2 - blue hughes e as vantagens de uma família não-convencional

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Para Blue Hughes, morar em Avenue Beach tinha apenas uma definição possível: esquisito. Todas as pessoas pareciam variações da mesma, a temperatura era amena demais para uma cidade conhecida por ser praiana e o preço do estacionamento simplesmente não valia a pena.

Ela mudou de ideia com rapidez quando conheceu Zac Edwards, em uma festa no lago.

Na época, não sabia que ele era um tremendo babaca... Ou talvez soubesse. Mas resolveu ignorar o fato.

No dia em questão, ele usava bermuda cáqui, tinha o cabelo loiro liso caindo nos olhos e parecia o garoto mais surfista que Blue já tinha visto, em uma cidade cheia de protótipos loiros praianos surfistas. Ela gostou principalmente do fato de que ele parecia nervoso enquanto conversavam.

Namoraram por dois anos e tiveram pelo menos três brigas em público antes do término — como se isso não fosse motivo suficiente, o pai de Blue odiava Zac, e o pai de Blue era um cara legal.

Foi só depois disso tudo — dois anos, três brigas em público e um fim definitivo depois, que Blue percebeu que continuava como uma turista em Avenue Beach. Seus amigos eram, na verdade, amigos do seu namorado, e ainda continuava claro pela clara palidez em sua pele e aversão ao verão que ela não pertencia àquele lugar.

Até seu nome era "Azul", a cor mais fria de todas.

Ela gostava de café quente e dias chuvosos, e aquele lugar era pura vitamina de morango com sol e ventania — não precisou muito para que passasse a rejeitar a cidade da mesma forma que a cidade a rejeitava, e o vídeo foi a prova definitiva que ela precisava de uma mudança. Mas quando sua mãe sugeriu que de fato morassem em outro lugar, Blue recusou a oferta como se ela fosse uma roupa velha — não ia fugir de uma luta com o rabo entre as pernas, estava quase no último ano do ensino médio e na faculdade poderia ir para bem longe de lá. Além do mais, seus pais gostavam do lugar e do romance particular que viviam à beira da praia, mais apaixonados do que nunca, e Blue não queria ser o problema, embora isso fosse inevitável.

Eles viviam em uma casa de três andares de frente para a praia menos movimentada da cidade, do outro lado da costa, agrupados com todas as outras pessoas ricas que a mãe de Blue costumava odiar, cujos filhos odiavam Blue. A casa era revestida em madeira e tinha varandas que davam vista para o oceano em todos os andares, em um conceito aberto meio hipster demais para os outros ricos da cidade,levemente reformada pelo pai de Blue. O quarto de Blue era o terceiro incontável andar — o sótão, também revestido de madeira, com inclinação elevada e uma pequena varanda com vista para o oceano.

Ela odiava Avenue Beach, odiava a maresia, a areia pegajosa, as quadras de tênis e os até os coqueiros gigantescos. Mas às vezes se sentava na varanda do seu quarto e era obrigada a admitir as vantagens: apesar do teto relativamente baixo nos cantos, ela gostava do seu quarto espaçoso e aconchegante; graças a topografia plana, conseguia ir de bicicleta onde quisesse; tinha pais energéticos demais para o frio; e, onde quer que visse o nascer do sol, fosse ele no Egito ou no Alaska, nenhum deles se comparava ao que Blue encarava toda tarde na varanda do seu quarto em Avenue Beach.

No último dia de aula do segundo ano, ela virou a noite. Observou o nascer do sol da sua varanda com os braços cruzados de frio pelo vento típico praiano, fumando um cigarro escondido dos pais e com a absoluta certeza de que absolutamente nada mudaria dali pra frente. Com a certeza de que nada mudaria por um bom tempo.

Estava errada.

***

Depois de ter a sextape com o namorado idiota vazada, Blue levava a vida mais chata e apática o possível, o que era bom.

Verão Azul [Em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora