PRÍNCIPE DA MENTIRA

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Caio acordou cedo naquela manhã, como de costume. Após a rotina matinal, vestiu roupas de caminhada e saiu para correr. Ele sempre teve dificuldade em se concentrar em uma única coisa por muito tempo; foi diagnosticado com déficit de atenção aos sete anos, e isso tornou-se uma característica constante em sua vida. Contudo, algo vinha lhe perturbando nos últimos tempos: Eleanor.

Desde o encontro inesperado com ela na editora de seu pai, Caio não conseguia tirá-la da cabeça. Um mês havia se passado, e eles não mantiveram contato, mas ele ainda se pegava intrigado. Como alguém tão jovem e envolvida no mundo editorial como Eleanor não o reconheceu? Ele era o modelo mais jovem a fazer tanto sucesso, além de ser um dos herdeiros de uma das maiores editoras do país. Sua fama e fortuna não vinham apenas da herança, mas de anos de trabalho árduo e cuidadosa administração dos ganhos.

Quando a conheceu pela primeira vez, na cozinha da editora, ficou surpreso com o fato de ela não saber quem ele era. Pensou que poderia ser uma das fãs que sempre davam um jeito de encontrá-lo, então decidiu manter uma postura casual e inventou uma pequena mentira para testá-la. Contudo, foi naquele breve encontro que ele percebeu algo diferente em Eleanor. O jeito dela era único. O sorriso dela, por exemplo, não era o típico sorriso que ele costumava ver, aquele que dizia: "Ei, Caio, sou sua fã por causa do seu dinheiro e aparência". Pelo contrário, era um sorriso genuíno, que refletia sua própria alegria, sem segundas intenções.

Durante aquele primeiro encontro na cozinha, Caio se sentiu mais leve, mais como uma pessoa comum do que como o famoso modelo herdeiro. Ele riu com ela, conversou, mas ao fim do encontro, em meio à conversa e ao inesperado charme dela, esqueceu-se completamente de pedir o número de telefone. Só depois, já sozinho, se deu conta de que havia deixado escapar a oportunidade. Esse pensamento o perseguiu durante todo o mês seguinte.

Enquanto corria, essas memórias voltaram à tona. Ele parou por um momento, suspirou e bebeu um pouco de água, frustrado consigo mesmo por não ter conseguido manter contato com Eleanor após aquele primeiro encontro. "Será que perdi meu encanto?" pensou, se perguntando se o destino os colocaria no mesmo caminho novamente. O tempo parecia passar rápido sempre que ele pensava nela, e, em um piscar de olhos, ele já estava de volta em casa.

Após o banho, se vestiu de maneira simples, preparando-se para a tarde de gravações de um comercial. Contudo, seu pensamento já estava fixado na editora, onde pretendia ir depois para tentar descobrir mais sobre Eleanor. Quando o motorista chegou, Caio lhe deu o endereço da galeria onde seria a gravação e se acomodou no banco do carro, perdido em pensamentos.

Depois das filmagens, ele pediu ao motorista que o levasse à editora. À medida que se aproximava do local, sentiu o coração acelerar com a expectativa de talvez encontrar Eleanor nos corredores.

Ao chegar, tomou o elevador privativo até o 15º andar, onde ficavam as salas de seu pai e de seu irmão, Eduardo. Os dois sempre foram muito parecidos em termos de personalidade: sérios, focados nos negócios e raramente demonstrando emoções. Mas Caio havia notado que, nos últimos tempos, Eduardo estava diferente, mais descontraído, quase feliz. Aquilo o intrigava, especialmente ao ouvir a voz de Eduardo quando passava pela sala da secretaria dele.

— Bom trabalho, Eleanor! — disse Eduardo, rindo. — Você fez cinco relatórios em menos de duas horas, e ficaram ótimos... Vou acabar tendo que te dar um aumento.

Caio parou imediatamente, seus olhos se arregalaram ao reconhecer o nome e a voz. Seu irmão estava elogiando alguém de forma tão aberta e bem-humorada! Mais do que isso, estava elogiando Eleanor. Ele conhecia Eduardo como a palma de sua mão e sabia que, para ele se abrir assim, algo mais estava em jogo.

"Será que Eduardo também se interessou por Eleanor?" A ideia o incomodou profundamente. Não pretendia competir com o irmão pela atenção de ninguém, mas a possibilidade de Eduardo estar interessado em Eleanor lhe trouxe um misto de insegurança e determinação. Ele precisava descobrir mais sobre o que estava acontecendo.

Sem esperar a resposta de Eleanor ao elogio do irmão, Caio seguiu em direção à sala de seu pai. Lá, como de costume, Walter tentou convencer Caio a aceitar um cargo na empresa, mas Caio estava distraído demais para prestar atenção.

— Pai... Você percebeu que o Edu anda de bom humor ultimamente? Sabe por quê? — perguntou, interrompendo a conversa.

Walter ergueu as sobrancelhas, surpreso pela pergunta repentina. Coçou o queixo, pensativo.

— É verdade, ele anda sorrindo mais... Mas você sabe como ele é reservado. Não tenho ideia.

Caio se sentiu ligeiramente aliviado, acreditando que talvez estivesse imaginando coisas. Mas a próxima frase do pai o fez repensar:

— Pode ser por causa de uma moça. O Edu não sairia sorrindo à toa a menos que estivesse, no mínimo, interessado.

A sugestão de Walter trouxe de volta a preocupação de Caio. Ele precisava esclarecer a situação com Eduardo, mas, antes disso, tinha que se aproximar novamente de Eleanor.

Decidido, Caio esperou até que Eduardo e Eleanor saíssem para o almoço e entrou furtivamente na sala do irmão. Procurou rapidamente a pasta com os documentos dos funcionários, encontrou o de Eleanor, tirou uma foto e colocou tudo de volta no lugar. Não podia deixar pistas; Eduardo era meticuloso com sua organização.

Na manhã seguinte, Caio acordou cedo e instruiu seu motorista a dirigir até o endereço de Eleanor. Ele queria que o encontro parecesse casual, embora tudo estivesse cuidadosamente planejado.

— Por favor, faça parecer um encontro casual — disse ao motorista, que apenas ergueu uma sobrancelha em resposta, conhecendo Caio bem o suficiente para entender suas intenções sem questioná-las.

Enquanto esperava no carro, Caio começou a ficar impaciente. Já havia passado a hora de Eleanor sair para trabalhar, e ela ainda não aparecera. Será que ela tinha saído mais cedo? Mas não, logo depois, ele a viu e se ofereceu para dar-lhe uma carona. Ela aceitou, e ele sentiu uma onda de alívio e satisfação. A partir dali, ele faria de tudo para conquistar a atenção e o interesse dela, mais do que seu irmão possivelmente estava fazendo.
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