Capítulo 4 - Ingratidão

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Naquela casa rodeada de plantas e flores, que um dia pertencera aos pais de Hector, e na qual ele e Clara viviam agora, os dois jantavam, e Clara observava seu amado, enquanto ele terminava a refeição previamente enfeitiçada.

– O que foi? - perguntou ele. – Por que você está me encarando desse jeito?

– Há certas coisas que eu preciso te contar, Hector...

Depois de dizer aquilo, Clara deu fim ao feitiço que fazia com que se parecesse com uma humana comum, assim Hector pôde vê-la pela primeira vez como ela realmente era.

A reação dele ao ver o translúcido par de asas foi se erguer da mesa em um ímpeto.

– O que é isso? Que bruxaria é essa? - ele remexeu a cabeça nervosamente. – O que está acontecendo com os meus olhos?

Pouco depois, Hector caiu e suas vistas escureceram. Ele ficou horas desacordado e, quando voltou a si, estava com a cabeça pousada nos joelhos de Clara.

Ela ficou acariciando os cabelos dele e, ao mesmo tempo, contava toda sua história a ele por meio de telepatia.

– Entende agora? - perguntou ela.

– Sim... - ele respondeu seco.

Após permanecer calado por vários minutos , ele se ergueu e então falou:

– Está me dizendo que eu não vou morrer? É isso? Como se eu tivesse virado um vampiro, mas sem a maldição de precisar me alimentar de sangue?

– É um modo simples de ver as coisas... - disse ela, sorrindo e contente como jamais tinha estado.

Porém, Hector não sorria.

– E o que acontece agora? Você vai me levar para o seu mundo?

Clara estranhou a frieza na voz dele e, de fato, ele tinha tocado em um ponto que até então ela não tinha considerado.

– Eu acho que por hora podemos seguir com os preparativos do nosso casamento normalmente.

Ele a encarava diretamente com um olhar afiado como navalha.

– Até quando? Até meus pais morrerem? Ou até que não haja mais ninguém que seja importante pra mim aqui?

– Hector?

– Você não acha que podia ter perguntado minha opinião, Clara?

– Eu... Desculpa, eu não sei o que dizer...

– Mas eu sei! Te agradeço pelo presente do outro mundo, mas preciso te dizer que seja lá o que eu sentia por você, quando você era apenas minha noiva perfeita, esse sentimento já não faz mais parte de mim...

– O que quer dizer com isso, Hector?

– Que eu não amo mais você.

Clara quase pôde ouvir o eco das palavras de advertência da medianeira. Sem acreditar, ela viu Hector simplesmente deixar a casa, e sem nem olhar para trás. Ficou algum tempo imóvel e abalada, mas quando quis correr atrás dele, um vulto se materializou à sua frente.

– Boa noite, querida! Eu vim receber meu pagamento.

– Sua bruxa desgraçada! Você me enganou!

– Como assim te enganei? O humano é como nós agora

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– Como assim te enganei? O humano é como nós agora.

– Mas ele não me ama mais!

– Isso é verdade.... Ele não ama mais você, não ama a si mesmo, não ama ninguém. Ele perdeu por completo a capacidade de amar.

– Sua miserável... Você tem que desfazer isso!

– Não pode ser desfeito... - disse Jade, sem esconder um riso sádico, e coletando sem cerimônias a lágrima de sofrimento que escorria de um dos olhos de Clara.

– Tem que haver um jeito! - insistiu a fada.

Jade fez uma negativa vagarosa com a cabeça e, em seguida, desapareceu. 

Depois disso, Clara nunca mais a encontrou.

Continua...

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Fonte da imagem no fim do capítulo:

https://img.17qq.com/images/dcghnhmlv.jpeg

O Lamento da FadaOnde histórias criam vida. Descubra agora