ERRO! - Princípio e Fim - ANTOLOGIA 1

O Coração da Floresta (Parte II)

No dia seguinte, Carian acordou com a luz do sol batendo em seu rosto e uma brisa suave entrando pela aba da tenda. O príncipe dormia de lado virado para ele e com sua mão sobre o peito do mago. O contraste entre as duas peles era visível: Carian não saiu muito no sol nos últimos três anos, sua palidez se destacava perto da pele de ébano do príncipe. Um símbolo estava marcado a fogo no peito do príncipe e o mago ficou surpreso por não ter percebido antes: um sol radiante transpassado por uma espada em cujo botão reluzia uma estrela, o símbolo do império alturano.

Carian havia sonhado com a floresta de novo. Não o sonho claustrofóbico no qual ele percorria uma trilha de sombras, perseguido por animais de presas grandes e olhos amarelos. Seu sono foi tranquilo e ele andava por uma trilha iluminada. Ainda sentia-se observado por mil olhos, mas agora seguia com confiança.

Quando o mago tentou se levantar sem acordar o príncipe, este despertou e sorriu. Sem dizer uma palavra, ele beijou Carian nos lábios, levantou-se e saiu da tenda, usando apenas a roupa de baixo. Carian se levantou e vestiu suas roupas. Uma fogueira ardia espantando o frio da manhã. Vitarea e Surien estavam sentadas tomando o que parecia uma caneca fumegante de chá. Assim que o viu, a maga pegou o chá de uma chaleira na borda do fogo e serviu a Carian.

- Vocês viram para onde o príncipe Narien foi?

- Mergulhar. - disse Surien. Carian se surpreendeu com a resposta dela.
Akir acordou quase uma hora depois e após um reforçado desjejum, ele recolheu as barracas com um movimento de mãos. Ele e Carian retiraram as magias de proteção que lançaram ao redor à noite e os cinco se prepararam para partir. Ao redor do limite das magias de proteção, havia vários rastros de animais feitos à noite. Carian respirou fundo e agradeceu mentalmente de terem se precavido.

A trilha que deveriam seguir a partir dali era estreita e serpenteava para oeste. A floresta foi se fechando e as sombras ficando mais densas quanto mais seguiam.

- Até que ponto você foi em sua viagem? - Akir perguntou para Carian com voz baixa, como se temesse ser escutado.

- Há uma clareira com uma grande árvore morta antes de chegar ao coração da floresta, lá foi o ataque. E foi onde senti a maior concentração de energia mística.

- Qual é a história por trás do cetro? Por que ele está enterrado em um ponto tão ao sul do império? - Vitarea perguntou com curiosidade. Akir olhou com relutância para o príncipe que assentiu.

- A história oficial é que antes de consolidar seu poder, o primeiro imperador teve dificuldades para as quinze tribos se unirem e conviverem em harmonia. Assim que o imperador morreu e sua filha assumiu o trono, houve um golpe de estado e o imperador escolhido era o chefe dos magos na época. Prevendo o que o novo governante fosse capaz de fazer com o cetro, a neta de Serania pegou o objeto e fugiu. Ela pretendia ir para o ponto mais distante do império, onde o novo governante não poderia alcança-la sem provocar uma guerra. Mas ele a perseguiu. Naquela época seu reino possuía magos em abundancia e suas fronteiras eram impenetráveis, a menos que o rei autorizasse. A neta de Serania veio para a floresta de Anandar, onde conheceu um jovem rapaz que a ajudou a encontrar um lugar. Ela deu sua vida para criar uma magia tão poderosa que protegeria o cetro e o ocultaria até mesmo de magos imperiais.

- Eu sou fascinado por esta lenda desde que era uma criança cujos pais não conseguiam dar muita atenção. E eu jurei que encontraria o cetro algum dia e teria a atenção do império. Minha sorte veio na forma de um diário de uma das servas da época que escreveu um relato daqueles dias. Lá estava escrito que ela viu sua senhora sair com pressa do castelo do rei carregando uma trouxa comprida que poderia ser uma espada longa ou uma lança. Encontrei mais alguns diários que afirmavam o obvio ate que pesquisei sobre o coração da floresta e a data de aparecimento dele coincide com o do desaparecimento do cetro. Juntamos as peças e chegamos à conclusão de que o cetro tinha viajado ao sul e que estaria escondido na floresta.