Tutte le strade portano a Roma.

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“Será que essa aula não vai acabar nunca?”

Johnny quase resmungou em voz alta enquanto encarava o relógio levemente ameaçador no topo do quadro branco, que agora se encontrava repleto de informações sobre algo chamado estequiometria, sendo sincero, o rapaz não tinha sequer um pingo de interesse naquele assunto, no que ele usaria aquele conceito de química na vida adulta? Seu pai, apesar de não ser um dos melhores exemplos de pessoas no mundo, ganhou dinheiro para um caralho apenas cruzando cavalos de raça pura especializados em corridas, e ele tinha certeza de que nesse meio não precisou usar nem um por cento das coisas que foi obrigado a aprender nas aulas intermináveis de química.
Continuou fazendo alguns rabiscos nas folhas de seu fichário, apenas fingindo estar copiando o que a mulher tentava ensinar aos vinte jovens presentes na sala – Às vezes sentia pena dela, mas simplesmente não conseguia evitar, todas as vezes que ela começava a falar sobres conceitos quânticos e orgânicos, o cérebro do loiro espontaneamente parava de funcionar, e o mesmo começou a identificar isso como um sinal do universo de que ele não servia para aquilo, e quem Johnny era para negar o curso das coisas.

Não era exatamente um bom desenhista, mas gostava de imaginar que pelo menos conseguia fazer algo melhor do que uma criança de oito anos, estava tentando fazer sua companheira de longa data, Slow Dancer, uma égua de onze anos, tão dócil e carinhosa, igual uma vovozinha, do tipo que via nos desenhos infantis, desde de seu “acidente”, nunca mais teve coragem de olhar nos olhos dela, mas não nega que morria de saudades dela, depois que perdeu Nicholas, passava mais tempo com ela do que com sua própria família. Assim que o sinal tocou, sacudiu os pensamentos melancólicos, hoje seria um dia perfeito, depois de terem que adiar a pizza, duas vezes seguidas – “Malditas provas” – Gyro finalmente conseguiu combinar seus horários com os de Johnny depois de semanas.

Assim que passou pelas portas da escola, foi parado por uma voz o chamando:

- Ei! Você é o Johnny, certo? – Uma voz um pouco familiar chamou sua atenção.
O Rapaz virou seu rosto, viu a mesma garota que tinha puxado Diego para longe feito um cachorrinho, não era difícil de se lembrar dela, principalmente pela cor chamativa de seu cabelo, a cor o lembrava de um filme que assistiu a alguns anos, sobre um menino levemente irritante, que lutava com uns caras aleatórios.

- Er... Sim? – Respondeu com uma pequena incerteza em sua voz, mesmo Hot Pants aparentando ser alguém nada semelhante a Diego, ela ainda parecia andar com ele, e Johnny estaria mentindo se dissesse que não desconfiava de qualquer um que andasse com seu nêmesis.

- Ainda bem – A rosada suspirou aliviada – Estive te procurando por você desde aquele er... Incidente no supermercado – Sua voz soava meio acanhada, como fosse difícil encarar o loiro depois daquele fuzuê todo.

- Porque? – Foi tudo que conseguiu dizer, ainda estava meio desconfiado dela, mesmo que H.P tenha proporcionado uma das cenas mais hilárias de sua vida, não queria acabar fazendo papel de bobo e confiar em alguém que facilmente poderia o esfaquear pelas costas.

- É que, eu apenas gostaria de me desculpar pela forma que o Diego agiu – Ela parou, apenas para coçar o cabelo, meio sem jeito – Ele normalmente não é assim ... Na maior parte do tempo –

Era sério aquilo? Aquela garota estava tentando justificar o Diego? O Diego Brando? O cara que transformou sua juventude em um inferno e continua a transformar até hoje?! Johnny sentiu a raiva se espalhar por seu corpo, e estava pronto para soltar um bom xingo para a outra:

- Escuta aqui! – Começou, mas assim que o fez, se lembrou do concelho de Gyro, que a raiva repentina é completamente normal, mas que é necessário saber lidar com ela sem descontar em quem talvez não mereça. Respirou pelo nariz e soltou pela boca – E-Eu entendi a sua então, mas um pedido desculpas, só vale se vir da pessoa que fez a merda, geralmente funciona assim –

“E eu duvido que o Diego realmente quer pedir desculpas pra mim, aquele babaca”
- Eu sei... – Ela cruzou os braços, desviando o olhar, meio sem jeito – Mesmo assim, não me pareceu certo simplesmente fingir que aquilo não aconteceu –

Johnny concordou com a cabeça, naquilo ela não estava exatamente errada, mesmo que não fosse Diego de joelhos se humilhando por seu perdão. Alguém genuinamente se desculpando par achar a situação injusta, era melhor do que nada, e verdadeiramente aumentou o ânimo do loiro, talvez Hot Pants realmente merecesse o benefício da dúvida, mas a mesma ainda se encontrava no julgamento.

- Olha eu prometo deixar o Diego numa coleira muito mais curta daqui em diante – Afirmou confiante dessa vez, colocando uma mão na cintura, assumindo uma postura mais poderosa.

- Wow, isso é algo que adoraria poder ver – Johnny não conseguiu evitar imaginar Diego Brando, aquele Diego Brando, numa coleira fazendo truques de cãezinhos, como sentar, rolar e fingir de morto. Se pudesse fazer aquele maldito passar por pelo menos um 1/3 do que teve que passar com o próprio, poderia dizer com toda confiança do mundo, que tinha zerado a vida e poderia finalmente se aposentar da posição de maior inimigo dos Brando.

- Enfim, toma – Ela diz, esticando sua mão até uma parte de sua bolsa, retirando um papel, com algo escrito e entregando para Johnny, que logo notou que não era uma mensagem, mas sim um número de telefone – Se ele te incomodar de novo, só me avisar que eu vou correndo dar um bom corretivo nele –

Era difícil não a imaginar correndo atrás de Diego com um jornal enrolado em mãos, pronta para acerta-lo em cheio na cabeça dura e mesquinha dele, o rapaz adoraria poder fazer parte de um projeto como aquele, que apelidaria carinhosamente de: A adestradora de dinossauros.

- Tudo bem, mas você sempre carrega papeizinhos com seu número nos bolsos? – Brincou Pegando seu celular para adicionar o novo contato.
Hot Pants imediatamente soltou o ar pelo nariz, representando uma pequena risada, ela não parecia alguém difícil de lidar, apesar de quase sempre estar com uma expressão séria no rosto, dava para ver que era bastante decida e não tinha medo de se impor, claramente era por isso que conseguia lidar com gente como Diego com tanta facilidade, Johnny a invejava um pouco, poder dizer sempre o que realmente quer dizer, sem medo de respostas ou reações negativas, era um super poder bastante útil, infelizmente o loiro ainda não tinha colocado as mãos na formula secreta da autoconfiança, mas quem sabe, se continuasse andando com Gyro e sua personalidade brilhante, consiga absorver um pouco dele.

- Bem, eu agradeço a atenção, mas preciso ir agora – Ela o cumprimentou com a cabeça antes de se virar e começar a ir embora – Ah! É mesmo – H.P de repente parou e se virou para Johnny – Peça desculpas pro seu namorado por mim também –

- Hã?! Espera ai! – A garota parecia não ter ouvido, visto que a mesma continuou seu caminho sem olhar para trás, deixando o rapaz com a maior cara de paisagem do mundo.

“Namorado?! Huh? Do que ela estava falando ... Gyro?!”
Johnny permaneceu paralisado por alguns instantes, deixando que aquela informação seja corretamente processada pelo seu corpo. Seus olhos azuis, estavam completamente arregalados, transparecendo o choque que havia tomado por aquela pequena palavra. Namorado... não tinha ninguém com ele no supermercado além de Gyro, então, H.P só podia estar se referindo a ele, mas, o rapaz não tinha ideia de como ela tinha chegado a uma conclusão daquelas. Eles eram próximos, tinha noção disso, mas não tinha nada além de amizade na relação dos dois. Tá certo de que Johnny sempre se sentia mais a vontade e seguro na companhia do italiano, e toda vez que tocavam um no outro, era como se seu coração fosse pular para fora, mas isso era porque o mesmo não trocava afeto com ninguém a muito tempo, certo?

Tinha acabado de fazer uma amizade em anos, não queria estragar isso com ideias estúpidas de um romance inventado em sua cabeça. Johnny não ousaria desrespeita-lo daquela forma, mas talvez ... Seja por esse motivo que suas bochechas ficassem vermelhas – Como estão agora - toda vez que pensava nele e em seus cabelos longos, os olhos intensos, as mãos fortes e ...

“Não! Não!! NÃO!!! Não posso deixar um mal entendido entrar na minha cabeça desse jeito! Vamos, se controla”

Johnny estava a dois anos sem qualquer tipo de intimidade sexual, seja com ele mesmo ou com outras pessoas, era normal se sentir meio ... fraco, quanto esse assunto. Só porque seu amigo era bastante atraente, não significava que tinha uma queda por ele, porra, não era um menininho de quatorze anos para ficar agindo feito um bobo daquele jeito. Precisava esfriar a cabeça, não queria estragar o rolê incrível que teria com Gyro mais tarde.

Sua mãe o buscou como de costume, tinha que passar em casa primeiro, tomar um banho e trocar de roupa – Até faria isso na casa do italiano, mas lá não tinha barras de apoio, e ainda por cima ao invés de chuveiro, era uma banheira, Johnny morria de medo de escorregar e morrer afogado dentro dela, um pouco supersticiosos, mas quando se era um aleijado, todo cuidado era pouco.

- O que acha de piscinas? – Sua mão perguntou, surpreendendo o rapaz, já que as caronas costumavam ser tão silenciosas quanto um templo budista.

- Piscinas? Ah... Eu não sei... Legais eu acho – Respondeu dando os ombros.

- Hoje no trabalho uma amiga me contou sobre aulas de natação especiais e ... Achei que seria legal tentar – Ela continuou, não costumavam ter uma conversa um a um a muito tempo, dava para ver claramente que sua mãe também estava um pouco nervosa, mas não de um jeito ruim.

- Mãe ... Eu sou paraplégico, não posso nadar – Mãe... Aquela palavra era tão forte e fazia tanto tempo que não a escutava sair de seus próprios lábios, foi esquisitamente legal.

- Eu sei disso – Sua voz soou insegura – Mas são aulas especiais para defi... pessoas especiais, como você – Ela ainda tinha dificuldade para usar aquela palavra em voz alta, parecia que doía mais nela do quem em Johnny – Pode ser algo legal de se fazer, s-se você quiser –

Aulas especiais, só o nome já fazia o rapaz querer vomitar, odiava como aquela palavra soava, “especial” ... especial porque? Por ser alguém quebrado? Que não pode viver uma vida normal como as outras pessoas? Por ter que aguentar olhares de pena por onde passar? Johnny não se sentia nem um pouco especial, se sentia um lixo, um fardo, um nada.

- Eu vou pensar – Resmungou soltando o ar pelo nariz.

- Não conta pro seu pai sobre isso, sabe que ele é ... teimoso –

“Não vai ser um problema mãe, ele raramente fala comigo de qualquer jeito”

O resto do caminho foi silencioso, como de costume, e não demorou muito para chegarem, visto que, não morava muito longe do colégio, o que era bastante prático. Seu pai, George, ainda não estava em casa, provavelmente preso no trabalho, algo que acontecia com frequência. Subiu as escadas com a ajuda do “robozinho” na parede e começou a se preparar, um banho bem gelado, apenas para tirar aquele cansaço básico que todo mundo tinha depois da escola.

Se preparou com bastante cuidado, não soube exatamente o porquê, mas estava afim de colocar um pouco mais de esforço em sua aparência hoje, vestiu uma camisa flanela azul clara, colocando um suéter rosa por cima, uma calça jeans e um tênis preto padrão. Se jogou na cama, tentando não pensar muito no encontro que teve com Hot Pants, estava prestes a comer uma pizza deliciosa com Gyro e não queria estragar tudo com pensamentos esquisitos sobre coisas que nem são verdade.

“Talvez eu devesse esclarecer tudo com ela antes que esse mal entendido cresce e cause um fuzuê”

Se esticou para pegar seu celular em cima da cabeceira, pronto para mandar uma mensagem para a rosada, quando uma mensagem chegou:

“Johnny! Cheguei :D Estou te esperando aqui fora”

FortunatoOnde histórias criam vida. Descubra agora