Belo Horizonte – Minas Gerais
Oh meu Deus me traz de volta essa menina
Porque tudo que eu tenho é o seu amor
João de Barro eu te entendo agora
Por favor me ensine como guardar meu amor
João de Barro – Maria Gadú
Matheus Ribeiro
O dia começou frio e chuvoso. Não que eu estivesse dormindo para apreciar esse momento embaixo do meu edredom. Pelo contrário, estava trabalhando desde a noite anterior.
Ás 8h da manhã, a sensação térmica estava baixa, até para quem usava um uniforme adornado de equipamentos que chegava a pesar nove quilos a mais em seu corpo. Lá pelas 11h, o sol deu as caras e para variar, o aparecido estava nervoso. A temperatura subiu rapidamente fazendo com que eu me sentisse em uma das praias do Rio de Janeiro. Depois do almoço, o céu escureceu e uma garoa nos presenteou com algumas poucas gotas — egoísta! — Mal molhou o asfalto, por sinal, e uma hora depois, o sol escaldante fervia a viatura, transformando-a em um inferno sob quatro rodas.
O tempo em nossa cidade vivia de TPM e nós que pagávamos o pato.
Como se não bastasse, a minha noite de plantão foi um absoluto inferno. O cabo Siqueira, com quem eu trabalhava desde que deixara de ser um recruta, era o único que gozava de um pleno e maligno humor. Maldito Siqueira!
— Poderia ser pior... — alegou, segurando uma risada que não demorou muito a liberar.
Ele deu mais uma gargalhada, observando minha farda, antes marrom e extremamente bem passada, completamente suja por algo que eu ainda não fazia ideia do que era. Tinha cheiro de vodca misturado com o xixi do diabo.
— Eu odeio o carnaval! — bufei, tentando entender por qual motivo eu não me joguei no chão feito uma criança, implorando para ficar bem distante daquele amontoado de gente no centro de Belo Horizonte quando tive a chance.
Ah, me lembrei... Porque eu não tinha opção.
Meu turno caiu em um dos dias mais movimentos do carnaval de Belo Horizonte. E eu, infelizmente, fui escalado para ficar nos arredores próximos ao quartel, na Savassi. Mais conhecida como "o olho do furacão" na semana do carnaval. Para ajudar, enquanto fazíamos a ronda durante o fim da primeira noite de serviço, uma garota tropeçou em cinco caras, esbarrou em uma banca que vendia cervejas, catou alguns cavacos pelo caminho, e veio cair no colo de quem?
No minuto em que eu a vi capotando feito um carro desgovernado em nossa direção, eu soube que ia dar merda. O cabo Siqueira, mais esperto que um chimpanzé, deu um passo para trás, deixando-me sozinho na mira daquela maluca. A garota estava pintada da cabeça aos pés. Eu não fazia ideia de qual era a cor daquele cabelo. Loiro, vermelho, azul, roxo... talvez multicolor? Enfim... a purpurina em pessoa caiu em cima de mim como uma jaca. Não tive tempo de ordenar que ela se afastasse, ou ao menos empurrá-la para longe. Ela pendurou em meu pescoço, agarrando-me com aquelas garras de gavião, arranhando minha pele enquanto vomitava todo tipo de esquisitice que algum dia ela havia ingerido em cima de mim.
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Minha essência, meu amor
Short StoryUm policial militar vê seu turno virar de pernas para o ar quando precisa salvar sua ex, uma linda jovem, com o temperamento bem explosivo, fantasiada de coelha em pleno o carnaval de Belo Horizonte. O coração do soldado Ribeiro está acelerado e ele...