Escuridão

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ESCURIDÃO
Autor: Emmet Fiore (EmmetFiore)

   Desperte!

   A voz ecoou em sua mente, acordando-o de seu sono sem sonhos. Uma voz sobrenatural capaz de gelar seus ossos. Ele abriu os olhos para uma paisagem pálida, cinzenta e sombria. Sentou-se sobre seu abrigo improvisado, escondido entre as rochas e olhou ao redor, não havia um movimento sequer. A noite seguia seu curso, salpicada por milhares de estrelas, mas aqui, neste lugar era sempre noite.

Das Catacumbas dos Mortos ao norte para as Montanhas Solitárias ao sul, das Terras de Abzûl ao oeste aos Mares Negros do leste. A escuridão imperava sobre cada coisa viva ou morta. As estrelas cintilantes lançavam um brilho pálido sobre a terra. E no firmamento nenhum Sol ou Lua para clarear, nenhum astro cortando as sombras, apenas a implacável escuridão espalhada por todos os cantos.

O recém-desperto estranho sentiu suas entranhas se retorcerem, algo o estava chamando, ele podia sentir o caminho sendo mostrado a ele. Shaith era seu nome, aqueles entre seu povo o chamavam de Fantasma, pois ele vagueava sozinho com seu corpo magro e translúcido por aí. Carregava o suficiente para cobrir suas partes íntimas, uma lâmina torta e uma bolsa de couro de animal.

Shaith se pôs de pé e começou a caminhar, seus pés o guiavam pela estrada, pareciam ter feito aquele caminho centenas de vezes, no entanto havia algo sobre ele, o puxando. O Fantasma se deixou levar, afinal o que poderia fazer? A trilha o levou por planícies e campos abertos repletos de pedras escarpadas e gramado baixo, cuja qual era a única vegetação que crescia em todo lugar, pois sem a luz não havia crescimento.

Após o que pareceram horas andando Shaith enfim sentiu que estava próximo e seus olhos fitaram o horizonte e o que ele viu o assombrou. Não conseguia acreditar no que estava vendo. No alto de um cume era como se estivessem acesas dezenas de fogueiras, cujas chamas não brilhavam em tons de vermelho e amarelo como o fogo, mas emitiam luz branca, se houvessem reunido o brilho das estrelas em um único lugar então seria assim. Shaith se aproximou temeroso da plataforma de pedra lisa, aos poucos notou que a luz se apagava e enegrecia como todo o resto como se a própria noite tivesse engolido as chamas.

Degraus encravados na rocha da pequena montanha o levavam ao topo. O coração do Fantasma batia a cada passo que dava e ao chegar ao fim da escadaria o que avistou o fez desacreditar ainda mais, seus olhos doeram e sua primeira reação foi cobrir seu rosto. Aos poucos abriu espaço entre seus dedos, apenas o suficiente para sanar sua curiosidade, uma vez que nunca tinha visto luz como aquela. E o que ele viu.

O ancião de seu povo estava lá, no centro do cume. O Velho, como era chamado trajava muitas vestes e cobria seus olhos com vendas, pois defronte a ele, o motivo para Shaith duvidar se não estava sonhando: havia uma menina, nua, cujas palmas das mãos emanavam a luz que o Fantasma viu de longe.

Ele não compreendia o que estava acontecendo ali.

O Velho passava suas mãos sobre ela como se a encobrisse com algum tipo de ritual e ao chegar mais perto Shaith percebeu que estava errado, o ancião não praticava algum tipo de ritual, na verdade ele a cobria com lama, a estava escurecendo. A menina olhou para o estranho vagante que acabara de chegar e em seus olhos ele não viu medo, nem nenhum resquício de emoção alguma, pois não havia nada naqueles olhos: eram brancos.

E o Velho apesar da venda sobre os olhos tinha sangue seco escorrido misturado a sujeira sobre sua face como lágrimas vermelhas.

– Abençoados sejam aqueles que morreram há muito tempo – falou o Velho. – Pois encontraram um fim. Não estão mais atados as mãos do destino. Pois os deuses brincam conosco Shaith, eles jogam com os que estão vivos.

ERRO! - Princípio e Fim - ANTOLOGIA 1Onde histórias criam vida. Descubra agora