5 - Vigilância materna

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Desde que teve Anita, criando-a sozinha, trabalhando duro como costureira, com a ajuda de grandes amigos, não pode ser injusta, mas no final sempre sozinha, Angélica jurou para si mesma que não faltaria nada para sua menina, não apenas em termos financeiras, necessidades materiais, mas amor, lealdade,

Sonha e sempre sonhou com o melhor para a sua filha, sua única família, sua prioridade, mas também não é burra. Desde os quinze anos de Anita percebeu certa mudança. Ainda continuava senda sua menininha, mas ela tinha olhares diferentes para outras pessoas.

Quando ela fez dezesseis anos tudo veio como uma onda avassaladora em sua vida. Era evidente que algo havia mudado em Anita, até chegar a seus ouvidos um motivo, ela gostava de garotas. Ficou surpresa, na verdade ficou desesperada, nunca pensou nessa possibilidade,

Mas depois de observar Anita por um tempo, depois da informação ter chegado a ela por uma vizinha fofoqueira, as coisas começaram a fazer sentindo. Precisou lidar sozinha com a realidade. Esperou, esperou e esperou, mas nada de Anita vir falar sobre o assunto com ela. Então resolveu soltar algumas indiretas, via bem o jeito de uma amiga sua. Depois apareceu Bárbara, que ela tinha certeza que as duas tinham alguma coisa.

Mas nem seus comentários ruins ajudou, então parou. Nesse meio tempo Anita já fazia seus vinte anos a passara na faculdade de São Paulo. Perguntava-se se era apenas uma fase, afinal, sempre foi tão sincera com sua filha, acreditava que se algo tão importante como isso acontecesse em sua vida, com certeza ela diria.

No final acabou acreditando nisso, foi uma fase, coisa de adolescente. Chegou até a pensar que Anita e Samuel tinham alguma coisa, pois não se desgrudavam. Então a filha foi embora, passou quase cinco anos fora, agora com quase vinte e cinco anos está de volta, da mesma forma, ou quase, mais mulher, independente, adulta, responsável.

Os olhos de Angélica enchem de orgulho só de olhar para a mulher que sua filha se transformou, se ela voltar mesmo, conseguir o trabalho e voltar para casa, aquilo seria como um sonho realizado.

Desde que Anita chegou se prendeu a uma felicidade de ter sua menina de volta, tanto que nem se deu conta de uma coisa. Luana. A garota gritava de todas as formas sua orientação sexual. Angélica não notou o perigo que estava correndo, mas claro que não julgaria sua filha.

Um tempo atrás já conseguia lidar com isso, se fosse verdade, claro, mas até hoje, depois de dez anos, Anita nunca lhe falou nada sobre isso, pensou ser mentira, isso até ver o olhar que sua filha deu à sua enteada. Só então se deu conta do que poderia acontecer, e ela sabe, Luana não é nenhuma garotinha indefesa, apesar de parecer assim às vezes.

As duas iriam se provocar, seduzir, deixar sua cabeça louca. Poderia ser a fase voltando? Ou apenas Anita nunca lhe confessou a verdade? Ou simplesmente Luana despertou desejo? Pensar nessas possibilidades para a mulher era incômodo. Sua garotinha dessa forma. Resolveu apenas observar. Ver como elas reagiriam.

Aquele plano parecia funcionar. Até então estava funcionando. Isso até ela escutar o barulho das duas chegando da saideira, abrir a porta do seu quarto e ainda sonolenta ver com clareza o que sua filha lhe escondeu por tantos anos.

As duas estavam aos beijos, não qualquer beijo, era algo intenso, quem visse de longe entenderia a realidade, aquilo não era uma fase de Anita, nunca foi. Pergunta-se por que ela nunca lhe falou, porque não confiou. Observa por alguns segundos, mas logo que elas se afastam, volta para dentro do quarto e deita na cama.

Naquela noite ela não dormiu rapidamente. Ainda demorou algumas horas para pegar no sono. Não por vergonha, nojo, ou preconceito da sua filha. Quem era ela para julgar? Anita sempre foi uma filha exemplar, fez faculdade, nunca a abandonou, apesar dos anos longe, mas sempre fazia de tudo para estar perto dela.

Depois daquele NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora