VICTORIA D'EVILL
-Não dirá nada? - Isaac pergunta enquanto tento me lembrar como se respira. O objetivo era criar algo durante o chá para atiçá-lo, mas não esperava que Charlotte me ajudasse indiretamente e muito menos que me beijasse.
-Temo que não há nada para se dizer, milorde. - Sem que eu consiga evitar, dou-lhe um pequeno sorriso ao mesmo tempo que sinto meu rosto começar a esquentar.
Corar? Céus, isso nunca tinha acontecido. Devo estar parecendo uma moçoila inocente e indefesa que costumo ver pelos bailes. Aposto que ele deve estar achando ridículo.
-Se beijá-la em um momento inoportuno a faz corar, farei isso com mais vezes.
Que homem atrevido!
-Poderíamos ter sido pegos.
-Poderíamos. - Toma um gole de seu chá, olhando-me atentamente.
-Foi arriscado.
-Foi.
-E imprudente.
-Sem dúvida, mas também não posso dizer que me arrependo. E você?
Estou arrependida? Oras, certamente se outro homem tivesse me beijando - um homem que eu não desejasse - teria me sentindo insultada, mas agora sinto como se houvesse assumido o posto de garota levada da casa, no lugar de Charlie, e estou desejando mais.
-Atrevo-me a concordar com o senhor, não estou arrependida.
-Aceitaria sair comigo outra vez? Esta madrugada?
-É imprudente sair outra vez, pela segunda noite seguida. - Deixo a razão falar por mim - O que pretende conversar, milorde?
-Perdoe-me a ousadia, milady, mas eu não estava com planos de conversar.
-Eu poderia me comprometer, muito.
-Sendo assim, seria muita ousadia de minha parte convidá-la para um passeio à cavalo? Podemos ir logo pela manhã, quando é possível cavalgar pelo Regional Park.
-É uma excelente ideia, senhor.
Escutamos passos se aproximarem, um tanto apressados e meio minuto depois minha irmãzinha surge eufórica dentro da sala acompanhada por minha mãe - que a esta altura já havia recuperado a pose de marquesa e fingia completa normalidade.
Espero que Charlotte não tenha causado um ataque do coração em sua preceptora, isso sim seria um grande problema.
-Lorde Brandford, não esperava vê-lo por aqui tão rápido. - Charlie faz uma mensura enquanto Isaac se levanta para cumprimentá-la.
-É um prazer revê-la, lady Charlotte.
-Espero que não se incomode que eu os acompanhe no chá. - Sorri de maneira discreta, como uma jovem maior faria.
Eu não sei onde minhas irmãs adquirem suas habilidades, mas Charlie tinha o hábito de observar os trejeitos das pessoas para imitá-las e conseguir impressionar os convidados da casa. Isso é claro, quando conseguia se desvencilhar de sua responsável e fazer uma entrada triunfante no recinto.
-Jamais, senhorita. Para ser sincero sinto-me honrado em tê-la conosco.
-Peço perdão pela minha saída, lorde Brandford. - Mamãe fala já acomodada novamente ao meu lado. Charlie já havia se sentado ao lado do duque - Tivemos um pequeno incidente com alguns empregados, mas tudo está resolvido.
Que Harry não tenha sido flagrado com alguma serviçal! Eles andava tão comportado, sempre trancado em sua sala pintando durante todo o dia, não acredito que esteja voltando às praticas de Anthony.
Este é o problema quando se tem quatro irmãos com idades tão distintas, a casa está sempre um completo caos e preciso ajudar minha mãe a coordenar tudo. Charlotte é a mais nova e atualmente tem 10 anos, Elizabeth está com 16, Harry com 19 e Anthony com 24 anos. Já apostamos quanto tempo levará para que Anthony alugue um apartamento de solteiro e nos livre um pouco de seu ciúme, Elizabeth e Charlotte acreditam que logo, mas como gostamos de passar mais tempo em Brigth Hall, é quase impossível que nos livremos dele.
-Estão marcando a data do casamento? - A pergunta de Charlie me traz de volta a realidade e vejo mamãe engasgar com tamanha pergunta indiscreta.
Às vezes me pergunto se deveria enviar Charlotte para um adestrador ou algo assim.
-Charlie! - A repreendo e Isaac segura o riso - Isso não é pergunta que se faça.
-Por que não? Já aceitou o cortejo dele, é um milagre. Pelo que eu sei, depois do cortejo vem o casamento, não?
-Suponho que sim. - Responde o duque.
-Mãe? - Tento clamar por sua intervenção, mas ela apenas suspira.
-É melhor que ele já esteja habituado. - Declara por fim, pousando elegantemente a xícara sobre o pires - Lorde Brandford, acredito que seja bom que saiba sobre nossa família. Somos um tanto... Excêntricos.
-Estou ciente disso, marquesa.
-Espero que saiba com quem está lidando, milorde. Caso decida se casar com minha filha, precisa saber que não ficaremos longe dela ou sem notícias. Entendo que perante a lei ela passará a ser sua, mas ainda será um D'Evill e meu marido e eu não perderemos contato.
O que ela está fazendo? Tudo bem por se tratar de Isaac, o mesmo que já declarou sua certeza em me ter como esposa inúmeras vezes, mas se fosse qualquer outro homem, minhas chances de casamento estariam drasticamente reduzidas e a fama de nossa família aumentaria ainda mais. Já não basta sermos os excêntricos da sociedade, seríamos taxados de loucos.
Para lady Olívia D'Evill estar iniciando uma conversa como esta precisa se sentir segura. Não é possível que Isaac tenha conquistado sua confiança com tão poucos encontros entre ambos.
-Imaginei que seria assim e pelo que se ouve sobre sua família, não estou surpreso, milady.
-Sei que esta conversa é inapropriada de acordo com todo e qualquer código de etiqueta, senhor, mas estamos falando sobre o futuro de minha filha.
-Eu seria muito agradecida se o senhor se casasse com a minha irmã e a proibisse de brigar comigo, mas gosto dela e não que fique triste. Quero que me prometa que a fará feliz.
-Charlotte, isso já é um exagero, querida. - Tento intervir, mesmo que por dentro esteja estranhamente emocionada com sua fala.
-Está tudo bem. - Isaac sorri e fico instantaneamente relaxada. Sim, eu estava em um momento muito embaraçoso e vergonhoso, mas seu sorriso é lindo - Prometo que darei meu melhor para sua irmã.
-Fará ela feliz? - Pergunta desconfiada e olho para minha mãe, clamando outra vez por socorro, mas a encontro sorrindo e encarando Charlie com um brilho de orgulho nos olhos.
Como eu gostaria que um buraco se abressi no chão para que eu pudesse me esconder.
-Farei. - Isaac ergue a mão direita e coloca a esquerda sobre o peito, em sinal de juramento - Se sua irmã aceitar casar-se comigo, farei dela a mulher mais feliz do todo o país.
Eu não queria, mas meu tolo coração havia parado por alguns segundos diante de sua resposta. Claro que ele podia estar fingindo, conquistando minha irmã, minha mãe e a mim, para depois que já me tivesse revelasse seu verdadeiro eu, porém esses sentimentos. Tolos sentimentos que me fazem perceber que estou me encantando por esse homem. Quem eu não deveria. A batalha começou agora, não posso me dar por vencida.
Ele me fará a mulher mais feliz do país, mas não me ama... Ainda.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Duque Atrevido - Os D'Evill 01
RomanceEssa obra é de minha autoria, ou seja, DIREITOS AUTORAIS. É sempre bom lembrar, plágio é CRIME! Victória D'Evill sempre foi uma mulher com prioridades e se casar, no momento, não é um delas. Decidida a ajudar sua mãe na criação dos irmãos, Vic é sur...