Duque Atrevido - Os D'Evill 01

Capítulo 1

VICTORIA D'EVILL

- Eu vou matá-la!

-Por mais que eu aprecie a ideia, não acho que nossa mãe gostará muito de saber que um dos filhos morreu. - Anthony, meu irmão mais velho, fala calmamente enquanto cavalgamos pelos bosques da propriedade.

-Somos cinco filhos, com sorte ela não notará a falta de uma.

-Levando em conta a paz que reinaria na casa, acho que ela notaria sim.

Murmuro uma praga e Anthony se segura para não rir, enquanto nos aproximamos do riacho da propriedade.

-Não entendo porque logo eu devo ficar responsável por Charlotte, todos sabemos que ninguém consegue controlá-la.

-Você é a mais velha, acho que cuidar das demais está entre suas... Obrigações?

-Charlotte tem uma preceptora. - Resmungo.

-Uma senhora de idade a quem ela vive enganando. Me admira que a pobre senhora ainda não tenha fugido.

-Ao menos nossa irmã não prega peças com a senhora.

-Um milagre, de fato.

O marquês de Bridgthdown possui cinco filhos: Anthony, eu, Harry, Elizabeth e Charlotte. Sendo essa última, uma verdadeira diabinha cheia de vontades que consegue enganar qualquer um para realizar suas travessuras por aí.

Nossa família é muito respeitada perante a sociedade, além de ser um pouco excêntrica, já que os dois homens da família são herdeiros de títulos importantes: Anthony herdará o marquesado de nosso pai e Harry herdará o condado de nosso avô paterno. Claro que Harry o herdará devido a algumas controversas e antigos problemas familiares, mas se o rei acatou, quem somos nós para questionar, não é?

Os D'Evill também são famosos por terem pais bem opostos. O marquês, Thomas, é bem reservado e prefere deixar que os filhos guiem suas próprias vidas e busquem sua independência - mesmo as filhas, o que é bem raro - enquanto a marquesa, Olívia, é uma mãe sonhadora e casamenteira que procura partido para os dois filhos apresentados à sociedade: Anthony e eu.

Que Deus nos ajude.

Em alguns dias a temporada social em Elbenia começará, assim como as reuniões do parlamento nobre - do qual meu pai faz parte, devido ao seu título - e ainda hoje partiremos para lá. Serão três longos meses de bailes, chás, óperas, peças de teatros e todas as burocracias das quais minha mãe insiste que participemos. O restante do ano ficamos em nossa propriedade de campo, na BrightHall, onde podemos ser quem verdadeiramente somos sem qualquer preocupação com normas de etiqueta e coisas formais.

Tanto que estou cavalgando com Hades - meu cavalo - em uma sela normal, nada de sela lateral como damas costumam montar por aí. Partiremos para Elbênia em algumas horas e Charlotte simplesmente sumiu.

-Se não a acharmos, poderemos contar à mamãe que a perdemos?

-Não a perdemos, você a perdeu.

-És um péssimo apoiador, Tony.

-Tenho meus momentos. - Dá de ombros.

Paramos os cavalos quando ouvimos um gritinho, seguido por risadas, vindos da direção mais alta do riacho. Não creio que Charlotte esteja lá outra vez. Definitivamente me recuso a acreditar.

-Acho que encontramos a caçula. - Tony faz uma careta - E ela está brincando de ser peixe outra vez.

-Suas roupas devem estar arruinadas. - Já sinto minha cabeça começar a latejar.

-Não será difícil colocá-la  no banho e vesti-la em novas roupas antes de sairmos. Charlie tem dez anos, não tem um corpo tão grande assim. Pouca água bastará.

Antes que tivesse a chance de lhe responder, nossa querida irmã surge em meu campo de visão, completamente molhada - como esperado - gargalhando na companhia de Aidan Shackleford, nosso vizinho de propriedade e herdeiro do marquês de Zidenville.

-Charlotte! - Chamo sua atenção, que finalmente se volta para nós, adquirindo uma expressão meiga no rosto, na esperança de não ser assassinada - Sabes que não deveria ter saído de casa, principalmente quando estamos de saída.

-Lady Victoria, Lorde Anthony. - , como o educado rapazote que é, nos cumprimenta com uma reverência impecável, mesmo estando tão encharcado quanto Charlotte - Lamento por termos sido encontrados neste estado. Charlotte não me disse que estavam de saída.

-Vamos para Elbenia, para a temporada. - Anthony justifica - Não deverias estar na escola?

-Tivemos um pequeno recesso. - Aidan comenta ruborizando, evidentemente sem graça diante a sua situação.

-Não foi culpa dele. - Charlotte apressou-se a dizer - Descobri que Aidan estava em casa e  resolvi segui-lo para me divertir um pouco antes de irmos.

-Não é novidade que você o esteja seguindo, mas precisava mesmo ficar encharcada? - Questiono e Charlotte mexe o pé, impaciente e envergonhada.

-Já que aproveitaram o passeio e se divertiram, temos que voltar. É bom que tome um banho antes de partirmos, Charlie. - Tony se manifesta de maneira diplomática e tem razão. A família de Aidan é amiga da nossa a muitos anos e ainda somos vizinhos, não é surpresa para ninguém que Charlotte o estava perseguindo.

-Precisa de ajuda para regressar, Aidan?

-Não, milady, estou com o meu cavalo, obrigado.

-Disponha.

-Nos vemos depois, Aidan! - Charlotte se despede com um aceno de mão e caminha na minha direção. Desço do cavalo para ajudá-la a subir.

Terminamos de nos despedir devidamente e seguimos de volta na direção da casa, com Anthony estranhamente calado durante todo o percurso.

-Não suma mais assim, Charlotte. Quase fiquei louca procurando por ti.

-Eu já sou grande o bastante para cuidar de mim mesma, Victoria.

-O que Vic quer dizer, Charlie. - Tony se manifesta - É que nossa mãe ficaria louca se percebesse que você sumiu. Onde está sua preceptora?

-Ela gosta de cochilar antes de viajar. Não precisei fazer nada com ela.

-Mas ainda não é certo, Charlie.

-Eu nem me machuquei.

-Eu só te peço que não apronte enquanto estivermos em Elbenia. - Volto a falar.

-Não há o que fazer por lá. Mamãe só me deixará sair se estiver acompanhada por vocês.

-Porque ela se preocupa com você. - Tony fala sorridente.

-Ela se preocupa que vocês casem. - A pequena comenta e tanto eu, quanto Tony engasgamos.

-Não é para tanto.

-Claro que é. Se vocês se casarem logo, não precisarei me preocupar se irão me achar ou não.