ele já tinha atirado tantas vezes com aquele mesmo gatilho, mas, era como se fosse a primeira vez, sentir a antecipação, o medo de errar, e a adrenalina acelerar seu coração ainda pulsante. O sangue na areia era como uma pintura mórbida, depois de observar pelo o que pareciam ser horas, o homem finalmente entendeu, era belíssimo.
Johnny encarou a tela da televisão enquanto os créditos do filme passavam. Aquilo havia sido ... Interessante ? – Não que ele tivesse odiado o filme, pelo contrário, gostou e muito, mesmo com o final repentino e sem explicação, o garoto foi capaz de apreciar a história, se apegar aos personagens e totalmente assistiria a sequência, se por um acaso existisse uma.

– Então caro, o que achou ? – Perguntou o homem de cabelos longos, segurando duas xícaras de café.

– Er ... Eu gostei mas – Pausou para pegar a bebida que lhe era oferecida – O que foi aquele final ? – Ironizou antes de tomar um gole.

– Acredite, você não é o primeiro a ficar confuso com os filmes que escolho – Gyro soltou uma de suas risadas encantadoras.

– Então quer dizer que costuma trazer muitas pessoas pro seu apartamento ? – Provocou cobrindo seus lábios com a xícara.

- Johnny! Jamais – O italiano fez uma pose dramática enquanto se sentava no sofá ao lado do garoto – Eu te disse, você é minha pessoa favorita, sua companhia é essencial – Continuou colocando seu braço ao redor dos ombros do mais novo.
“Para falar a verdade, eu nunca fui muito fã de café, odeio na verdade. Não consigo suportar o cheiro ou o gosto. Mas depois que Gyro passou horas insistindo para que eu provasse o café italiano, não consegui dizer não. E no final, acabei gostando”
Era estranho para Johnny, está ali, na casa de um amigo, rindo e conversando. Era quase como se ele sentisse que tinha perdido o direito de se conectar. Depois do acidente, jamais considerou que seria capaz de fazer isso de novo, tinha se acostumado com a solidão e planejava continuar assim. Aquilo era sua responsabilidade mesmo, se não tivesse agido daquela forma, jamais estaria preso a uma cadeira de rodas para o resto da vida.

- Eu lembro disso, apenas fingi que esqueci – Deu os ombros.

- O que ?  Por que ?–

- Pra eu poder ouvir você dizer de novo –

- ragazzo intelligente – Era óbvio que Johnny não entendia nada quando Gyro decidia falar em italiano, somente esperava que não fosse nada de ruim, descobrir que era xingado esse tempo todo sem saber seria a gota d’água – Não que isso fosse atingir a forma como o garoto enxerga o outro, já que a essa altura do campeonato já estava praticamente obcecado com ele.
Já faz três semanas desde que começaram a se encontrar. Sem perceber, ambos se conectaram, estabelecendo uma confiança. Bastava um olhar, e eles já sabiam exatamente o que o outro queria dizer. Inconscientemente, acabaram descobrindo exatamente o que precisavam.

- Odeio ser essa pessoa mas ... Tenho que ir pra casa – Comentou quebrando o silêncio e colocando a xícara, já vazia, no porta copos.

- Tem mesmo ? Porque não fica ? Posso te levar pra escola amanhã – Gyro sugeriu enquanto ajeitava o gorro de Johnny.

- Eu adoraria ficar mas ... Duvido que meus pais deixem eu dormi aqui – Continuou meio desanimado, era óbvio que queria passar mais tempo com Gyro, mas já tinha sido um inferno fazer eles deixarem Johnny visita-lo sozinho.

- É mesmo ... esqueci o quão jovem você é Johnny –

- Vai se ferrar – Brincou o rapaz – São apenas cinco anos de diferença –

- Tá brincando ? De acordo com as leis desse país você ainda é um feto – Johnny claramente revirou os olhos com a resposta.

- E de acordo com as leis do seu país ? – Johnny perguntou se aconchegado no sofá.

O mais velho parou um momento para analisar Johnny e pensar se deveria mesmo responder a pergunta. Por mais que quisesse continuar o papo, tinha que ser responsável ali.

- Okay okay, se essa conversa continuar, você vai desistir da ideia de ir embora, e por mais que eu adore sua companhia, não quero a polícia batendo na minha porta – Gyro se aproxima – Procurando um certo fugitivo –

- Então será que pode me ajudar com a cadeira ? – Normalmente, Johnny odiava receber qualquer tipo de ajuda, chegava até mesmo a gritar com qualquer um que decidisse guiar sua cadeira de rodas sem que o próprio pedisse. Mas, Gyro era diferente, o rapaz confiava nele, podia finalmente se abrir com alguém, mesmo no fundo, temendo que um dia, o mais velho se cansasse de lidar consigo.

- Você é quem manda – O homem respondeu com um sorriso descarado antes de se aproximar e envolver Johnny com seus braços fortes o erguendo do sofá com tanta facilidade que surpreendeu ainda mais o garoto.

Okay, definitivamente ele não esperava aqui, porém, estaria mentindo se dissesse que não tinha gostado – Na primeira vez que alguém tento carregar Johnny daquela forma, acabou caindo no chão após receber um soco bem posicionado – Ele não era uma espécie de bebê que não podia cuidar de si mesmo, e não hesitaria em arranjar briga com qualquer um que duvidasse de sua capacidade. Durante os dias que se encontravam, Gyro nunca o tratou como uma boneca de porcelana, respeitou a individualidade de Johnny, e isso o fez perder o medo de pedir as coisas para o mais velho, afinal, querendo ou não, era cansativo ter que se arrastar para circular pelos lugares.

Era a primeira vez que estava sendo carregado daquela forma, jogado sobre um dos ombros de alguém e Gyro andou como se Johnny não pesasse mais do que uma pena.
“ Ok isso é um mais interessante do que eu imaginei”
Estava tão perto que conseguia sentir o cheiro de shampoo e colônia – Não que Johnny estivesse o cheirando de propósito é claro – Demorou um pouco para perceber que estava sendo colocado na cadeira. Gostou da sensação das mãos o segurando, definitivamente iria pedir novamente.

- Chegamos ao destino, por favor pague seu motorista – Brincou o italiano.

- Essa não! Esqueci minha carteira, como será que posso pagar o senhor ? – Johnny respondeu fazendo uma expressão imaculada.

- Tem sorte que sou um motorista muito generoso – Continuou enquanto pegava suas coisas.
No silêncio do elevador, Johnny aproveitou a oportunidade para observar o mais velho, ele era tão encantador e único, talvez o rapaz jamais conheceria alguém como Gyro de novo. Apenas estar ao lado dele era tranquilizante, talvez realmente precisasse dele. Nicholas o fazia se sentir assim também, como se ele pudesse conquistar o mundo inteiro. Quando fizeram contato visual – Mesmo que por meio segundo – Johnny sentiu que seu coração poderia parar ali mesmo.

- Ei, tem problema se a gente parar no mercado antes ? Tenho que comprar mais café – Perguntou Gyro

- Claro mas, achei que a máquina estava cheia –

- E ela estava, até um alguém decidir tomar todo meu café – Ele gesticula com os braços.

- Tinha que ter pensando nisso antes de me apresentar o café italiano –Provocou enquanto saia na frente.
O caminho para o supermercado foi silencioso, o que era raro quando se estava com Gyro, já que o mesmo sempre parecia ter algo a dizer sobre basicamente tudo – Não que Johnny se irritava com aquele comportamento, adorava a voz do mais velho, o sotaque estrangeiro na língua era gostoso de ouvir – Mas também apreciava os momentos de silêncio, era impressionante como mesmo sem trocar uma palavra sequer, o rapaz conseguia se sentir melhor do que quando estava cercado de pessoas em seus dias de glória.
O lugar era extremamente espaçoso como ele lembrava – Fazia tanto tempo desde a última vez que esteve em um supermercado – Depois do acidente, Johnny evitou ir a locais públicos ou cheios de gente, a possibilidade de ser reconhecido era grande demais para arriscar. Mas até que sentia saudade de fazer coisas tão mundanas como ir as compras, essas coisas o faziam se sentir normal novamente, mesmo que preso a uma cadeira de rodas, Johnny ainda era uma pessoa.

- Merda – Gyro resmunga enquanto olhava pelas prateleiras – Não acho o café certo –

- Por que não pede ajuda a um dos funcionários ? – Johnny respondeu olhando alguns biscoitos.

- Johnny! Você é tão inteligente! – Afirma o mais velho – Volto em um minuto –
E antes que pudesse sequer responder, Gyro já tinha desaparecido entre os corredores cheios de comida e produtos.

- Achei que ele nunca iria embora – Uma voz chamou a atenção de Johnny, que na mesma hora se virou pronto para lançar um xingamento.
Ele não podia acreditar, Diego Brando! Johnny já sentia seu sangue começar a ferver e suas mãos coçarem para esganar aquele pescoço erguido de víbora.

- Diego ... O que caralhos você tá fazendo aqui ? – Fez questão de transmitir toda sua raiva em seu tom de voz.

- Aqui é o supermercado, não posso mais fazer compras que você já vem dar pitaco ? –  Diego cruzou os braços com o mesmo sorriso irritante em seu rosto.

- Eu não daria pitaco se você não viesse falar comigo –

- Quanto rancor, essa raiva toda pode te fazer levar outro tiro sabia disso ? –Se aproximou do garoto, com um sorriso ainda maior em lábios.
Johnny cravou suas unhas em sua cadeira de rodas, estava tão nervoso que sentia-se pronto para vomitar ali mesmo – De preferência em cima de Diego – Será que estava condenado ao passado ? Toda vez que pensava em encontrar uma nova maneira de viver ou seguir em frente, algo o puxava para baixo e tentava o afogar, esse algo constantemente sendo ele mesmo. Só queria desaparecer dali, ele se odiava tanto por deixar que gente como Diego o afetar tanto, por que não podia simplesmente esquecer ?!

- Johnny, você não vai acreditar! Eles não ...  – No momento que Gyro vira o corredor e encontrar os dois, rapidamente estranhou o comportamento do americano.

- Ah você deve ser amigo do Johnny – Diego tomou a iniciativa.

- Esta tudo bem ? – Gyro se aproximou de Johnny, totalmente ignorando Diego, e abaixou-se para ficar a altura dele.
O garoto suspirou, claramente frustrado, pelo menos agora não estava sozinho com Judas reencarnado.
- Eu to legal – Respondeu falsamente.

- Nós estávamos apenas conversando, Não é Johnny ? – Ele coloca uma das mãos na cadeira de rodas – Me chamo Diego Brando, e você quem é ? –
Johnny notou as mãos de Gyro tremerem quando o nome foi mencionado, talvez seu ódio por Diego tivesse sido compartilhado após os relatos sobre o quão irritante o outro era tenham causado uma impressão nele. Cultivar ódio a seu nêmesis era satisfatório.

- Gyro – Ele responde, secamente antes de se virar para Johnny – Não achei o café, podemos ir embora se quiser – Ele pergunta, dessa vez com um tom mais gentil.

- Qual é, eu gostaria de conversar mais um pouco sobre o garoto prodígio – Diego aperta o seu segurar na cadeira de rodas – A conversa estava ficando tão boa –

Johnny já não aguentava mais sequer ouvir a voz de Diego, se não estivesse num lugar público já teria socado as bolas dele, já estava até mesmo sentado e pronto para o ataque, mas segurou a tremenda vontade enquanto segurou o braço do italiano, demonstrando seu descontentamento.

- Solta a cadeira dele, por favor – Gyro respondeu, tentando soar o mais natural possível, mas era notável sua irritação.

- Ora não vamos nos irritar, somos todos amigos aqui –

- Não me faça ter que fazer você soltar -Ele respondeu, dessa vez deixando o tom intimidador mais claro.
Aquela era a primeira vez que Johnny via Gyro se irritar com qualquer coisa, era estranho ver alguém tão sociável como ele, parecer pronto para socar a cara de alguém – Mesmo que não fosse admitir, meio que queria ver esse soco.

- Eu não posso deixar você sozinho por cinco minutos e já te acho arrumando problema ? – Uma mulher se aproxima e puxa Diego pela gola esnobe e alta dele. Esse movimento repentino fez Gyro recuar. Uma garota, um pouco mais alta que Diego, o segurava longe de Johnny.
- Hot Pants! – O garoto exclamou tentando se soltar.

Ela tinha um corte de cabelo curto, com uma franja e seus fios, um rosa chamativo. Daria para reconhece-la de longe.

- O que quer que ele tenha dito eu peço desculpas, esse daqui tem a língua de um dinossauro – Ela continua, ignorando totalmente as tentativas de Diego de escapar de seu segurar.

- Não tem problema – Johnny responde, tentando segurar a vontade de cair na gargalhada, ver Diego se sacudir pateticamente no meio do supermercado era mais divertido do que ele esperava, olhou para Gyro e percebeu que o mesmo se encontrava na mesma situação que si.

- Enfim, eu vou levar ele de volta pro covil e parar de incomodar vocês – Ela continua, sorrindo de canto antes de ir embora acenando – Ainda arrastando Diego –.

- Foi um prazer Hot Pants – Johnny responde com um sorriso sacana. Aquele final tinha compensado toda as merdas que tinha ouvido.
- Vamos embora ? – Perguntou para Gyro, que agora parecia confuso com tudo aquilo.

- Er .... O nome dela ... Hot Pants, isso não é .... –

- Nem pergunta -

FortunatoOnde histórias criam vida. Descubra agora