#10 Uma grande rainha {Revisado}

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Tomei um banho após o treino que tive com Cristian. Havia gostado muito, além de divertido era algo útil. Diversão é algo raro na vida de uma princesa. Passei o dia muito ocupada com meu pai, tinha atrasado algumas coisas com a chegada de Cristian ao castelo e agora deveria voltar aos meus afazeres.

Horas mais tarde, depois de resolver as tarefas, estava indo para o meu quarto quando vejo Clarice no caminho. Não era normal ela estar naquele lugar já que detestava me ver, mas logo percebo o motivo de ter vindo. Ela dava gargalhadas exageradas e forçadas ao lado de Cristian, que ria de maneira sútil. Era nítido o quanto minha prima estava sendo atirada e alguma parte de mim achou aquilo um desrespeito comigo, talvez por eu ser a noiva dele ou simplesmente por odiá-la.

Tentei passar direto sem ser percebida, mas seria impossível já que passaria ao lado deles. Cristian me encarou quando nossos ombros se roçaram por causa da passagem estreita; Clarice, como sempre, não se deu o trabalho de notar minha existência e isso só aumentou minha vontade de tirá-lo de lá.

Virei no corredor que dava para o meu quarto e voltei a respirar normalmente. Nem havia notado que estava segurando o ar. Segui o corredor, passei pela porta do meu aposento e fui para a enorme varanda. Eu pretendia evitar Clarice durante o tempo em que estivesse ali, mas não iria me trancar dentro do meu quarto e me restringir a apenas aquele espaço, afinal o castelo é minha casa e não dela.

Minutos após ter chegado e me apoiado na sacada para sentir o vento bater nos meus cabelos loiros e aliviar o momento de tensão, Cristian chegou. Ele se aproximou e se apoiou ao meu lado, respirando o ar gostoso que aquele lugar nos trazia.

— Não sabia que odiava tanto Clarice ao ponto de evitá-la em seu próprio castelo. A princesa não deveria cumprimentar todos os visitantes? — Eu o olhei de canto, notando seu sorriso involuntário.

Naquele momento, a última coisa que eu queria era uma discussão com ele. Minha cabeça parecia queimar de dor, meus dedos estavam doloridos por ter passado tanto tempo escrevendo relatórios e o cansaço fazia parte de mim.

— Não quero falar disso… Na verdade, não quero conversar com você agora. — Tentei sair de lá e ele segurou meu braço. Poderia jurar que um arrepio subiu das minhas pernas até meu pescoço, me fazendo esquecer como respirar. Conheci então as famosas borboletas no estômago. Quando virei meu rosto e o olhei, ele não estava sorrindo tão pouco irritado, parecia neutro.

Será que só eu sentia aquilo? Que aquela sensação só estava dominando meu corpo e o dele não?

— Fica! — ele disse soltando meu braço.

Fui capaz de ver em seus olhos que ele não estava bem e queria minha companhia, mas nós não tínhamos intimidade o suficiente para eu perguntar o que estaria lhe afligindo. Dei meio volta e sorri como sinal de trégua por aquele momento. O vi fechar os olhos quando uma brisa suave nos tocou e ele sorriu. Pela primeira vez vi um sorriso puro, sem aquela pitada de deboche ou malícia, era apenas um sorriso na sua forma mais verdadeira.

— Você será uma grande rainha um dia — ele disse ainda com os olhos fechadas e eu pude sorrir orgulhosa que ele não veria. Era satisfatório ouvir justamente dele que eu seria uma boa rainha se ele até agora não demonstrava perceber meu potencial.

— E você seria um grande rei… se não estivesse um passado tão escandaloso. Sabe que será difícil meu reino aceitá-lo, não é? — Ele abriu os olhos, me encarando confuso. Será que ele não sabia que sua reputação não era das mais limpas?

— Do que você está falando?

— De você ter matado uma princesa e toda a família dela — ele riu, mas dessa vez não era de alegria. Parecia horrorizado com o que ouvira de mim, mas era a verdade e eu não poderia enganá-lo dizendo que tudo será flores, terá grandes e afiados espinhos se ele quiser ser aceito como Rei de Islerin e um deles será eu que já não o quero.

— Não acredito que você realmente acha que eu mataria quem eu amo. Principalmente se ela estivesse gerando um filho meu. — Fiquei surpresa, do bebê eu não sabia…

Tentei me aproximar, mas ele se afastou e isso me doeu mais do que eu previa. Ele virou as costas para mim, olhando o outro lado da varanda.

— Eu nunca machucaria Ellena! Posso ser cruel, mas ainda tenho um coração e Ellena o tinha — ele dizia, segurando a sacada com mais força a cada palavra.

Se eu pudesse olha-lo agora, sei que veria lágrimas descendo em seu rosto. Também compreendo o quão difícil é perder quem se ama e eu havia sido dura demais com ele.

Cristian continuou:

— Você dá ouvidos a boatos sem querer saber a real história.Você poderia ter vindo me perguntar, mas quis me julgar desde o primeiro dia em que cheguei aqui, não é? Já matei pessoas, assim como todos os reis que você conhece. Questione seu pai e veja se ele consegue dormir sabendo que no campo de batalha matou pais de família que eram responsáveis por sustentar a casa, eu sinto o mesmo… Angústia, insônia… Sou julgado sem ao menos ter o direito de me defender e eu realmente achei que o jeito que me tratava era apenas por não querer se casar, mas você com todos os outros me acham um assassino, não é Princesa Seleste? — ele se virou rápido, me olhando com ódio. Percebi que ele não estava chorando como imaginei, mas sim possuído por uma raiva que ainda não havia visto nele. Não me atrevi a falar nada e ele prosseguiu: — Se você tivesse me perguntado, saberia que Ellena foi morta pelo próprio pai que não nos queria juntos. E eu apenas me vinguei matando a mulher dele. E quer saber? Não me arrependo de nada. Só de ter dito que você seria uma grande rainha… Mas do jeito que você julga sem saber, creio que estive errado em meu julgamento.

Ele virou-se na direção da grande porta de entrada para o castelo e entrou sem ao menos se importar com as palavras que havia jogado em mim. Eu realmente o achava um assassino, todos diziam isso dele e agora posso ver o quão injusta fui… Julguei alguém sem lhe dar o direito de defesa. Ele estava certo, eu não seria uma grande rainha.

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⏰ Última atualização: May 04, 2020 ⏰

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