Capítulo 1 - Uma flor rara

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A tarde dava lugar à noite, e em uma chácara no interior do estado, o já idoso casal Oliveira recebia a visita de um de seus dois filhos, e este acompanhado da família.

Beatriz era a neta mais velha do senhor Antônio Oliveira. Ela tinha apenas treze anos, mas era daquele tipo de criança muito observadora. Sustentando um livro aberto nas mãos, a menina alternava seu olhar aquilino do livro para o jardim, e do jardim para o livro.

– Vô, que flor diferente é aquela lá?

O avô direcionou a visão desgastada por trás dos óculos para onde a menina apontava, e logo sorriu.

– Ah, aquela lá merece ser vista de perto. Vem comigo! Foi sorte vocês terem vindo aqui nessa semana. Já tem um tempo que eu quero te mostrar essa flor...

Os dois caminharam em um passo lento até o jardim.

– Não achei ela aqui no seu livro - disse a neta.

– E nem vai achar... Essa flor é muito rara.

Beatriz encarou o avô minimamente interessada.

– Pra falar a verdade, você não vai encontrar outra dessa em nenhum outro lugar. Essa flor floresce só uma vez por ano e sempre nesse dia.

– Como assim sempre nesse dia? - a neta perguntou de pronto.

– É isso mesmo! - empolgou-se o avô. – Ela aparece bem na virada do dia 30 para o dia 31, desabrocha inteira na madrugada, e daí fica assim o dia todo, mas quando o Sol for embora, você vai ver que ela vai começar a murchar e amanhã não vai ter mais nada aí.

Percebendo a indiferença no rostinho dela, o avô ajuntou:

– Estou te dizendo que essa flor só dura um dia!

– Sério? - então sim Beatriz esboçou surpresa.

– Sério! Por isso é tão difícil conseguir vê-la. É rara e muito bonita, você não acha?

– É sim, é bem bonita! Eu vou pegar o celular da minha mãe pra tirar uma foto!

Antes que a menina voltasse para a casa, o avô comentou:

– Beatriz, essa flor tem uma história muito interessante... Você quer ouvir?

Girando nos calcanhares, e olhando o avô por sobre o ombro, Beatriz se mostrou um pouco indecisa, mas acabou concordando. Então os dois seguiram de volta à varanda, e cada qual ficou preguiçosamente acomodado em uma cadeira de tiras de plástico.

– Nossa, faz tantos anos que não falo disso que nem lembrando direito como começa...

Beatriz aguardou tranquila, era paciente e já estava acostumada com o ritmo de tartaruga do avô.

– Ah, sim... - retomou ele. – Isso aconteceu quando não éramos nós que morávamos aqui nesse terreno. Quem morava aqui era o seu tio-avô, o meu irmão, e essa casa nem tinha sido construída ainda. Acho que essa história já deve ter uns setenta anos. E tudo começou nesse mesmo dia do ano.

– Ah, é! Hoje é o dia do Halloween! Teve um monte de brincadeiras na minha escola, e eu fui fantasiada de múmia!

– De múmia?

A neta assentiu.

– Que esquisito... Halloween... No meu tempo, a gente chamava de "Dia das Bruxas".

– Vô! - exclamou ela enfim se impacientando. – Começa logo a história da flor!

– Mas eu já comecei! Eu disse que a primeira vez que essa flor apareceu aqui foi em um dia das bruxas...

– Quer dizer então que foi uma bruxa que plantou essa flor aqui? - satirizou a neta.

– Não, na verdade foi uma fada...

Beatriz olhou para o avô com cara de quem não está levando a sério, mas, apesar disso, o velhinho prosseguiu com o relato.

Continua...

O Lamento da FadaOnde histórias criam vida. Descubra agora