Del male non fare e paura non avere

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- Então, poderia me explicar o que diabos aconteceu lá dentro ? – O italiano foi o primeiro a falar após ambos passarem pelas portas automáticas do supermercado.
Era óbvio que Gyro teria suas dúvidas, não existe ninguém no mundo que não as teria depois de presenciar uma cena como aquela, mesmo que Johnny já tinha lhe contado sobre seu "relacionamento complexo" com Diego.

O mais novo simplesmente suspirou como resposta antes de realmente começar a falar:

- Aparentemente ... Ele tem algum tipo de problema comigo ? – Respondeu com uma certa incerteza na voz, Johnny ainda não era capaz de compreender ou sequer definir as ações de Diego – Quero dizer ... Obviamente ele está projetando algum tipo de insegurança em mim –

- Mesmo se for esse o caso – Gyro interrompe colocando uma mão no ombro de Johnny, num gesto de compreensivo – Não pode deixar isso continuar acontecendo, se nem mesmo fora da escola ele te deixa em paz, talvez seja melhor contar para alguém?-

- Tá de brincadeira ? Eu não posso fazer isso ! –

- Como não ? Tenho certeza de que -

- Eu só não quero parecer a merda de um aleijado indefeso que precisa de ajuda para se defender okay?! – Interrompeu quase de imediato, mas logo se arrependendo de seu tom após a expressão de Gyro se transformar com amargura.

- Johnny ... –

"Merda ... Não diz meu nome desse jeito ..."

Gyro se abaixa, até ficar na linha de visão do rapaz. E com um sorriso soturno em seus lábios, segurou uma das mãos de Johnny de forma gentil. O toque foi suficiente para que toda a raiva do garoto se dissipasse como vento.

- Eu acho incrível a forma como você sempre enfrenta tudo do seu jeito – Usou seu polegar para desenhar pequenos círculos na mão que segurava – Mas está tudo bem em pedir ajudar. Nós somos parceiros, podemos passar por cima dessa merda toda –
Por que ?! Johnny simplesmente não conseguia compreender o motivo de Gyro ser tão legal consigo, a essa altura do campeonato já devia ter percebido o quão tóxico e desprezível o garoto realmente era por dentro. O fato de sua vida ter despencado daquela forma, tudo era sua culpa, então porque ? Johnny não merecia ser tratado com tanta compreensão e carinho.

Suas mãos começaram a tremer, e sem perceber, apertou a mão de Gyro, que continuava a segura-lo sem hesitar. Ele queria chorar, mas Deus sabe o quão orgulhoso o rapaz realmente era, decidiu então aliviar a tensão do momento.

- Parceiros ? O que é isso ? Estamos no velho oeste agora ? – Sorriu de uma forma levemente forçada, mas era melhor do que desabar na frente de um supermercado.

Mas o aperto em seu peito se foi assim que ouviu a risada cômica e alegre de Gyro, que passou a mão nos cabelos enquanto soltava o ar de seus pulmões. Todas as vezes que o ouvia rir, era como se um nervosismo repentino dominasse seu corpo inteiro, se ainda pudesse senti-las, diria que suas pernas ficam moles.

- Vai dizer que não seria bacana ? -  Seu sorriso agora, tinha o aspecto sacana de sempre – Eu e você cavalgando pelo Oeste -

- Tentador ... Mas sinceramente, nesse momento eu prefiro uma pizza e um filme –

- Então está decidido – Gyro afirma com um olhar determinado – Da próxima vez eu te faço uma pizza, que tal ? –

- Hmm – Fez uma expressão pensativa antes de responder – Primeiro o café ... E agora uma pizza, por acaso está tentando seduzir o meu estômago ? –

- O que ? Não ! Mas ... Já que deu a ideia – Brincou o mais velho, por fim soltando a mão do rapaz.

Johnny sequer tinha notado que estavam de mãos dadas por todo aquele tempo – Ainda conseguia sentir a pulsação de Gyro em sua pele, a textura e o calor dele – Era quase como se fosse algo tão natural que simplesmente parecia certo o contato. Se perguntou se talvez o outro também compartilhava do mesmo sentimento, obviamente não iria perguntar "Ei você gostou de segurar minha mão ? "  Mas não custava nada sonhar, certo ?

Johnny não estranhava os sentimentos excêntricos e originais que surgiam todas as vezes que se aproximava do italiano. Era o seu primeiro amigo de verdade em anos, mesmo em seus dias de glória como jockey famoso de Kentucky, no fundo sabia que aqueles que o rodeavam de paparicos e atenção, não queriam nada mais do que uma chance de aparecer nos holofotes – Não que o rapaz fosse muito diferente, era e ainda é incrivelmente vazio mas ... Agora, realmente acreditava que talvez pudesse mudar, pudesse se tornar alguém tão verdadeiro e humano quanto Gyro.

- Será que podemos ir agora ? Realmente adoraria passar a noite com você e conversar sobre pizza mas ... – Pausou parar suspirar – Não quero discutir com meus pais –

- Deixe comigo caro – Terminou a frase com uma piscadela, difícil de não ser notada.

"Realmente espero que isso signifique algo bom"

O caminho de volta tinha sido incrivelmente agradável, assim como todos seus momentos com o italiano. Era como se somente a presença de Gyro fosse o suficiente para melhorar qualquer tipo de ambiente ou clima. Conseguia ser tão eficiente que fazia alguém tão fechado como Johnny, rir e esquecer de seus problemas e inseguranças no segundo em que seus olhares se encontram. O jovem apenas esperava poder fazer o mesmo pelo mais velho, ou pelo menos, um terço do que já foi feito para si. Normalmente não costuma sentir a obrigação de retribuir alguém, talvez tudo que envolva o italiano fosse tão especial quanto o próprio. Era estranho conhecer alguém por tão pouco tempo e ainda assim se conectar como se tivessem vivido uma vida inteira juntos, Johnny realmente estava feliz de ter um amigo como Gyro.

" Não esperava que ele tivesse um carro, ainda mais um com espaço o suficiente para guardar a minha cadeira de rodas! ... Se bem que o Gyro estuda medicina e tem seu próprio apartamento, sem colega de quarto! Foi idiotice não esperar um carro"

Assim que chegou na porta de casa, se virou uma última vez e acenou para Gyro, que parecia estar esperando o garoto entrar em segurança antes de ir embora. Mesmo sendo um gesto simples, ainda sim agradou Johnny mais do que esperado.
" E lá vamos nós"

Suspirou e se preparou internamente pra qualquer que seja o problema que teria de enfrentar assim que girasse a maçaneta.

- Cheguei ... ? – Afirmou de forma duvidosa ao entrar pela porta da frente e não ouvir nenhuma reclamação.

"Okay definitivamente estranho"
Johnny se deparou com uma cena que muitos achariam comum, mas que ele jamais se acostumou a presenciar. Seus pais sentados no sofá, simplesmente assistindo a televisão, na maior paz.

- Seu amigo ? – O homem foi o primeiro a falar.

- Que ?  -

- O garoto que te trouxe –

- Ah ! S-Sim ele é ... Meu amigo – Respondeu meio acuado, aquela era a primeira vez em semanas que seu pai iniciava qualquer tipo de interação normal, por mais idiota que soe, Johnny ainda ficava feliz quando recebia o mínimo de atenção paterna.

- Conseguiu fazer o trabalho ? – Dessa vez, sua mãe fez a pergunta.

- F-Fiz sim! – Johnny tinha esquecido que contou uma "pequena" mentira para poder ir livremente para o apartamento de Gyro, mas na amizade tudo vale, certo ?

"Mesmo com aquela merda no supermercado ... Hoje o dia não foi tão ruim"

E pela primeira vez em muito tempo, Johnny dormiu sem preocupações.

FortunatoOnde histórias criam vida. Descubra agora