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Eleanor acordou naquela manhã como sempre, às 6 em ponto. Fez sua rotina matinal e depois se jogou no sofá do pequeno apartamento que dividia com a amiga Zélia, saboreando o gosto agridoce de uma fruta. Não conseguiu evitar o sentimento de derrota que a vinha acompanhando desde que se formou, em 2018, sem conseguir um emprego como professora.
Ela escolheu essa profissão porque achava maravilhoso o ato de ensinar. Desde pequena, aprendeu a respeitar os professores acima da maioria das outras profissões, afinal, sem eles, nenhuma outra existiria. Na faculdade, Eleanor tinha aquela ideia romântica de que iria mudar o mundo com sua maneira de ensinar e logo arranjaria uma vaga em uma boa escola ou faculdade. Só que a realidade foi outra, e o sonho foi ficando mais distante.
Depois de refletir um pouco, Eleanor decidiu se arrumar. Tinha uma entrevista de emprego naquele dia e faria de tudo para conseguir a vaga. Vestiu uma roupa formal apropriada para a ocasião, deu um suspiro alto e pensou que, mesmo não sendo o trabalho que ela queria, pelo menos era um emprego. Não era do tipo que desistia fácil, então guardou o sonho de ser professora num cantinho da mente e colocou um sorriso otimista no rosto.
— Eu vou conseguir esse emprego — falou para si mesma enquanto pegava a bolsa com seus documentos e currículo.
— Tá falando sozinha de novo? — Zélia, sua amiga e colega de apartamento, perguntou, ainda com a voz grogue de sono. Ela tinha acabado de acordar e não entendia por que Eleanor ficava tão chateada por não conseguir lecionar, mas sempre a apoiava e evitava questionar.
Eleanor e Zélia se conheciam havia cerca de um ano e meio, desde os últimos meses de faculdade. No começo, não se davam bem, mas quando Zélia precisou de ajuda para passar em uma matéria e o professor recomendou Eleanor, as duas deixaram as diferenças de lado e se aproximaram. Hoje, eram grandes amigas. Zélia tinha um gênio difícil e era meio rabugenta, mas sabia ouvir quando precisava e nunca julgava ninguém pela aparência. Como qualquer pessoa, tinha seus defeitos e qualidades.
— Não falo sozinha! Só penso alto às vezes — Hadassa respondeu, enquanto Zélia revirava os olhos.
— Não se preocupa, você vai conseguir esse emprego. Você tem ótimas qualificações.
Eleanor sorriu para a amiga, que não era muito de fazer elogios, e se despediu. Não estava nervosa, só preocupada em ter que deixar seu sonho de lado por um tempo. Estava confiante de que a vaga seria dela. Afinal, se uma empresa se recusasse a contratar alguém com o currículo que ela tinha para um simples cargo de secretária, outra certamente não faria isso.
Ao chegar à famosa editora Moon, Eleanor se dirigiu ao RH e pediu informações sobre a entrevista. A recepcionista, com um sorriso caloroso, a encaminhou para uma sala. "Pense pelo lado bom, pelo menos é um lugar cheio de livros e conhecimento, não é tão diferente de uma escola," pensou Eleanor.
Ela se sentou em uma das cadeiras disponíveis na sala de espera, em frente à sala da diretoria, e tentou relaxar. Observou as outras candidatas; algumas pareciam nervosas, outras mais tranquilas, mas dava para ver que muitas não estavam preparadas para uma concorrência justa — usavam roupas vulgares e se achavam demais. Eleanor não estava se achando; estava apenas confiante. Gostava de ler as pessoas, e pela maneira de se vestir, comportar e falar, ela sabia que tinha um dom para isso, o que evitava que se deixasse enganar facilmente.
Depois de uns 20 minutos, Eleanor foi chamada para a sala da diretoria. Lá dentro, em uma mesa de granito, estavam o diretor e um dos filhos dele. O diretor, Walter Moon, era um homem de meia-idade, com pequenos olhos verdes e uma expressão amigável, como alguém que sorria muito. Já o filho parecia mais sério, com cabelos castanhos longos e uma barba rala. Era bonito, mas a seriedade tirava um pouco da sua beleza, na opinião de Eleanor.
— Bom dia, Eleanor. Tudo bem? — perguntou o diretor. Eleanor deu seu melhor sorriso e respondeu que sim.
— Vejo que você é muito qualificada para o emprego. Se formou com ótimas notas em Harvard, é poliglota e tem várias recomendações. Agora, me diz, por que decidiu pedir uma oportunidade justamente nessa editora e não exercer sua profissão de professora?
Eleanor sorriu, meio nervosa. Não estava esperando uma pergunta tão pessoal logo de cara. Suspirou discretamente e olhou nos olhos do diretor para responder.
— Pra ser sincera, não exerço minha profissão por falta de oportunidades. Escolhi essa empresa porque vejo a editora como um vasto campo de conhecimento e aprendizado, onde eu posso auxiliar e, quem sabe, aprender mais.
O diretor sorriu, parecendo gostar da resposta, e olhou para o filho, que assentiu positivamente.
— Tudo bem, pode se retirar. Entraremos em contato em breve.
Eleanor sorriu e concordou. Saiu da sala com a sensação de que a vaga era dela. Deu um aceno para a recepcionista ao sair e, assim que chegou em casa, ligou para sua mãe para contar como a entrevista tinha ido bem, mas que ainda não tinha uma resposta final.
— E aí? Como foi a entrevista? — perguntou Zélia, que estava visivelmente mais nervosa que Eleanor.
Eleanor se sentou no sofá e fez uma cara apreensiva, tentando assustar a amiga. Zélia nunca foi de demonstrar muitos sentimentos, mas estava claramente preocupada.
— Não conseguiu, né? Eleanor, eu te falei que você devia ter enchido a cara ontem. Quando você faz isso, fica mais relaxada no dia seguinte...
Eleanor não conseguiu segurar a cara de brava. Sua amiga era tão irresponsável quanto irritadiça.
— Ainda bem que eu não "enchi a cara" então, porque o emprego provavelmente já é meu.
Ao dizer isso, Zélia deu um raro sorriso e abraçou Eleanor. No início, ela ficou em choque, não por ser frívola ou algo do tipo, mas porque esse gesto vindo de Zélia era inesperado.
— Aproveita esse abraço porque ele só vai acontecer de novo quando você se casar — Zélia murmurou, e Eleanor riu, emocionada. Apesar das diferenças, ela sabia que sempre teria uma grande amiga em Zélia, mesmo quando ela agisse de forma inesperada.
Assim que Zélia saiu para trabalhar, Eleanor tirou a roupa social e se jogou na banheira com água morna, tentando relaxar. Pensou que esse era um grande passo para o seu futuro, porque ela não estava desistindo do sonho, só ganhando experiência para conseguir a tão desejada oportunidade.
O celular de Eleanor começou a tocar ao longe. Para não perder a ligação, que poderia ser sobre a entrevista, ela saiu rapidamente da banheira, se enrolou no roupão colorido e correu, molhando o chão, até o quarto onde o celular estava.
— Alô? — Eleanor atendeu da sua maneira habitual com números desconhecidos.
— Por gentileza, gostaria de falar com Eleanor Yoon — uma voz feminina falou do outro lado, e Eleanor automaticamente pensou que fosse a recepcionista da editora, com o sorriso caloroso.
— É ela mesma.
— Boa tarde, Eleanor. Nós somos da editora Moon e é um prazer informar que: parabéns! Seja bem-vinda à equipe Moon. Apareça aqui amanhã com todos os seus documentos e carteira de trabalho.
— Tudo bem, muito obrigada — Eleanor respondeu, sorrindo agradecida, mesmo sabendo que a pessoa do outro lado da linha não podia ver. Depois, encerrou a ligação com um sentimento de vitória.
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Como Cinderela
RomanceEleanor Yoon está imersa em seu trabalho na editora e enfrentando o dilema de equilibrar seus sonhos e responsabilidades. Quando conhece Carlos, um simpático ajudante que se apresenta como assistente do sócio da empresa, ela não imagina que ele é, n...