Cap. 8 - Volumetria

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   Três dias em coma, duas cirurgias no braço esquerdo, lesões por todo o corpo, hematomas, uma cara inchada. Essa foi a avaliação do meu quadro clínico. Quando abri meus olhos, uma dor que percorria todo meu corpo me invadiu em um súbito impacto. Eu estava entubado e por isso não consegui falar nada, meu desespero foi imediato, eu percebi que tudo o que me restava era a dor. As lágrimas inundaram meu rosto e um bip irritante disparou uma máquina ao meu redor. Meus olhos percorreram cada centímetro daquele lugar, a luz branca vinda da luminária plafon no centro da sala parecia queimar minha visão, mas não o bastante para notar a presença da minha mãe, que num pulo, já estava segurando minha mão esquerda. Mesmo desorientado, consegui entender o que a voz do Victor repetia parado ao meu lado direito.

   - Fique calmo! Fique calmo, amigo! Você está seguro agora, estamos num hospital, você consegue me entender? Consegue ouvir minha voz? (A voz do Victor me soava familiar, mas mesmo vendo os olhos azuis, e rosto quadrado semi escondido por trás de uma máscara hospitalar, não conseguia ligar o nome a pessoa.)

   - Filho fique calmo meu amor. (Minha mãe se debruçou sobre meu corpo dolorido, seu rosto inundado me trouxe ainda mais medo.)

   Eu estava em completo pânico e mesmo morrendo de dor, tentei me comunicar gemendo e balançando levemente a cabeça.

   Em segundos, apareceram diversas pessoas em torno da minha cama, provavelmente enfermeiros e médicos. Consegui prestar atenção em uma voz que soou mais incisiva e que me passava comandos.

   - Thiago, eu sou o Dr. Jorge, seu médico, se você conseguir me ouvir, tente apertar a minha mão. (Obedeci de imediato e minha mão direita apertou com toda a força que me restava.)

   - Ótimo, agora preciso que você se acalme, vamos retirar esse tubo que está na sua garganta, tudo bem? (Tentei assentir com a cabeça.)

   Imediatamente começou uma série de procedimentos, retiraram o tubo que estava inserido em minha boca e consegui finalmente respirar tranquilo. O médico continuou fazendo uma série de exames por todo meu corpo, testando meus movimentos, minha resposta aos estímulos. Tentei me tranquilizar e em sequência, senti meu corpo relaxar, aparentemente injetaram alguma coisa que aliviou em muito as minhas dores. O médico preferiu que todos me deixassem descansar e não demorou muito até eu adormecer novamente.

   Um grande vazio era o que eu sentia. O silêncio dentro daquele quarto de hospital era uma tortura e por inúmeras vezes, a única coisa que vencia esse silêncio, era o som do meu choro. Doeu muito, meu corpo estava exausto e a cada minuto eu desejei que simplesmente abandonasse essa luta pela sobrevivência. Minha mãe não saiu do meu lado durante todo o tempo em que estive acordado.

   Durante toda a semana recebi visita de todos os amigos e familiares.

   - Pai. O que aconteceu com a Sofia?

   Eu ainda lutava para conseguir me comunicar, mas a angústia de não ter notícias de minha amiga era bem pior. Todos evitavam falar ou desconverssavam quando eu fazia a mesma pergunta, porém, meu pai nunca foi de me omitir nada. Nós tínhamos esse lema de preferir sempre a verdade, por mais difícil que fosse. Eu sabia que ele não trairia nosso princípio.

   - Os caras que fizeram isso com você... Machucaram muito a Sofia, meu filho... A sua amiga...

   - O que aconteceu pai?

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