Capítulo 5

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Sentado no sofá da casa de Brandon eu me pergunto pela décima vez o porquê de Sam ainda não ter chegado. Várias prováveis respostas circulando em minha mente. Enquanto ele anda de um lado para o outro na frente da mesa de sinuca encaro o teto, a cor gélida é tão interessante quando relacionada com a decoração da casa. A porta da área de lazer é aberta, o loiro entra com pressa e deixa a porta aberta ao notar minha presença. Sua expressão passa de preocupada para raivosa, ele parece não ter gostado da idéia de dividir o mesmo ambiente que eu.
Eu não o culpo.
Sam se vira, esticando as pernas para deixar a sala antes mesmo de me deixar falar. Brandon corre até ele, a mão esquerda segurando um dos pulsos do loiro de forma delicada.
- Sam, por favor, tenta ao menos ...
- não Brandon, eu não quero respirar o mesmo ar que esse traidor de merda. - a todo momento ele evita de me olhar.
- por favor Sammy, eu sei que é difícil acreditar no contrário depois de tudo o que você ouviu e viu nesses quase dois dias, mas você precisa ouvir o que ele tem a dizer, precisa saber o que aconteceu de verdade e depois, se quiser, sair ou não dessa sala.
O loiro respira fundo, cedendo as palavras de Brandon e quase me fazendo pular de alegria quando começa a andar em minha direção. Ambos param frente a mesa de sinuca, as mãos dadas me chamam a atenção por um momento.
Como eu sinto falta dela.
- você tem exatos cinco minutos para me convencer de que não traiu a minha morango. - Sam me fuzila com o olhar enquanto fala, fazendo parecer que ele pode sair dessa sala de uma hora para outra se eu não tomar cuidado com as palavras. - não desperdice meu tempo Grayson, tem uma pessoa precisando de mim.
- tudo bem, eu só não sei por onde começar. - bato as palmas das mãos nas coxas, pensando em como minha mente pode ficar confusa ao me recordar da ruiva.
- comece pela parte em que você deixou a Mia no ginásio e foi resolver o problema com a limousine. - Brandon me ajuda, recebendo um breve olhar mortal do namorado.
- assim que eu deixei o ginásio percebi que Raven estava encostada em um dos lados do corredor. Eu tentei passar reto, estava com pressa de resolver o problema com o motorista da limousine e voltar logo para Mia, mas aquela garota me cercou quando começou a ofender a ruiva. - mordo meu lábio inferior por um segundo antes de continuar. - nós tivemos uma breve discussão, se é que eu posso usar esse termo que para definir o que realmente aconteceu. Eu me aproximei demais dela, segurei seu maxilar para não deixar com que ela desviasse os olhos dos meus enquanto dizia as verdades que tanto merecia ouvir. Raven se aproveitou dessa proximidade para forçar um beijo, não passou de dois segundos e eu a empurrei, foi nesse momento que eu ouvi um barulho e olhei em direção a porta do ginásio.
- daí em diante eu sei o que aconteceu. - Sam arqueia uma das sobrancelhas. - mas o que te faz acreditar que eu vou engolir isso ? Você pode muito bem estar manipulando a situação a seu favor.
- eu nunca trairia a Mia e não seria a primeira vez que Raven faz algo desse tipo. - digo calmo, sabendo que ele só está tentando proteger a amiga. - agora se deve acreditar ou não em mim, é escolha sua. Mas eu espero que acredite...
Brandon aperta a mão do loiro, o encarando com aquele olhar de quem implora por uma consideração e uma chance de me dar o direito da dúvida. Coço a ponta do nariz, esperando pela resposta de Sam.
Seja ela positiva ou negativa.
- o que você espera que eu faça se, por acaso, eu decidir acreditar em você ? - ele rola os olhos, suspirando fundo ao terminar de falar.
Um sorriso torto apare em meus lábios, a ideia de ter Mia de volta em meus braços está começando a se tornar realidade.
- eu só quero falar com ela, tentar convencê-la de que eu não fiz aquilo e com que fazer isso - enfio a mão no bolso frontal da mochila e retiro a caixa com nossas alianças. - volte para os nossos dedos.
- ela não vai querer falar com você Andrew.
Eu sei, por isso você está aqui.
- eu sei disso, pensei que você poderia me ajudar a encontrar a ruiva em algum lugar sem ela saber. - junto minhas mãos, o nervosismo subindo em meu sangue.
- eu não sei se é uma boa ideia, não quero que ela fique chateada comigo de alguma forma e me afaste também.
- Sam, por favor, eu só preciso de dez minutos sozinho com ela. - abro um pouco mais os olhos, sentindo o coração bater mais forte no peito.
Ele parece pensar um pouco, a mão se soltando da de Brandon e indo de encontro a outra para alisar as bochechas. O loiro está em dúvida se deve ou não acreditar em mim, repensando várias vezes nas possibilidades do número de maneiras diferentes que eu posso inventar algo que me coloque como vítima nessa situação, mas Sam entende que eu nunca me faria de vítima para me safar de algo. Todos sabem que Andrew Grayson nunca foge das consequências de seus atos, sejam elas boas ou ruins.
- eu te ajudo, mas se você estiver mentindo... eu juro que trato de fazer de tudo para que Mia te esqueça e siga a vida dela. - ele diz decidido.
- obrigado Sam, e eu não estou mentindo. Vou provar isso.
- você não tem que provar nada para mim, tem que provar para a minha morango que você não a traiu com aquela nojenta.
- eu vou, mas preciso falar com ela antes e garantir que Anthony não chegue perto demais.
- pode deixar que desse Grayson canalha cuido eu, se preocupe em deixar Raven longe de você e longe da Mia.
Aceno com a cabeça e me deixo sorrir de verdade.
Esse inferno vai acabar.
Me levanto, pegando a mochila de cima do sofá e a jogando sobre o ombro esquerdo.
- não faca nenhuma burrada até eu conseguir esse encontro, okay ?
- o que eu poderia fazer ?
- não sei, você gosta de superar as expectativas que as pessoas colocam em você.

" "

A noite não demora a cair, o céu continua limpo e o vento ainda gelado. Em frente ao espelho do closet noto o quanto essas quarenta e oito horas foram o suficiente para que minha vida mudasse bruscamente de rumo e ainda sim, quem saiu ferozmente machucado não foi eu. Os olhos verdes que herdei do meu pai não negam o quanto achar que tudo está no controle está presente em nosso sangue. O barulho na porta me faz deixar o cômodo ainda sem camisa, caminhando descalço até às proximidades da minha cama e rolando os olhos ao notar que Anthony está escorado no batente da porta.
- será que eu devo te agradecer por ter facilitado tudo ? - o sorriso irônico em seu rosto me faz fechar os punhos.
- isso não acabou ainda Anthony, não venha esfregar na minha cara uma vitória que não existe.
- ainda não existe Andrew, mas vai.
Cruzo os braços, ainda encarando seus olhos azuis que tanto me lembram a minha mãe, mas que totalmente transmitem coisas diferentes.
Ódio é diferente de amor.
- pode ficar tranquilo maninho, eu vou cuidar bem da ruiva.
E antes que eu possa responder, Anthony deixa seu lugar e fecha a porta. Suspiro lentamente, forçando meu corpo a permanecer parado enquanto a raiva é absorvida. Fecho os olhos, me virando devagar. Ao abrí-los novamente a janela de Mia é a primeira coisa que eu vejo, a cortina  branca balança de forma lenta de acordo com o soprar do vento. A luz está acesa e eu permaneço com a esperança dela aparecer na janela, nem que seja apenas para fechá-la.
E quem diria que eu ficaria parado em frente a janela esperando para ver seu rosto.
Nem que seja apenas por um momento.

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