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Este livro não é baseado em uma consulta real entre Psicólogo e Paciente, assim como, também não é baseado em como funcionaria uma consulta real com um psicólogo.

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     — Eu destruí um coração que me pertencia, um coração puro e inocente. Um coração que já estava em mil pedaços! — As lágrimas já molhavam o rosto do homem. Toby levanta e para em frente a uma estante de livros que ficava ao lado da porta de entrada.

     — Se acalme, Toby. — A psicóloga pedia calmamente. De onde estava não conseguia ver o rosto de Toby.

     — Não há monstruosidade maior que destruir um coração, e eu destruí a porra do coração que foi entregue a mim! — O homem grita batendo sua mão na estante, o que fez com que os livros caros de psicologia caíssem todos no chão. — Me desculpe! Por favor me desculpe.

     Carly levanta e a porta do consultório é aberta por um segurança do prédio.

     — Está tudo bem, Dra. Carly? — Pergunta olhando, não para Carly, mas para o homem que agora recolhe os livros e colocava na prateleira de forma desajeitada.

     — Sim! Pode ficar tranquilo. — Carly respondeu, e finalmente o segurança olhou para ela, apenas para checar se ela estava sendo sincera. Depois de mais uma checada no homem o segurança saiu novamente e fechou a porta atrás de si.

     Carly sentou aliviada por saber que tinha alguém ali e por esse alguém saber da situação em que ela se metera.

     Depois de copos d'água e mais algumas lágrimas, o homem finalmente se acalmou e voltou a se sentar.

     — Você precisa de ajuda, mas para te ajudar eu preciso entender o que aconteceu. Preciso conhecer a sua história, saber o que você fez e o que isso causou.

     — É tão doloroso falar do que aconteceu, e eu já fiz isso tantas vezes, nunca ajudou contar. — Toby secava algumas lágrimas que ainda insistiam em cair.

     Um homem que exalava segurança desmanchando ali na sua frente. Era uma representação perfeita de um momento que Carly já presenciara: uma escultura de gelo derretendo sob o sol quente, uma coisa grande e firme derretendo por causa de algo que sequer era visto a olho nu, o que víamos apenas era o derretimento da face e as gotas que caem molhando o chão.

     — Vamos começar novamente, me fale primeiro sobre você! Onde mora? O que faz? Me conte sobre a sua vida atual. — Carly perguntou ajeitando algumas coisas em cima da mesa.

      A psicóloga tentou fazer com que ele se mantivesse calmo.

     — Eu moro a alguns quarteirões daqui. — Toby era um agente, não poderia contar onde morava e muito menos com o que trabalhava. — Eu estou surtando ultimamente, não consigo trabalhar. E faz tanto tempo que aconteceu... — fica em silêncio — Me disseram que você me ajudaria.

     — E eu vou ajudar, Toby. Mas você precisa me contar o que aconteceu no passado, com calma, sem derrubar a minha prateleira de livros — Carly riu a tensão de antes se foi quando ela descobriu que estava sendo vigiada. Precisava agradecer a Treena.

    Ele virou pra traz. A prateleira que a minutos atrás estava organizada em um degradê de cores, agora estava numa mistura desorganizada.

    Toby voltou a olhar para frente, mas ficou em silêncio durante um longo tempo.

    Carly olhava o relógio freneticamente, já estava ficando preocupada com o horário, mesmo sendo a cidade que nunca dorme, aquele não era o melhor horário pra se voltar para casa em Nova Iorque.

    Ele finalmente começa a falar.

    — Eu tinha 17 anos. Era o garoto mais popular da escola. Todos queriam estar comigo. Era o melhor jogador e capitão do time. Eu tinha qualquer menina da escola com um estalar dedos e depois de ficar com elas eu dispensava. Era chamado pra todas as festas. — ele dá uma pausa — Eu era fútil, só sabia beber e gastar o dinheiro do meu pai. Mas não pense que eu me orgulho disso. Eu odeio meu passado e tudo que eu fiz nele. Tudo o que eu causei nas pessoas. Todas as meninas que derramaram lágrimas por minha causa, todos garotos que eu humilhei pra manter meu ego de superioridade. Eu me arrependo de tudo isso. Eu me arrependo do monstro que eu fui.

    — O que importa agora é o que você se tornou, que você se arrependeu do que fez, que entende que o que você fez foi errado. É preciso que você se perdoe, que entenda que errar é humano. Ninguém é perfeito, Toby.

    — Eu sei, mas eu não consigo. Não consigo me perdoar.

    — Me fale sobre os seus pais.

    Toby fez uma cara feia com a proposta de Carly. — Meu pai era advogado e minha mãe era professora, mas não trabalhava. Eles não eram pais ruins, minha mãe sempre foi presente em tudo na minha vida, ela não gostava do que eu fazia com as garotas e até chegou a me proibir de leva-las pra casa, aí eu comecei a dormir fora e ela voltou atrás na decisão. Ela me dava conselhos e sempre conversava comigo sobre tudo. Ela era uma pessoa maravilhosa, eu a amava mais que a mim mesmo.

    — O que aconteceu com a sua mãe? — Carly perguntou curiosa.

    — Ela teve câncer, e faleceu. — respondeu triste.

    — Sinto muito — Carly respondeu lembrando da sua mãe que também já tinha partido — E o seu pai? Como ele era?

    — Como eu já disse ele era advogado, não foi muito presente em casa, vivia viajando para fazer palestras. Talvez essa minha adolescência fútil tenha sido por falta dele, por falta de um exemplo dentro de casa. Quando eu tinha 18 anos, depois do ocorrido — Carly entendeu que ocorrido era o que ele tinha feito a menina — descobri que ele tinha outro filho mais velho do que eu e nunca tinha contado nada para ninguém, o pior é que ele continuou tendo um caso com a mãe do meu irmão durante todo esse tempo.

    "Só viemos descobrir quando a mãe do menino morreu e ele pediu para o pai para morar com ele. Meu pai negou, óbvio ninguém sabia da existência do seu primeiro filho. Usou a desculpa de que eu não queria ter vínculos com meu irmão, mas o problema do meu pai foi que ele esqueceu que redes sociais existem. Meu irmão me encontrou no Facebook e mandou mensagem para mim dizendo o quanto eu era egoísta, que ele estava passando por um momento difícil da vida dele, que seria temporário e me xingou de todos os nomes possíveis. Eu fiquei sem entender nada. Depois de conversarmos e ele me explicar toda situação meu mundo desmoronou. Descobri que meu pai sustentava a mãe dele desde muito antes de se casar com minha mãe, pagava o aluguel e todas as contas de casa durante todos esses anos. Meu irmão falou que ia desmascarar meu pai e assim fizemos . Eu já tinha contado para minha mãe e ela já tinha chorado muito, imagino o quanto foi difícil para ela descobrir que todo amor que ele se dizia sentir por nossa família e por ela, era uma mentira deslavada."

     — O que ele fez não quer dizer que ele não amava vocês. — Carly interrompeu.

    — Não importa mais, eu não sei se ele ta vivo ou morto e também não quero saber.

    — Tudo bem, e o que aconteceu depois? — Carly estava achando a história digna de novela das 9 e estava curiosa para saber como terminava.

    — Quando ele avisou que ia chegar de uma viagem, falei que tinha uma surpresa para e ele, que o esperávamos para jantar. Quando ele chegou na mesa de jantar se deparou com meu irmão sentado e as malas prontas. Minha mãe colocou ele pra fora de casa, e colocou um processo em cima dele, meu irmão veio morar com a gente, eu e ele recebia uma pensão de meu pai e minha mãe voltou a trabalhar na área dela. Quando ela recebeu a indenização do meu pai nós três viemos morar aqui e foi quando ela descobriu sobre o câncer. Não tivemos muito tempo com ela, cerca de 6 meses depois ela faleceu, eu tinha 19 anos e meu irmão 21.

    — Ok, agora que eu já sei sobre o seu pai, sua mãe e até que você tinha um irmão, me conte o que aconteceu entre você e a sua menina.

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Dra. Carly - O Reencontro (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora