No dia seguinte eu estava plenamente recuperado, eu era ótimo em fingir estar bem, entrei naquela faculdade com sangue nos olhos. Já havia se passado meses e ninguém sabia nada sobre o que tinha acontecido com a minha maquete do trabalho de Projeto e eu nem poderia cobrar nada do centro acadêmico naquele momento porque isso implicaria em falar com o Matheus, mas eu estava decidido a seguir minha jornada sozinho e resolver isso quando estivesse melhor munido. Quando botei meus pés na FAU, meu ARQ-inimigo, já estava discutindo com a Vanessa que parecia mais furiosa do que nunca. Resolvi ser cordial e dei um leve sorriso cumprimentando com a cabeça, mas acho que o Paulo entendeu aquilo como o maior gesto de deboche, porque eu já estava sendo fuzilado e ainda nem era oito da manhã.
Quando o debate começou, estavam todos presentes. A trindade, os calouros, alguns professores que acompanhavam o processo, o diretor da faculdade que ficou responsável pela mediação, basicamente quase todas as turmas dos dois turnos, o voto era obrigatório, já que contaria como a presença das aulas do dia que haviam sido suspensas. Minha equipe estava completa, mas a do meu adversário, faltava a Vanessa, que a julgar pela cena de quando eu cheguei, não iria mesmo participar dessa guerra. Decidiu-se por dar seguimento ao debate e passados longos 80 minutos, ambas as chapas já haviam apresentadas as suas propostas e seu plano de gestão. Foi então que abriu-se para as perguntas da platéia. Eu pude esclarecer melhor como realmente estava interessado em implantar uma política de incentivo a profissionalização dos alunos, em processos seletivos mais participativos e menos segregacionistas. Nem nos meus sonhos eu conseguiria imaginar que a diretoria da FAU levasse tão a sério a organização das eleições estudantis.
Com certeza já era de grande utilidade todo esse esforço, mostra que o corpo docente se preocupa em se fazer presente nos momentos que mais precisamos. Após o término do debate, o diretor deu início a votação. Esperei apreensivo ao lado da minha chapa e meus amigos.
Às onze da manhã encerrou-se a votação e iniciaram a apuração dos votos. Ao meio dia, pontualmente, o diretor anunciou a vitória da chapa do Paulo com 54% dos votos, mas antes mesmo que o Paulo pudesse responder uma única pergunta, surgiu a Vanessa no meio da multidão com o pessoal da equipe do laboratório de projeto e a senhora que era responsável pela limpeza do prédio.
- Parem tudo! Eu tenho algo a dizer sobre essa naja que que foi eleito presidente do Centro Acadêmico. O Paulo entrou no laboratório de projetos e roubou a maquete e o banner do Thiago, só pra conseguir a vaga de estágio.
- Essa garota tá louca! Alguém tira ela daqui! Você está atrapalhando a minha comemoração, fofa. (Paulo fez a sonsa até o último momento.)
- Fofa é a tua mãe garoto, eu te dei a chance de falar a verdade e você nem se importou, agora eu vou provar o que eu tô dizendo, falsiane! Diz pra eles o que aconteceu Marcos.
- Logo depois que o professor anunciou o estágio o Paulo sabia que eu daria dicas para Vanessa, porque ela é minha namorada e quando ela me perguntou sobre o trabalho eu realmente a orientei sobre como o professor exigia muito da apresentação dos trabalhos de pesquisa. Então o Paulo resolveu se aproximar da Vanessa para tentar obter vantagem, mas ele percebeu que nem eu, nem a Vanessa daríamos vantagem alguma para ele nos trabalhos, então ele resolveu dar em cima do Leonardo que também trabalha no laboratório. O problema é que o Leo disse para ele, que não iria escolher o trabalho dele, se não estivesse bem apresentado e quando o Paulo viu que só a Vanessa e o Thiago tinham feito maquete, ele sabia que a vaga não seria dele. Foi aí que ele roubou as chaves do laboratório, entrou lá escondido no sábado pela manhã, quando não tinha ninguém e jogou a maquete do Thiago fora. O Leo deu falta das chaves e me questionou se eu tinha visto elas pelo laboratório. Nós nos demos conta do que poderia ter acontecido com a maquete quando estávamos numa festa de Halloween e começamos a elaborar teorias sobre o caso. Quando soubemos da aproximação do Paulo, chegamos a uma conclusão e decidimos perguntar aos funcionários até chegarmos a dona Piedade.
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PROGRAMA DE NECESSIDADES (Em Revisão)
RomanceA vida nunca é como esperamos que seja aos 17 anos. Thiago tentou planejar cada passo de sua jornada até os tão sonhados anos da faculdade, mas algumas incógnitas não estavam previstas nessa equação. O menino do interior, arriscando a vida adulta em...