Há muito tempo, quando os povos não cogitavam guerras, ao passo que os Santos e os animais ainda não permitiam, existiu uma rainha jovem e suas três damas – as quais eram julgadas como suas companheiras.
Nessas terras, haviam outras mais, com reinos distintos, convivendo com suas leis e regras. Nessas terras, tudo era límpido, repleto de cantigas, tradições e povos que se reuniam em volta de fogueiras para contar histórias.
Nessas terras, então, caindo como uma pluma, solene em seu nascimento, surgiu um Pássaro.
Todos os reinos, como crianças preparadas para escutarem uma lenda antiga, se aproximaram desse Pássaro, com cores tão estonteantes apesar de que já vislumbradas e usadas naquele mundo – azul, turquesa e laranja. Era tão grande e formoso quanto um pavão, e seu bico pontiagudo curvado revestido como pedras preciosas, que refletiam translúcidas aos raios do exuberante sol.
Encantados com tal beleza, uma rainha vestida de penas de corvos, quebrou o silêncio que angustiava o povo.
"O que é você?"
Os olhos do Pássaro, então, se abriram para ela. Ele parecia sorrir, e abriu o bico – e nenhum som saiu de lá.
Confusos, os reinos se entreolharam – até que a rainha, os olhos arregalados, caiu no chão, seu sangue escorrendo de seu pálido corpo pelo solo verdejante.
A rainha estava morta.
Desfalecida diante do Pássaro, os povos se revoltaram contra ele. Porém, tão inutilmente, o penoso não era atingido, como se uma doma de vidro o protegesse de toda a ira e tristeza de um povo que perdera sua monarca.
Outra rainha tentara, com coragem e determinação, falar com o Pássaro, perguntando-lhe:
"Por que fizeste aquilo com o povo? Por que matara a Rainha de Krahem?"
O Pássaro, imponente, abrira seu bico novamente, e nenhum som saiu.
E a Rainha de Marzanna morreu.
Sangue escorreu, e uma pluma do Pássaro foi deixada repousada sobre o peito da rainha.
Os reinos se uniram para combater o Pássaro, onde um reino peculiar, de tradições antigas e semelhantes à uma outra terra daquele mundo, avançara em algumas soluções. O sangue que a rainha de Krahem e de Marzanna, escorridos na superfície, formavam pequenos pontos, como constelações num céu que chorava de tristeza. Este foi o primeiro passo para o entendimento das mortes.
O Pássaro abria o bico, e nada saia. As rainhas arregalaram os olhos, como se algo que apenas elas pudessem escutar.
Então, uma música. O Pássaro cantava para elas. E os pontos de sangue eram as notas.
As notas foram compostas por diversos musicistas, onde a melodia era executada sempre diferente – embora as partituras fossem as mesmas. Por longos dias e dias, os reinos realizavam estudos, e rainhas em sua bravura, desfaleciam em prol de seu povo – e de uma luz.
Enfim, na escuridão da noite, a Guarda Real do Reino de Ravaryn trouxera papéis de estudos de um reino vizinho que perdera sua rainha. Neles continha alguns resultados, mínimos, porém, ainda assim, suficientes para que as damas de Ravaryn pudessem encontrar, talvez, a solução para a Canção do Pássaro.
Ao se encontrarem com o Pássaro, a rainha e suas três damas tocaram a Canção, encontrada completa usando cálculos matemáticos, químicos, e a própria música.
Contudo, ninguém sabe o que aconteceu dentro da sala, no Reino de Krahem, em luto, onde o Pássaro fora levado. Quando o tempo se estendeu, os guardas do castelo abriram as portas, dando a imagem da sala branca – e o Pássaro já não estava mais lá. Com a rainha de Ravaryn caída no chão, pálida como o próprio cômodo, seu sangue escorria pelo chão, formando letras, silabas e palavras.
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As Três Damas da Rainha - um conto
NouvellesQuando uma canção se torna a contagem regressiva de um mundo, três damas de um reino estão dispostas a lutar por sua rainha - não com espadas e adagas. Porém, com algo mais poderoso. - Início de postagem: 18.12.2019 - - Último capítulo: 23.12.2019 -