Capítulo 31

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9002 palavras - Arco festa

Por Edan

Dia de volta as aulas, não sei se fico feliz ou totalmente entediado em voltar para a escola. Claro que acordar cedo, ter trabalhos para fazer e provas não me atraem em nada, nem meu distante lado masoquista gosta disso. Mas também, ficar o dia todo mergulhado no tédio é outra coisa que sinceramente não estou nem um pouco afim de encarar.

Preciso aprender a me decidir melhor sobre algumas coisas.

Olho para meu lado no sofá, que está vazio. Normalmente a Carol dorme comigo tanto na minha cama, quanto aqui no sofá, em cima de mim. Mas hoje ela não pode vir dormir aqui por precisar ficar um pouco em casa. Segundo ela, é para seus pais não ficarem a enchendo das suas frequentes saídas, e também sobre o fato de quase sempre dormir fora. Entendo ela e seus motivos de quererem Carol por perto, fora que essa garota sozinha pode fazer um estrago bem grande. Mas acordar sozinho depois de ser tão mal-acostumado é bem solitário. Além disso, estou sofrendo de antecedência, acordei pelo menos meia hora antes do que deveria, e estou morrendo de cansaço por ter conseguido dormir apenas no meio da madrugada.

Me ajeito para deitar de forma mais confortável, me movendo bem lentamente. Fico encarando o teto, mergulhado na penumbra que é minha casa. Minha vontade de voltar para a escola está mais baixa do que eu esperava. Eu realmente devo me levantar?

Será que devo?

Eu poderia ficar aqui quietinho, deixar o dia passar, que não daria em nada mesmo. Minha real desculpa para me levantar todos os dias era acreditar que algo de bom poderia acontecer comigo caso eu continuasse tentando, mas até recentemente eu acabei perdendo a fé nisso...

Eu sei que não vai acontecer. Posso estar desistindo fácil, eu poderia contar com o Leandro, a Raquel e novamente com a Anne, mas a realidade é que não quero contar com eles, eu desisti mesmo. Não quero que meus amigos usem de seu tempo se preocupando comigo.

Existem tantas coisas que eu quero para eles, tantas coisas boas que espero que aconteçam com todos eles, mas que não vão acontecer enquanto eu estiver aqui.

Cada um dos sorrisos que espero deles, da minha querida irmã Raquel, do meu melhor amigo Leandro, e também da chata da Anne... Não apenas eles que são mais próximos, espero isso para todos os demais. Iris, Tamires, Carol, e todos os outros, desejo o mesmo a eles. Eu espero demais que eles fiquem e sejam felizes, assim eles podem me esquecer de uma vez... Para que não sofram quando tudo finalmente acabar, e eu não estiver aqui. A última coisa que quero deles é preocupação. Não quero ser um peso ainda maior para eles.

Ergo meu corpo, quase que em um movimento automático, deixando o sofá e indo para a cozinha. Meus olhos passam pelo vaso, posso ver como a rosa negra novamente se tornou caída, suas pétalas se desprendiam, por algum motivo entendido que significa, ela está novamente envolta nas sombras, igual como estou agora. Sombras tão nítidas que posso enxerga-las passando a minha volta. São frias, mórbidas, cada toque delas em mim parecem roubar mais e mais o pouco de vida que ainda tenho.

Essa é a sensação que sempre tenho, todas as vezes que minha mente é tomada pela escuridão, uma parte de mim desaparece. É o sinal que a vida está me deixando cada vez mais. Eu mal sei como consigo fingir que estou bem, meu corpo inteiro dói, minha mente grita coisas que deixei de tentar entender, mas sempre sei de algo, é uma eterna súplica para que tudo acabe...

Me vejo de frente para a pia da cozinha, novamente com uma faca a minha frente, que nem mesmo sei de onde ela surgiu. Eu preferiria uma corda e pendurar no meu quarto, mas não tenho uma corda aqui, e nem um lugar na casa onde pendurar, e remédios não são uma opção viável, então... Terá que ser dessa forma.

Rosas GêmeasOnde histórias criam vida. Descubra agora