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Este livro não é baseado em uma consulta real entre Psicólogo e Paciente.
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-Os pais dela... Os pais dela resolveram fazer uma pequena festa em comemoração a ela ter passado na faculdade. Eles foram comprar algumas coisas que precisava para festa. Mas aí... Um filho da puta, arrombado do caralho tava fazendo um racha e invadiu a contra-mão e tirou a vida deles. - ele fez uma pausa - Eu não conhecia eles muito bem, foram poucas as vezes que eu fui na casa dela devido ao pouco tempo que a gente tinha junto, mas doeu tanto ver a minha menina daquela forma. Eu queria matar aquele filho da puta por ter feito ela sofrer, se ele não tivesse morrido no mesmo acidente

Ele ri ironicamente e fala para si mesmo se ajeitando na cadeira.

-Como se eu também não fosse um filho da puta que fez ela sofrer.

Ele foi o pior filho da puta que a fez sofrer. Não culpava o cara do carro, poderia ser a própria mãe dele do outro lado, ele não teria como saber. Mas Toby, ou melhor, Tobias teve. Ele que havia arquitetado todo seu sofrimento, a enganado e partindo seu coração.

-No dia do enterro foi o pior dia. Ela estava um caos, parecia estar em outro planeta, não falava com quase ninguém. Eu estava com ela o tempo todo, queria fazer tudo aquilo passar, queria que ela voltasse a ser a minha menina sorridente.

Menina sorridente.

- A gente estava na rua voltando para casa dela, eu insisti tanto para que ela fosse para minha casa, parecia que o destino estava me avisando, mas ela insistiu dizendo que era o melhor para ela. No caminho um amigo meu, ou que dizia ser meu amigo, falou na frente dela que eu já não precisava fingir mais, que eu já havia ganhado a aposta. - pausa - Ela ficou meio confusa na hora, mas quando ela entendeu o que havia acontecido ela só disse para eu sair de perto dela e nunca mais aparecer. Ela saiu correndo, mas eu ainda consegui ver seu rosto cheio de lágrimas. - pausa - Eu só queria sumir, acordar e pensar que aquilo tudo tinha sido só um pesadelo. Eu queria morrer por não ter visto antes o quão maravilhosa ela era. Antes daquela maldita aposta.

-E porque você não contou? Porque não contou a ela que ela foi uma aposta para você, enquanto você ainda tinha tempo. - Carly finalmente havia falado alguma coisa.

-Porque eu tinha medo. Eu gostava tando do que a gente tinha que eu tinha medo que ela fosse embora caso descobrisse. Para mim era um absurdo ficar longe dela. - pausa - Mas eu tinha falado para eles. Eu tinha falado que eu não iria mais fazer aquilo, que eu estava com ela agora. De verdade. - a sala fica em silêncio por um longo tempo.

Carly pensava sobre tudo que tinha escutado naquela sala.

Aqueles dias que teriam tudo para ser os melhores: tinha passado na faculdade que queria,tinha um namorado lindo e amável, pais também amorosos , mas foram os piores de sua vida, perder seus pais em um acidente a fez quebrar por inteira, e a pessoa que ela amava terminou de destruir seu coração. Tudo no mesmo dia. Não entendia o porquê tanta coisa ruim tinha acontecido na sua vida de uma vez só. Tanto sofrimento de uma unica vez. Por isso ela se tornou assim, percebeu que quanto menos as pessoas entraram em sua vida, quanto menos se apegava as pessoas, menos ela sofreria caso elas fossem embora.Não teve mais relacionamentos, cortou a amizade com suas amigas e o vinculo com a sua família. Trocou de país e de nome. Desapareceu para tudo e todos.

-Eu mandei mensagem, liguei várias vezes, mandei recado, mas ela não respondia nada. Eu tentava falar com ela quando a via na rua, mas ela fingia não me ver e saia de perto de mim. Eu conversei com uma amiga dela para ter notícias e a amiga dela me disse que ela não estava nada bem, que eu só havia piorado as coisas, me disse que ela estava com coração em pedaços e que a culpa era minha e que ela estava sentindo muita falta dos pais, que ela não tinha vontade de fazer mais nada. E doía, como doía saber daquilo. Eu não quis mais sair de casa, não quis mais jogar futebol. Perdi as contas de quantas vezes assisti Harry Potter só pra tentar amenizar a saudade que eu tinha dela. Aí ela foi embora da cidade, não consegui descobrir pra onde ela tinha ido. - pausa - Depois disso as coisas só pioraram e o caos na minha vida começou. Foi quando eu descobri do meu pai.

Harry Potter nunca mais foi o mesmo depois que ele partiu seu coração. Carly nunca mais consegui ver os filmes ou ler uma palavra sequer de qualquer livro. O box que ele lhe dera estava em sua estante até ontem, quando ela decidiu leva-lo pra casa e guarda-lo. Um conselho que ela tinha dado a um paciente naquele dia a fizera acordar e perceber que manter aquilo ali não seria saudável pra ela, assim como o paciente manter as roupas da falecida esposa no guarda-roupa por mais de 10 anos. O sorvete de morango agora era o ultimo da sua lista de preferidos, apesar dela ainda manter seu hidratante de morango ao leite. Tudo que a fazia lembrar dele e consequentemente do acidente de seus pais tinha sido descartado, menos o box e a sua amada psicologia.

Ela também desejou por noites e mais noites que quando ela acordasse aquilo tudo não passaria de um pesadelo. Que quando ela acordasse seus pais ainda estariam ali, e o amor da sua vida não tinha quebrado seu coração. Ela só tinha se apaixonado uma unica vez, e foi o necessário para que ela não quisesse outra. Nunca mais.

-Depois que ela saiu da minha vida só existiu o caos. Depois que eu a conheci ela se tornou meu equilíbrio, minha paz, meu alicerce, e quando ela se foi, tudo desmoronou. Parecia Deus me castigando por tudo de ruim que eu tinha feito não só a ela, mas a todas as garotas.

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Dra. Carly - O Reencontro (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora