Prólogo

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 Noah Jenkins se lembrava da primeira vez que havia visto sua vizinha da casa esquerda com uma exatidão absurda.

Seus cabelos negros, na época abaixo do ombro, balançando levemente contra a brisa praiana da manhã. A saia prensada azul xadrez do uniforme da escola e a horrenda blusa polo branca, contrastando com os tênis amarelo-ovo que a garota usava.

Ele se lembrava até das cores do céu naquela manhã amena, um laranja morno apagado que agora, por algum motivo, sempre lembravam a ele dos olhos verdes dela.

Ele lembrava as exatas primeiras quatro palavras que ela se dirigiu a ele conforme passava pelo garoto, inabalada enquanto ele apenas a encarava embasbacado, provavelmente parecendo o maior idiota do mundo. Ela parou na sua frente apenas tempo suficiente para dizer:

— Seu cadarço está desamarrado.

Quando abaixou os olhos, ele soube que nunca ia esquecer de encarar seu all-star preto desamarrado contra o chão cinza da calçada, uma imagem mental cravada no seu subconsciente desde que a viu pela primeira vez.

Depois disso, seus pensamentos começaram a traí-lo, como se os próprios neurônios tivessem se revoltado contra ele. Depois daquele encontro, na maior parte do tempo, parecia que tudo que seu cérebro havia sido programado para fazer, era isso: se lembrar dela.

Se lembrava de assistir ela ir para escola na mesma bicicleta cor de rosa que parecia ter desde os 14 anos, o que fazia o seu carro de última geração parecer estupidamente sem graça – os pais da garota, pela mansão moderna em que viviam, com três andares e vidros por todos os lados, além de dois Teslas na garagem, pareciam nadar no dinheiro; ainda assim, Blue insistia na maldita bicicleta.

Ele a assistia prestar atenção demais nas aulas de história e dormir nas de matemática, o que consequentemente fazia com que ele tirasse notas baixas em ambas. Conforme encarava sua nuca, com a tatuagem de triângulo que sempre o fascinou, Noah conseguia sentir quando ela queria fazer um comentário com o professor das matérias que gostava, a mão esquerda se apertando em volta do lápis conforme ela pensava em abrir a boca – por sempre observá-la, ele também sabia que ela afrouxaria o lápis na mão e desistiria de falar algo no último segundo, porque não se sentia bem-vinda o suficiente para isso.

Observava os livros estranhos que ela carregava no braço consigo, um diferente a cada semana, o que ninguém parecia notar além dele. Geralmente, livros de terror do Stephen King que provavelmente o fariam dormir de luz acesa por pelo menos uma semana enquanto ela os lia no intervalo tranquilamente, comendo uma maçã.

Ele se lembrava de quando tudo aconteceu entre ela e Zac. Se lembrava de vê-la sorrindo na direção do garoto e sentir inveja do que ele possuía, inveja por não poder segurar a mão da garota durante o intervalo como ele fazia ou de dar a ela uma carona para casa, o que fez com que ela aposentasse a bicicleta temporariamente.

Noah também se lembrava de assistir os dois gritando um com o outro na festa de Trevor. Lembrava de ver os olhos dela marejados enquanto encarava Zac, e lembrava de pensar que ele era o garoto mais idiota do mundo por gritar com ela daquele jeito, mesmo quando ela gritava de volta para se defender.

Se lembrava especificamente de quando Zac espalhou o vídeo íntimo entre os dois, da sua risada insuportável conforme se gabava com os amigos no recreio, do jeito que ele passou a ignorar Blue, como se ela não fosse mais sequer digna das brigas em públicos e dos gritos dele.

Também se lembrava de cada comentário maldoso e misógino que ouviu naquela semana a respeito de Blue Hughes, conforme seus amigos comentavam com ele sobre o material vazado, assumindo que ele também havia visto o grande momento de glória de Zac, e se lembrava de se perguntar porque alguém consideraria que o grande momento de glória de um garoto do último ano era expor sua ex-namorada.

Lembrava de como ela continuou andando pelos corredores do Avenue High com a cabeça erguida mesmo após o vídeo, de como ela ignorou todos os comentários como se eles fossem completamente insignificantes, indignos de sua atenção. Mas também lembrava de vê-la indo embora na bicicleta rosa com os mesmos olhos marejados, agora desprovidos de qualquer brilho.

Noah Jenkins se lembrava, principalmente, de ir até a porta da sua casa depois da aula no dia em que o vídeo foi vazado. Se lembrava que o céu parecia exibir aquele mesmo laranja morno apagado, agora no fim da tarde, de sentir o coração batendo nos próprios ouvidos, no leve tremor da sua mão conforme ele a erguia para bater na porta dos seus vizinhos.

Se lembrava de pensar que não sabia o que iria dizer conforme sua mão pairava para cima, os punhos fechados, parecendo que o ar que deveria ser atravessado entre a mão dele e a madeira da porta era, na verdade, cimento.

A única coisa que ele poderia confessar para sua vizinha que justificasse a preocupação dele era que a amava, que sempre a havia amado. E ele se lembrava que, de jeito nenhum, queria dizer aquilo.

Infelizmente, também se lembrava de soltar a mão do movimento antinatural que parecia ser bater em uma porta. Se lembrava de voltar silenciosamente para casa, sem conseguir fazer nada além de pensar no alívio que havia sido não tomar aquela decisão, mesmo que soubesse que o alívio, no fundo, era apenas um reflexo da sua própria covardia.

Desde que Blue Hughes se mudou para a casa ao lado, Noah só conseguia lembrar do conforto e da frustração que vinham com a certeza de ser um covarde, e isso passou a ser parte do seu cotidiano assim como a paixão secreta pela sua vizinha. Ser um covarde apaixonado por Blue Hughes agora era parte de quem ele era, e, quanto mais o tempo passava, menos ele se importava com isso.

Mas tudo mudou no verão antes do último ano.

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gente, a maioria das mudanças da história vão ser questões de ambientação e organização dos capítulos, porque estava sentindo que a história não estava passando a vibe de verão que eu queria q passasse. a maioria dos diálogos e traços dos personagens vão ser mantidos!! espero que gostem :D

Verão Azul [Em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora