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Jo amassou o papel, jogando-o contra o quadro A Trilha do Deleite. A bolinha angulosa quicou e foi-se ao chão, solitária. Sem culpa.

Pois era culpa de Jo.

Cinco horas a menos. Quase um dia a menos.

— Acalme-se, Joann. – disse Florence do outro lado da grande sala, a voz soturna e calma, já habituada com os ataques efêmeros de Jo quando não conseguia alcançar o que queria.

— Não acha que é um pouco difícil manter a compostura? – retrucou Jo, cobrindo a cabeça com as mãos, os fios do cabelo castanho enrolado prendendo-se aos dedos calejados de tanto escrever. – Krahen está a alguns passos de nós e não conseguimos nada. Todos entendem o que isso significa, mas não conseguimos nada.

Florence desgrudou os olhos calculistas dos papeis amarelados organizados sob a escrivaninha a Jo, o vinco entre as sobrancelhas como se dissessem não deixe que Dryna escute seus lamentos. Adicionando um sua estúpida velado no final.

O ruído da porta se abrindo fez com que Jo virasse o rosto na mesma velocidade abrupta, o pescoço reclamando de volta. Emoldurada pela majestosa porta de madeira maciça branca ornamentada com ouro, estava Lind. O coração afundou para os confins do estômago de Jo ao ver o rosto delicado da mais nova numa expressão preocupada, suas sobrancelhas e olhos marejados já denunciando o que estaria por vir.

Pois sempre viria.

— Não diga nada, Rosalind. – disse Florence, levantando-se da cadeira, a postura rígida. – Iremos juntas.

Lind franziu os lábios, assentindo, a ponta do nariz rosado como pétalas de cosmos num manto de neve. O frio brincou na barriga de Jo ao se levantar, engolindo em seco. Enlaçou as mãos nas costas, torcendo os dedos. Cinco horas perdidas.

Em cinco horas, uma canção assassinou uma rainha. 

As Três Damas da Rainha - um contoOnde histórias criam vida. Descubra agora