QUANDO A MULHER que supervisionava a sala em que Toru Hagakure e outros 19 jovens faziam o ENEM anunciou que já era 15:30 da tarde e que quem terminasse a prova estava liberado, ela parou de tentar resolver as questões de Ciências Humanas e entrou no modo chute.
Tinha conseguido resolver com êxito as questões de Linguagens e feito, em sua opinião, uma boa redação, apesar do tema inesperado - "Democratização do Acesso ao Cinema no Brasil". Descobriu o que significava a expressão "democratização" em uma das questões de Linguagens só depois de ter terminado a redação, mas não importava. Tinha incluído a palavra no texto, terminado as exatas 30 linhas com ortografia impecável, inserido palavras difíceis e usado as informações dos Textos Motivadores de um modo sutil, que não reduziria sua pontuação.
Não é que a garota fosse estúpida ou burra. Ela sabia o que significava "democracia", e tinha o hábito de ler muito.
Só que eram livros de histórias, de romance, de ficção científica, não de conteúdo didático. Era boa em interpretação de texto - costumava tirar nota máxima em Português nas avaliações diagnósticas que o Estado obrigava os alunos a fazer, mesmo sendo estrangeira -, mas não tinha exatamente estudado.
Sim. Ela não tinha estudado. E, de novo, não era por estupidez ou burrice, mas essencialmente por duas razões:
1- Ela não gostava de estudar. Não sentia orgulho disso, mas preferia mil vezes passar seu tempo livre lendo um bom romance vitoriano ou conhecendo universos futurísticos do que estudando fórmulas de matemática ou simplesmente gramática (a parte mais difícil do idioma principal dos brasileiros era essa, na opinião dela). E, depois de alguns anos passando de ano à base do que aprendia somente na sala de aula, ela meio que desaprendeu a estudar.
2- Não queria fazer ENEM. Não queria entrar em uma universidade.
Essa era a parte em que a diretora do colégio público em que estudava teria um infarto ou, no mínimo, começaria a hiperventilar. Porque Hagakure era, desde que entrara naquela escola, seis anos atrás, uma das melhores alunas (mesmo sendo, literalmente, uma garota invisível). De todos os turnos e turmas envolvidos.
Sabia que muitos pensavam dela assim, mas não gostava que comentassem. Porque não se sentia desse jeito. Nunca intencionou ser uma das melhores alunas, e realmente não pensava merecer, porque, de novo, ela não estudava.
Acreditava que boa parte das opiniões formadas a seu respeito, como: "Hagakure é tão inteligente" ou "É uma das alunas mais aplicadas" se deviam muito à pessoa que era no sétimo, oitavo e nono ano. Antes de entrar no Ensino Médio, ela realmente se esforçava como aluna. Mas depois disso... seus objetivos mudaram.
Ela via notícias diariamente sobre grandes feitos de heróis brasileiros e de seu país natal, como o maior herói de todos, o All Might. Se mudara para o Brasil com os pais aos dez anos de idade, mas nunca parou de escutar sobre as proezas dele. Em todo o mundo, pessoas o admiravam.
Ela tinha se tornado uma dessas admiradoras. Por causa disso, seu grande sonho era ser uma super-heroína. Mas, no Brasil, não era uma profissão muito incentivada entre os jovens, principalmente porque não era um trabalho bem remunerado como em outros países, e as taxas de criminalidade eram tão altas em certas regiões que, bem... sabe aquele ditado que diz "mais vale um covarde vivo do que um herói morto"? É, se aplica bem.
Os próprios pais de Hagakure a apoiavam em sua ambição, mas havia pressão constante na escola para o que, na opinião dos educadores, seria o melhor futuro para os jovens: entrar em uma universidade.
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Pelos Cabelos de All Might! ❦ Boku no Hero One-Shots
FanficAntologia de contos de um só capítulo com os personagens de Boku no Hero. ▶Créditos das fanarts, que não me pertencem, vão a seus devidos artistas. Esta obra é uma fanfiction, e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. ▶Livre para to...