Nada como o carnaval

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É que meu pente perguntou do seu cabelo

Ouvi reclamações do meu espelho

Querendo saber de você

Que dia ele vai te ver?

Medida certa – Jorge & Mateus

Matheus Ribeiro

A noite chegou e uma brisa leve ameaçou dar algum descanso para nossa pele quente sob a farda. Estávamos equipados com capacetes, um bastão de madeira na mão, apostos e coturnos pesados. Fora a ponto quarenta presa ao coldre em minha cintura. Tudo em seu devido lugar. Eu já havia me acostumado com o peso que sobrepunha àquela vestimenta.Entretanto, isso não diminuía o calor que sentíamos ao ficar expostos sob um sol escaldante como o daquele dia.

O turno da noite fora mais tranquilo do que eu previra. Se tranquilo for a definição de "ninguém vomitou em mim".

O problema maior estava dentro da minha cabeça. Minha mente insistia em se distanciar daquele mar de gente até alcançar um par de olhos escuros, doces e irritados na mesma proporção. Eu não conseguia tirá-la da minha cabeça. Não conseguia mais me manter alheio esperando o momento certo. Aguardando sua permissão para me aproximar novamente e recuperar a minha mulher. Minha mulher... só de imaginá-la ali, sozinha, ou melhor, sem mim, meu coração se desfazia, misturando-se ao estômago que por pouco não saia pela boca.

Alternei os pés, mantendo o olhar altivo, sério como o serviço exigia, principalmente no carnaval, parado na praça da Savassi — o centro do inferno — enquanto Siqueira me observava de canto de olho. Desde que deixamos a viatura para seguir a pé ele me encarava como se a qualquer momento eu fosse desaparecer na multidão colorida à nossa frente. Queria perguntar algo, eu sentia isso.

Um grupo de pessoas passou ao nosso lado, gritando, ropiando, dando cambalhota e cantando a maldição da música da Jennifer. Se eu continuasse ouvindo essa porra a noite toda atiraria em alguém bem aqui no meio. Bufei, irradiando meu nervosismo.

— Garoto, você deveria falar logo com aquela moça. — Ele encarava um grupo de amigas que estavam conversando distraidamente perto da fonte de água da praça. Uma delas usava uma fantasia de coelha idêntica a de Alice.

Resolvi não me iludir. Havia ficado o dia todo a procurando por ali. Como se nada no mundo tivesse mais sentido. Depois de esbarrar com 429 coelhas diferentes, acabei entendendo que o destino nunca foi bonzinho comigo. Não seria hoje, em pleno carnaval, que ele abriria uma exceção, certo?

— Aquela ali não é ela. — Quase fiz um beiço. Minha irritação começou a se tornar palpável.

— Eu sei, Ribeiro. — Siqueira ergueu a postura, divertindo-se a minha custa.

Minha essência, meu amorOnde histórias criam vida. Descubra agora