Cap. 7 - Elevações

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   O apartamento da família do Matheus era um pouco menor do que o que eu morava, mas era extremamente limpo e todo decorado com um estilo escandinavo, todas as paredes em branco ou tons claros que evidencia ainda mais a quantidade de livros por todos os cantos da casa. O pai do Matheus era cirurgião plástico e trabalhava durante o dia inteiro, quase não via os filhos ao longo do dia, então as responsabilidades da casa eram divididas entre todos. Até a pequena Bruna, de apenas 12 anos, já tinha uma lista de afazeres num quadro de tarefas pendurado na parede da cozinha. A menina era um amorzinho, muito educada, vivia sorrindo e tirava todas as dúvidas, sobre os assuntos mais aleatórios, com o irmão mais velho.

   Frequentemente as refeições eram sempre feitas apenas entre Matheus, Bruna e a dona Carmem, a secretária/ babá. Naquela quarta foi preciso usar a louça completa, uma vez que eles tinham outros três visitantes.

   Ainda no carro, durante o trajeto, tive a ideia maravilhosa de pedir para o Augusto me levar para conhecer a Região da Luz e todos os atrativos turísticos que até então eu não tinha tido a chance de visitar e até entrar no apartamento acabei por transformar essa ideia em uma tour e combinamos vários passeios durantes os próximos dias.

   - Eu vou adorar mostrar tudo o que tem naquela região, Matheus. A gente pode começar visitando a Pinacoteca, que o próprio prédio já é uma obra de arte, eu amo o conceito de "inacabado" com aquelas paredes descascadas é tão Art Pop da Gaga, um hino incompreendido e sempre tem algumas exposições babado por lá.

   - Eu gosto de quando o papai leva a gente pra andar de patins na Paulista, domingo de manhã.

   - Carmem pode servir o almoço pra gente na sala de jantar. Eu tô morrendo de fome!

   Matheus já estava sentado a mesa e nos chamando para sentar também. Fui voluntário para pegar os pratos e não hesitei em chamar dona Carmem para nos fazer companhia. Mas a reação do meu namorado com a voz levemente alterada me paralisou e chamou a atenção de todos, principalmente, de Sofia que estava de pé ao lado dele, tentando achar um lugar para por o arranjo que ocupava o centro de mesa.

   - Thiago, vem sentar comigo! A Carmem consegue organizar tudo.

   - Eu sei que ela é capaz, mas eu quero ajudar. Quanto mais rápido a gente organizar as coisas, mais rápido vamos todos comer. Vem almoçar com a gente dona Carmem.

   - Não, Thiago! Ela vai comer na mesa da cozinha. Até porque ela tem um monte de coisa pra fazer não é, Carmem? E assim a gente fica mais a vontade pra conversar.

   - Eu faço questão que ela coma com a gente na mesa. Seja lá o que ela tem pra fazer, da pra ser depois do almoço. Afinal, ela deve estar com tanta fome quanto a gente. Não é dona Carmem? Vem!

   - Não, eu prefiro comer ali na cozinha mesmo seu Thiago. Eu não estudei, não vou saber sentar numa mesa pra comer com vocês. Eu vou acabar falando alguma besteira, imagina.

   - O Thiago tem razão. Para com essa bobagem mulher, nós vamos adorar conhecer você melhor. (Foi bom ouvir a Sofia. Ela deu um leve sorriso e puxou dona Carmem pela mão.)

   - Gente, aqui em casa as domésticas sempre almoçaram na cozinha, desde quando minha mãe ainda era viva. Meu pai não vai gostar se chegar aqui e ver isso.

   - O seu Matheus tem razão, vocês me dêem licença. Eu vou lavar as louças na cozinha e depois eu como. Obrigada pelo convite. Com licença. (O olhar dela era de total desconforto.)

   - Tudo bem dona Carmem. Eu realmente preciso de uma licencinha sua, quero conversar com o Matheus. (Eu mordi meu lábio de tanta raiva, mas tentei me controlar e manter a serenidade de quem vai ter uma DR antes do almoço.)

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