Capítulo 29

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7641 palavras - Arco aniversário

Por Edan

Desperto lentamente, encontrando um espaço vazio a minha volta. Sinto a familiaridade daqui, é quase como se eu já tivesse estado nesse ambiente outras vezes... Mas eu simplesmente não me lembro de ter estado aqui.

Olho em volta, prestando atenção no que puder. O espaço é completamente enegrecido, o chão coberto com uma camada de água. Tento me concentrar, mas não existe som além de um distante gotejar que não sei de onde exatamente está vindo. Sinto uma brisa, mas nem mesmo ela emite qualquer ruído que seja.

Caminho lentamente, esperando encontrar qualquer coisa que possa ser, apesar da certeza de não conseguir encontrar nada, por mais que eu procure. Apesar disso, consigo ter a impressão de ver algo... Vultos passando por dentro da escuridão.

Seres estranhos, criaturas que me lembram animais, pessoas caminhando de um lado ao outro, seres maiores e mais indefinidos, como se fossem grandes robôs animatronicos, ou então seres mais fantásticos de alguma obra de ficção, aves, e uma imensa criatura alada, mas todos eles logo desaparecem quando viro meus olhos a eles.

Uma pequena luz surge de repente, se aproximando de mim. Ela é ínfima e pequena, quase nula, e se aproxima timidamente de mim. Estendo minha mão para alcança-la e ver melhor, e ela se intensifica. Fica maior e muito mais brilhante, ofuscando minha visão completamente.

O brilho lentamente se enfraquece, tornando as coisas nítidas novamente. Não estou mais no vazio enegrecido, me vejo em um lugar diferente, mas ainda coberto pela penumbra. Estou em um quarto, meu quarto. Olho em volta, tentando reconhecer esse ambiente. Alguns pequenos gibis largados sobre a estante, o guarda-roupa aparentemente organizado, nada de roupas espalhadas pelo chão e... Minha cama, e um colchão bem ao lado da cama?

Olho as paredes, notando algo, existem muito menos desenhos colados na parede do que eu me lembro, e nenhum deles parece ter sido coberto de poeira em algum momento... Parecem ser bem recentes.

Tomo um desses desenhos em minha mão, um que tenho a certeza de já estar completamente apagado, mas está aqui, nítido na minha frente. Lembro dele, foi um dos desenhos que melhor caprichei depois que aprendi a desenhar. Nele estão um homem e uma mulher com roupas coloridas e capas, claramente heróis na minha visão de criança, não apenas isso, foi uma outra visão que eu tinha dos meus pais. É, eles eram meus heróis.

A porta lentamente é aberta, e vejo uma pessoa um pouco mais alta que eu, ofuscada pela pouca luz que vem do corredor, e essa pessoa carrega algo nos braços, acho que duas crianças.

- Vocês já brincaram muito, deitem que amanhã acordamos cedo para ir ao lago... – Escuto essa voz grave, a reconhecendo. É definitivamente meu pai.

- Mas pai, eu não quero... Ainda não estou com sono... – Escuto a mim mesmo, com a voz de criança manhosa. Caramba, minha voz era assim? Que vergonha...

- Nada de desculpas filho, vocês dois precisam descansar. – Vejo meu pai com poucas dificuldades, mas conseguindo deitar o pequeno eu na cama, e então a outra criança na outra cama. Percebo ser uma menina de cabelos escuros – Prometo que amanhã será divertido.

- Ta bem pai... Prometo tentar dormir... – Vejo a mim mesmo se ajeitando na cama, pegando a coberta dobrada na ponta e se aconchegando. Fico olhando meu pai, ele se vira e segue em direção a porta – Pai... Pode deixar a luz ligada?

Vejo que meu pai parou e me olha sobre o ombro – Não tenha medo do escuro, você é maior que os monstros que vivem nele.

Eu lembro disso. E como eu me lembro. Era algo que meu pai me dizia todas as noites, que faziam me sentir tranquilo. O pequeno eu somente se ajeita na cama, enquanto meu pai deixa o quarto. – Seu pai é alguém bem legal. – Escuto a menina dizendo, sua voz é muito familiar para mim...

Rosas GêmeasOnde histórias criam vida. Descubra agora