Ao abrir os olhos, me vejo encarando um teto de madeira e palha seca, com algumas falhas, permitindo que eu pudesse ver um céu azul não muito escuro, indicando que estava amanhecendo ou anoitecendo, não sabia bem que horas eram e nem por quanto tempo fiquei desacordada. O cheiro forte de urina e fezes, juntamente com os gritos de um homem fazia com que minha dor de cabeça aumentasse e os olhares das pessoas ao meu redor me deixavam ainda mais desconfortável.
— Mamãe, ela acordou... - uma garotinha, provavelmente 5 ou 6 anos, murmura à mulher ao seu lado.
— Se afaste... Ela é perigosa.
— Uh... O que aconteceu? - digo baixo, me sentando devagar, vendo as pessoas se afastarem com olhares assustados.
— Oh, a nobre dama acordou? - uma voz familiar ecoa pelo ambiente, trazendo à tona as lembranças de momentos antes de eu acordar.
Tá de brincadeira...
- Bem vinda ao seu lar temporário, logo logo encontraremos um comprador muito gentil pra você, então não se preocupe tanto, hum? - Min, o homem de dentes podres e bafo nojento, se aproxima das barras grossas de madeira da cela - Você é exclusiva, uma raridade que pagarão muito caro para ter.
— Qual é o seu problema? Isso não tem graça! Eu exijo que me tire daqui, agora! - fico de pé, apoiando-me na parede - Isso é sequestro!
— Oh! A princesa está me ordenando?! Hahaha! - ele gargalha, se engasgando brevemente com a própria saliva - Não sei se percebeu, mas quem está na cela é você... Sabe, estive pensando há um tempo e acho que você daria uma bela gisaeng, ao invés de uma escrava de campo. Alguns homens gostam de uma diversão exótica.
— Uau... Gisaeng? Isso é o quê? Joseon? Goryeo? Eu sei o que vocês pensam sobre as estrangeiras, mas não sou uma prostituta! - retiro meu sapato e o jogo entre as barras, quase acertando sua cabeça - Me tire daqui!
— Sua... QUER MORRER?
— Se isso era uma pegadinha, foi uma de muito mal gosto! Ou você realmente é um louco que acha que estamos na idade média! Falta só falar que o rei, seja lá quem for, vai me matar se descobrir que estou aqui, como se eu estivesse em uma caça às bruxas! Qual é o rei? Chang? Gongyang? Taejo?
— Como ela sabe o nome dos reis anteriores? - um dos homens presos comigo pergunta ao outro.
— Eu acho mais assustador ela saber o nosso idioma... - o outro responde.
— Meu Deus... Vocês realmente acham que estamos em uma dinastia?
O que há com essa gente?
— Em que ano estamos? - pergunto, sem entender como ninguém reagia às coisas que Min fazia.
— Ano? Esse vocabulário é de Ming (China)?
— Caramba... - suspiro, passando a mão pelos cabelos - Okay, hum... Como vocês chamam este país?
— Joseon, você entrou aqui sem saber disso? - pergunta uma outra mulher.
— Podem parar com a conversa? - Min nos interrompe - Ei, Seo Han, leve seis escravos para o mercado, quero eles vendidos até o fim do dia.
— Sim, senhor. - um homem, vestido de preto, abre a cela e entra com dois acompanhantes, puxando pelo braço homens e mulheres contra suas vontades.
— Ei, você não pode fazer isso! - tento impedir que uma mulher seja separada de seu filho, mas o sequestrador aponta uma adaga para mim, me obrigando a ficar longe dos dois - Isso é errado! Ela é uma pessoa, não um objeto!
— Todos eles estão aqui porque não pagaram seus impostos ou porque não têm dinheiro para viver. Eles são vendidos para família ricas e assim conseguem sobreviver. - Min cruza os braços, me olhando com desdém - Por que acha que ninguém está reclamando?
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Até que o tempo nos separe (ou não)
Historická literaturaAmor. O amor é um dos sentimentos mais puros que o ser humano consegue expressar. É também um dos mais perigosos. Em nome do amor, as pessoas cuidam, apreciam uns aos outros. Em nome do amor, venerado amor, elas machucam, aprisionam-se a uma ilusão...