Mì persona favorita

4

Acordei mais cedo... havia deitado ao lado de Barbs no sofá com intenção de cochilar e peguei no sono pra valer. Estava doída. Era uma manhã de sábado ensolarada. Apesar disso pensei: Incrível a capacidade de fazer sol durante a semana e chover no final dela. Pensei que Bárbara também deveria estar meio doída. Passei a mão por baixo dela e ergui a mais nova. A levei no colo até a cama com todo o cuidado. Ouvindo ela sussurrar algo inaudível. Deveria estar sonhando pensei... A cobri com uma manta. O ar do quarto estava gelado. Aumentei a temperatura e olhei o relógio era 4 horas da manhã.

Peguei um livro aleatório para ler. O reconheci. Comprei primavera passada. Li a contracapa . Era romance. Gostava de romances. Mas a maioria era hetero. E o esforço que eu tinha que fazer para imaginar os casais como pessoas do mesmo sexo era desgastante. Mesmo tendo a crença que o que acontecia entre duas mulheres numa cama agradava mais ao público masculino do que ao LGBT, gostava de ver representatividade. Havia me assumido pra minha família a algum tempo, mas eles ainda acreditavam ser fase, por não ter tido relacionamentos depois. Nem estava com cabeça. Vez ou outra me pegava pensando. Na moça no meu quarto. Em como me segurava para não fazer nenhuma loucura e conseguir manter nossa amizade. E vivia num dilema. Queria tocá-la, beijá-la. No entanto, sempre algo acontecia e me tirava a coragem, seu namorado ocasional. Alejandra me dizia " é falta de..." e eu a interrompia envergonhada. Afastei os pensamentos. Acho que dá morena, só teria sua amizade... Comecei a ler. Tentando esquecer meus dramas pessoais e mergulhando nos problemas da protagonista do livro.

E por incrível que pareça o livro era bom! pra fazer durmir... quando acordei já havia descoberto a cura pras minhas noites insones.

Fui até o quarto e me deparei com uma cama arrumada e uma Bárbara atrasada pra alguma coisa. Fiquei pensativa.

- Onde está indo?
- Resolver minha vida, maca. Não posso ficar aqui por muito tempo. Fingindo que não tenho problemas.
- Ok, se primeiro vc me contar teus planos...
- Tem coisas que só podemos fazer sozinhas, mas obrigada- disse exibindo um sorriso que me fez bambear. E me dando um beijo doce na bochecha. E simplesmente saindo.

E mal deu tempo de avisar que era sábado e feriado e ela não iria conseguir resolver nada em Monterrey.

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P. O. V

Bárbara

Saí correndo do apartamento de Macarena. Me deparei com uma rua movimentada. Pessoas fantasiadas. Barracas mal organizadas, onde se via comidas típicas. Havia música também... hoje era feriado, me lembrei e vi uma senhora me fitava de longe. Resolvi ir até lá. Até que escutei passos atrás de mim.

- Bárbara?
- O que foi? - me virei
- Esqueceu sua bolsa -disse Maca me entregando minha pequena bolsa.
- Ah obrigado -disse tentando sustentar o olhar da senhora do outro lado da rua. Parecia cigana

- Já teve curiosidade em saber seu futuro, Maca?
- Não, acredito que só eu escrevo meu futuro. Não é algo pronto. Nem previsível. E quem tampouco não consegue perceber algo que está no seu nariz... não iria entender algo complexo como o futuro, mesmo que seja o seu.

Encarei Macarena por uns instantes.

- Ok. Então fazemos assim: eu me consulto e vc fica olhando.- rimos enquanto a puxava em meio aos transeuntes.

Lia Madame Eleonora. Entramos numa tenda improvisada. Quando a olhei de perto percebi ser mais baixa que eu. Tinha o olhar sério e intrigante, unhas cor laranja. A encarei por alguns segundos. Ela arregalou os olhos, inquisitiva.

- Então. Eu vi a placa e...
- Deduziu que sou médium
- Sim...nossa! já começou? - ri boba e empolgada. Puxando Macarena mais uns passos, que suspirou.
- Eu vou ficar lá fora- disse ela soltando minha mão.
- Ok.
Escutei ela se retirar e me sentei.
- Minha pergunta é...
- Sobre o futuro?
- Sim...
- Posso ver sua mão?

Estendi minha mão. Depois de olhar por quase 5 minutos cada detalhe.
- Não me parece...
- Sim?
- Sua mão diz que há uma escolha a ser feita e que você irá se surpreender com os caminhos que seu coração vai tomar. Que nem sempre a vida sorri duas vezes para uma pessoa só. E diz que alguém que nós sabemos quem é, pensa em você mas do que você imagina. E que estará ao seu lado sempre. Nos momentos bons e ruins- olhamos para fora juntas e eu sorri. Macarena estava falando com um homem. Estranhei

- Obrigado. Madame Eleonora.- Ela sorriu. Estendi minha mão com o dinheiro pela consulta. Ela agradeceu.

Saí do recinto. Avistei Maca.

- Como foi?
- Bem, intrigante
- O que ela disse?- ri
- Então queria uma consulta, senhorita achaga? O que houve com só EU escrevo meu futuro?
- Só queria saber, Bárbara- disse caminhando ao meu lado.
- Vai me levar pra casa?
- Não posso, fui convidada a um almoço meio sem graça da minha família.
- E como chegará lá?
- É justamente o que estou pensando. Paramos. A beijei na bochecha.

- Até Barbie
- Até Maca

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