0 • De seu eterno amigo e confidente, Cosmo Brown Jr.

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Queridos amigos, amores e companheiros,

sei o quanto meu nome deve lhes causar arrepios graças à fama que levei por todas essas ruas e vielas que bem conhecemos. Em toda a minha ordinária vida, eu fiz muitas coisas. Coisas das quais me orgulho, outras nem tanto. Acreditem quando digo que não há vida sem arrependimentos, da mesma forma que não há arrependimentos sem aprendizados.

Das coisas das quais eu me orgulho, eu me orgulho dos meus arrependimentos. Mesmo dos erros mais constrangedores, eu me orgulho. Constrangimento é algo comum para aqueles a quem ofereci um ou dois conselhos, afinal, as palavras que devemos ouvir nem sempre são aquelas que queremos que nos digam. Mas, reconheço que, nem sempre estamos prontos para ouvir o que deve ser dito. Por isso, devo lembrar-lhes de que são inteiramente livres para romper estes lacres no momento em que bem quiserem. Mas não os abram tardiamente, esse é um conselho meu que devem considerar com zelo.

Mais um conselho que eu tenho feito um esforço considerável para seguir e que gostaria de compartilhar com vocês é que não tenham medo de si mesmos. É por temer quem somos que nos cegamos para aquilo que há de pior dentro de nós. Com isso, ferimos as pessoas que amamos e nos afastamos delas. Pelo medo de quem somos, criamos desculpas e culpamos uns aos outros pelos nossos próprios defeitos. Eis que o orgulho se torna nosso maior inimigo. Esse inimigo é manipulador e é fácil se deixar seduzir por ele.

Não digo isso como quem acha que é imune ao orgulho. Eu sei do que falo, pois sou orgulhoso. Reconheço que posso estar errado em meus conselhos e vocês não são obrigados a aceitá-los. Diferente do que muitos dizem por aí, não guardo a verdade sobre o universo sob todas essas rugas que o tempo me forneceu. Engana-se quem acha que a velhice é sinal de sabedoria. Aquele que é cego para si mesmo está longe de ser um sábio.

Por fim, peço que não tenham raiva de mim. Não sou muito mais do que um velho tolo, como vocês costumam dizer. Mas, se ficarem enfurecidos com as coisas que escrevi para vocês, talvez esse velho tolo saiba de alguma coisa, afinal.

Envio-lhes tais cartas, não porque acho que estou certo, mas porque estou certo de que é o melhor que posso fazer por quem nunca fiz coisa alguma até, enfim, deixá-los e seguir para as linhas finais de minha vida, amarrado apenas à fiel ignorância, que jamais me deixou por conta própria.

Desejo-lhes, com minha mais sincera ingenuidade, toda a felicidade do mundo.

Atenciosamente,

Cosmo Brown Jr.

💬💬💬

✏ A ideia de escrever as cartas de Cosmo foi baseada no tempo em que eu e Liza (LizaSV_) costumávamos trocar e-mails e era só assim que a gente se comunicava. Quando uma de nós quer fugir do Whatsapp, ainda fazemos isso.

✏ Eu fiquei com receio de chamar o narrador de Cosmo. Quer dizer, eu queria muito fazer uma referência ao Donald O'Connor, mas eu estava com medo de pensar em Padrinhos Mágicos toda vez que eu sentasse para escrever. Fala sério, ninguém consegue se concentrar desse jeito.

Palavras que devemos ouvir terá mais 10 cartas depois dessa introdução. A última delas será para ele mesmo. Todas as nove cartas foram enviadas aos seus respectivos destinatários pelo seu segundo filho, Thomas Brown, de seu segundo casamento. A última carta foi enterrada com Cosmo porque ninguém sabia dizer qual era o CEP do Além.

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