Capítulo 38

11.1K 1K 167
                                    

- vamos droga !
Jason passa a bola para mim quase antes do cronômetro marcar quinze segundos para o final do treino. Giro rápido, tentando me esquivar das tentativas de roubo de bola de Kevin e Daniel. Olho ao redor, pensando na melhor maneira de passar para Brandon e finalizar a jogada. Um baque é sentido e a dor de instala na minha perna esquerda, o apito do velho Martin é ouvido e o treino para. O chão nunca me pareceu um bom lugar para se ficar, a dor que sempre foi minha válvula de fuga para meus problemas se torna minha fraqueza.
Tudo parece doer.
- eu estou bem. - digo antes que mãos comecem a tocar meus braços.
- então levanta e vai tomar um banho,  todos vocês estão fedendo.
Apoio as mãos no chão, erguendo o tronco para me sentar e analisar meu joelho. A marca vermelha provavelmente irá ficar roxa depois, mas um hematoma físico não é nada perto de um psicológico.
- sabe que não deveria ser assim, não sabe ?
- ser assim o que Carter ?
- você e Mia. - me levanto rápido, me negando a acreditar que novamente Daniel está se metendo nosso.
- não se meta cara. - digo firme, ignorando seu olhar de repreensão. - eu já cansei desse seu olhar de pena sendo que você é o primeiro da fila a gostar da notícia.
- acha mesmo que eu gosto de vê-la triste ?
- bom, você não parecia se importar quando a tratava mal a algum tempo atrás, quando inventava apelidos para ela e a deixava amedrontada com olhares raivosos.
Daniel desvia o olhar para o chão por um breve momento, perdido nas lembranças que voltaram após a minha declaração.
- não se faça de bonzinho agora porque você não é, não finja que se importa com ela porque você não se importa, e muito menos não diga que é um erro nós estarmos separados porque você não sabe o motivo. Vá lá, seja o príncipe arrependido que toda garota adora ter por perto.
Meu corpo se arrepia, sinal de que eu já disse mais do que deveria. Deixo a quadra rapidamente, os pés doendo pelo caminhar duro, o joelho esquerdo um pouco tensionado. Retiro alguma fios soltos da testa, empurrando as portas do vestiário com brutalidade. Cansado de ouvir coisas que eu já sei.

" "

Encerro a ligação rápido, visando entregar os documentos ao meu pai antes das seis da tarde.
Eu preciso ir para casa.
Preciso da minha cama.
Do frio do meu quarto.
- parece que alguém está chateado.
Até então a presença de Charlotte não foi notada por mim, o fato dela estar sentada em cima da ponta esquerda da minha mesa com as pernas cruzadas só deixa as coisas mais excêntricas.
- não deveria estar trabalhando ? - coço minha sobrancelha direita antes de voltar a olhar em sua direção.
- e eu estou, garantir que sua concentração esteja nas planilhas e não em outro lugar faz parte do meu trabalho.
- achei que fosse minha secretária, não minha babá. - largo a caneta sobre as folhas, me deixando encostar no apoio da cadeira.
- não sabia que precisava de uma babá. - ela parece irônica, mas sei que tem humor o suficiente para estar sendo verdadeira.
O rumo dessa conversa está indo para um lugar que eu não quero chegar, os olhos dela não deixam os meus e isso ... Me incomoda.
- por que acha que eu estou chateado ? - pergunto por fim, querendo saber se ela pode entender as motivações da ruiva.
- seus olhos, seu jeito de conversar. Tudo em você entrega que ela fez mais estragos do que você mesmo pode contar. - Charlotte desce da mesa, dando a volta e parando logo ao meu lado.
Ela se escora na madeira escura, as pernas esticadas sobre o salto alto.
- sua forma dura não esconde seus sentimentos Andrew.
- acha mesmo que eu tenho sentimentos ? - brinco, sabendo que são eles os culpados pela minha dor.
- se não tivesse, não seria humano.
Os cachos caem sobre seu busto, o rosto em perfeita harmonia com todo o resto.
- já pensou em ficar com outra pessoa ?
A pergunta dela me pega de surpresa, encarar seus olhos castanhos se torna algo para lá de estranho.
- sinceramente, não.
- está aí o seu erro. - minha expressão confusa faz com que ela se ajeite mais a mesa, voltando a se sentar e a cruzar as pernas claras na minha frente. - esperar por essa garota faz com que ela pense que, não importa o que ela faça ou diga, você sempre vai estar lá. Esperando pelo sinal para voltar rastejando para ela.
- é isso que você pensa ? - me levanto, cara a cara com Charlotte para saber sua real intenção. - que eu sou apenas um cachorro esperando um assovio para voltar abanando o rabo ?
- é isso que você quer que eu pense senhor Grayson ? - ela provoca.
Beijar Charlotte poderia ser a saída que eu tanto pedi, mas eu não me sentiria bem beijando ela ... Pensando na ruiva. Além disso, ela é minha secretária.
- pense o que quiser senhorita Evans.
Saio de perto dela, apanhando minhas pastas e deixando a ali, com seu real descontentamento e decepção.
- temos um reunião agora, você vem ?-  pergunto parado na porta, aguardando com que ela desça da mesa.
- Si signore ( sim senhor).
Sorrio fraco, balançando a cabeça negativamente ao vê-la passar por mim como um furacão.
Mulheres são incompreensíveis.
Apenas a sigo pelo corredor, notando o quanto o humor dessa texana pode mudar de acordo com nossas expectativas. Mas o que ela queria que eu fizesse naquele momento ? Charlotte é quase três anos mais velha que eu, é decidida, inteligente e bonita. O que ela iria querer com um garoto de dezessete anos que ainda sofre pela ex namorada ?
- sabe, eu não entendo as mulheres. - digo alto, querendo que ela me responda antes de entrarmos na sala de reunião.
- não precisa entender uma para se estar na cama dela Grayson.
Assovio, recebendo a resposta como a indireta que Anthony adoraria ouvir e com certeza, aproveitaria da melhor maneira possível. As portas da sala abertas impedem que eu a responda, na real, impedem com que eu passe a vergonha de me manter calado por não saber o que responder.
Definitivamente, Anthony só colocou mais um probleminha nas minhas costas e quem sabe, eu não possa devolver esse problema a ele daqui a um tempo. Os representantes dos sheiks estão sentados em seus respectivos lugares, os advogados e tradutores sentados próximos a eles só me causa mais um arrepio. Homens importantes demais no mundo dos negócios prestes a ouvir as ideias de um aspirante a administrador.
- agora podemos começar.
As funcionárias fecham as portas após a minha entrada e eu me sento ao lado esquerdo do meu pai, sendo que Anthony ocupa o lado direito.
A trindade Grayson ocupando seu lugar.
Os negócios foram fechados, houve poucos questionamentos e mudanças nos contratos, milhões foram investidos e futuramente se tornarão bilhões. A Grayson Company está crescendo a cada contrato assinado, recebendo por suas compras, vendas e construções.
- estão vendo garotos. - meu pai para ao meu lado e de Anthony para observar a escuridão do céu noturno.- as pessoas vem e vão lá embaixo não tendo a mínima noção do que acontece dentro desses prédios, boa parte da economia do estado passa por eles e os mesmos não tem a mínima noção disso.
- o que você quer dizer com isso ? - pergunto, encarando meu reflexo na janela.
- que assim como eles, nem nós temos total controle do dinheiro em nossas mãos. E por isso, devemos saber dar valor a aquilo que temos e agradecer por nos disponibilizar uma certeza do amanhã.
Enfio as mãos nos bolsos, o peito esmagado pela incerteza que não deveria existir. Decidi deixar a sala, o corpo pesado pela tensão e a roupa mais quente do que o normal. Boa parte do prédio já está vazio, os faxineiros fazem sua limpeza noturna para poderem então irem para as suas casas. Aperto o botão de elevador, a música de fundo me deixando imerso no mar escuro que eu costumo chamar de mente. Pego o celular no bolso interno, conferindo as horas.
Sete e meia da noite.
A foto de fundo me tira a atenção, as memórias do dia da praia voltando de uma só vez. Um sorriso melancólico surge em meus lábios.
- será que o seu tempo vai superar a minha saudade ?

Desço do carro, desejando apenas um banho gelado e minha cama. Prestes a abrir a porta de casa noto uma movimentação estranha no quintal vizinho, o que atrai meu olhar em direção a casa dos Collins. Os mesmos caras enormes do dia em que Benjamin arrastou Mia para casa estão lá, parados na porta com os braços cruzados.
Isso não é bom...

Collins Onde histórias criam vida. Descubra agora