Sou caboclo
Nascido na cidade, criado no sertão
E se as luzes dos arranha-céus me encantam
É o canto dos pássaros que faz bater mais forte meu coração
E aqui, no meu recanto de fim de mundo
Eu vejo muito mais do que você
E se minhas vacas escutam Caetano Veloso, baby
É porque eu manjo dos paranauê
Eu ligo o rádio pra saber o que tá tocando de novo
E acabo me decepcionando
Onde estão os velhos ídolos?
A boa música está acabando?
Tá tomando São Paulo, Rio de Janeiro
Minas Gerais, Bahia
E se minhas vacas escutam Caetano Veloso, baby
É porque a carne fica mais macia
E o sertanejo continua sofrendo
Vendendo o almoço pra comprar o jantar
E as pessoas continuam se matando
Porque ninguém mais tem razão pra se amar
E eu continuo aqui sozinho
Trabalhando de Sol a Sol
E se minhas vacas escutam Caetano Veloso, baby
Tem coisa muito mais importante que futebol
A TV cria seus novos personagens todos os dias
Nas novelas, no jornal
E o povo prefere morrer de fome
Do que cancelar o carnaval
E a mesma programação dos últimos trinta anos
Na toda poderosa, me dá sono
E se minhas vacas escutam Caetano Veloso, baby
É porque o Brasil tem dono
Se tem idade pra votar
Pra ser preso é diferente
Justiça devia ser feita
Pra ateu e pra crente
E o dinheiro do dizimo não pode faltar
Nem o espaço na televisão
E se minhas vacas escutam Caetano Veloso, baby
Tem criança morrendo de inanição
Mas a vida continua
E um dia a gente termina
Vira terra, vira pó
Morre de barriga pra cima
E a nossa, vossa senhoria, toda poderosa, presidenta
Viajando pelo mundo comendo fondue francês
E se minhas vacas escutam Caetano Veloso, baby
Na escola a gente não aprende nem o português
E a gente continua, como diz o poeta
Sem lenço e sem documento
Vozes perdidas a esmo
Sonhos lançados ao vento
E a gente continua a acreditar neles
Como quem acredita em Saci
E se minhas vacas escutam Caetano Veloso, baby
Em Brasília ninguém tá nem aí