Dois

1.4K 63 1
                                    

Ele olha pra baixo, pra onde nossas mãos estão juntas
- Mer...
Ele suspira, eu fecho os olhos e ele me beija, as mãos deles escorregam para a minha cintura e me puxam pra ele, eu envolvo o pescoço dele, quando nos afastamos, ele olha nos meus olhos
- O que você quer fazer?
- Foram poucas as vezes que eu estive tão assustada
- Eu estou aqui pra o que você precisar
- Eu... eu já perdi um bebê, eu tenho um útero hostil e...
- Espera, calma, nós vamos fazer o possível pra que tudo fique bem, você teve duas gestações saudáveis
Eu suspiro e me afasto dele
- Nós? Andrew, não existe um nós
- Meredith, nós vamos ter um filho e...
- Isso não é motivo
Ele se aproxima de mim novamente
- Eu sei, mas nós gostamos um do outro, eu me dou bem com as crianças e ter um filho é realizar um sonho
- Andrew, não...
Ele se afasta, respira fundo e quando ele olha pra mim, os olhos dele estão tão tristes que me partem o coração
- Tudo bem, certo, nós vamos fazer isso como você quiser tá bom?
Ele diz de um jeito doce, as palavras são o que eu preciso ouvir, mas o olhar dele é triste, ele tá magoado mas tá fazendo isso por mim, minha vontade de chorar aumenta
- Eu não quero que ninguém saiba até passar o primeiro trimestre, tá?
- Ok, você já fez um ultrassom?
- Não
- Então a Carina vai saber
- Tudo bem, o Alex sabe
- Me chama quando for fazer
- Eu ia agora lá
- Seu nome tá no quadro pra uma cirurgia daqui a pouco
- Como você sabe disso?
- Eu vi
- Você viu especificamente meu nome e a hora?
Ele passa a mão no cabelo, ele faz isso quando fica nervoso
- Eu vi todos, não é essa a questão, só me chama, tá?
- Claro, obrigada pelo apoio e por me entender
- Tudo o que você precisar
Ele sorri mas esse sorriso não chega nos olhos, eu consigo ver que ele tá triste.

Depois da cirurgia, estou indo pra obstetrícia e antes de chegar lá, vejo o Andrew encostado numa parede, parece arrasado, ele tá olhando pra baixo e vez ou outra olha pra cima, eu sei que é culpa minha, ele disse que me amava e eu não consegui lidar, não consegui aceitar e tudo acabou, eu respiro fundo e me aproximo, ele olha pra mim e sorri, mas eu vejo dos olhos dele que é só disfarce
- Oi
Ele diz assim que eu me aproximo
- Oi, tudo bem?
- Claro, tá pronta?
- To, você já contou pra ela?
- Já, ela não vai te deixar sem graça, eu espero
- Obrigada
Entramos na sala
- Boa tarde, Carina
- Oi, Meredith, boa tarde, pode ir se preparar
Eu pego a roupa e vou trocar na outra sala, ouço eles conversarem
- Andrew, eu não posso dizer nada mesmo? É o meu primeiro sobrinho
- Carina, por favor, eu to pedindo por favor, eu já te expliquei
- Mas é injusto a gente não poder comemorar isso, caramba, é um bambino Deluca
Meu coração acelera
- Mamãe estaria radiante
- Para, tá bom, para com isso, só faz o que eu pedi
- Você tá triste e isso é errado
Não sei o que acontece, só sei que eles ficam em total silêncio e eu volto pra lá
- Então, Meredith, vamos ver como está esse bebê
A Carina é simpática e não parece a mesma pessoa que estava conversando com o Andrew
- São 10 semanas, tudo perfeitamente normal e saudável, nada pra se preocupar, você precisa começar o pré-natal, tomar algumas vitaminas e vacinas, mas você sabe
- Obrigada, Carina
O Andrew sorri pra mim e passa a mão no meu cabelo
- Imagina, foi um prazer
Eu levanto, me troco e volto
- Eu preciso marcar a próxima consulta ou só vir?
- Meredith, eu não farei o seu acompanhamento
- Carina
O Andrew interfere
- É sério, eu sinto muito mas eu não posso fazer isso, eu me envolveria
- Carina, eu não pretendo afastar o bebê de vocês, é seu sobrinho
- Ótimo, mas eu realmente prefiro não fazer o acompanhamento, qualquer coisa que você precise, qualquer dúvida, pode me procurar
Andrew olha pra cima e respira fundo
- Tudo bem, Carina, eu entendo e agradeço
Eu saio da sala mas ainda ouço uma parte da conversa deles
- Droga, Carina
- Eu não posso fazer isso, Andrea, eu sinto muito, eu não consigo fingir que você está bem quando na verdade, você não está
Ele sai da sala e me acompanha e eu fico sem entender direito aquela conversa
- Andrew, o que você disse pra ela?
- Nada demais, ela não sabe ficar calada, eu sinto muito
- Vem cá
Entramos em um dos dormitórios
- Você tá triste
- Não estou
- Você não gostou na notícia, né?
- Não, de jeito nenhum, foi a melhor coisa que já me aconteceu, pode ter certeza
- Então por que você parece tão triste?
Ele suspira
- Olha, eu tenho que voltar pro atendimento, te vejo mais tarde, tá?
- Tá
Ele sai e eu fico lá olhando pra porta, eu queria que ele falasse comigo, mas eu o afastei, droga.

A nossa vida... uma nova vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora