Mestre Shisui - Cegos que enxergam a alma

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Depois da minha fuga eu vaguei por dias, lutando contra a vontade de voltar, afastando os pensamentos que me faziam lembrar de casa. Muitas vezes minha mente me levava até a minha mãe e eu me perguntava se era tarde demais para voltar e pedir perdão a ela, mas logo em seguida eu me lembrava das promessas que havia feito, um dia eu voltaria para cumprir a aliança com Sunagakure.

Os dias passavam devagar, como se minha enfermidade prejudicasse a chegada de novas auroras, a minha insistência parecia cruel para meu corpo, mas naquela altura Konoha já havia ficado para trás, assim como meu passado, nome e família.

— Você passou tempo demais andando, não foi? — ele me perguntou enquanto colocava em minhas mãos uma pequena tigela fumegante. Eu não podia ver seu rosto, mas sabia que de alguma forma me era familiar. — Coma, precisa de energia.

Sua voz era suave e gentil, — interiormente eu sabia que era boa pessoa — o que me incomodava era sua familiaridade.

— Você ainda não me disse seu nome, garota. — eu levei a tigela até os lábios com certo cuidado, embora quisesse comer, aquele também era um método para evitar falar. — Se quer ficar, preciso pelo menos saber do que te chamar. — eu tive a impressão que seus lábios formaram um pequeno sorriso.

— Eu posso dizer meu nome se você não perguntar o porquê estou aqui, e se quer mesmo saber, estou aqui pelo mesmo motivo que você. — me manifestei após tomar um pouco daquela sopa, seu gosto aliviou a sensação do estômago vazio que eu tinha há dias. — Meu nome é Liara... Liara Namikaze.

Ele permaneceu em silêncio por alguns instantes, não sei se estava refletindo ou criando coragem, mas quando voltou a  falar seu tom estava mais sério.

— Nunca mais diga seu nome a um desconhecido, existem muitas pessoas que gostariam de usar a filha do quarto Hokage para chantagear Konoha. — em seu tom eu percebi que Konoha havia sido mais que uma vila qualquer para ele, ele sentia o mesmo que eu. — E eu estou aqui para proteger a vila que nasci, de qualquer pessoa...

Eu não disse mais nada, meu silêncio serviu como resposta positiva para aquele homem, e embora eu estivesse curiosa para saber a fundo quem ele era, me senti no dever de ceder o espaço que ele me cedeu. Não podia exigir algo de alguém que me deixou confortável o suficiente para falar.

Os dias naquela caverna pareciam passar mais rápido, não sei se era a companhia ou meu interior que começava a sossegar, mas algo me fazia ter certeza que o tempo estava sendo generoso com meus sentimentos.

— Sente-se melhor? — sua pergunta parecia simples, mas minha mente questionava o que era estar bem se nada parecia estar certo. — Sente falta da sua família?

— Eu sentir falta deles não me faz querer voltar, — argumentei olhando em sua direção, embora não pudesse ver nada além de escuridão eu sabia exatamente onde ele estava.

— Eu sinto que preciso te dizer algumas coisas, mas não sei se está preparada.

— Não faz diferença estar ou não, pode dizer.

Nos sentamos na entrada daquele amontoado de pedra, a noite havia caído sorrateira e gélida, o clima dentro da floresta era diferente do que sentíamos fora dela. O homem sentou-se ao meu lado como se estivesse pronto para contar a grande história de sua vida, entretanto, enquanto falava algo em mim me fazia acreditar que ele sofria com cada palavra.

— Está me dizendo que a culpa do massacre do clã Uchiha não é do irmão mais velho do Sasuke?

— E como é que você sabe disso? Você é uma criança Liara, devia retornar para sua vila. — sua fala soou mentirosa e falsa, e mesmo com a sua falta de crença eu precisava insistir que me contasse o resto daquela história.

— Nossa vila! — meu corpo se levantou expondo minha irritação. — Orochimaru invadiu Konoha e assassinou o terceiro Hokage, agora você me conta que um cidadão de Konoha roubou seu Sharingan para evitar que seu clã reclamasse pelos direitos deles!

Meu corpo sentiu um pequeno calafrio.

— Essa não é a vila que eu jurei proteger...

Meus passos para longe se tornaram ligeiros e com grande impaciência meu punho atingiu uma das rochas no chão partindo-a em vários pedaços.

— Algo me dizia que contar isso podia te ajudar, mas eu nunca acreditei muito em destino, — sua voz fazia eco por aquele mundo de pedra. — não devia ter dito nada.

Será que eu não podia enxergar antes mesmo de estar cega? Konoha tinha tantos problemas assim, ou foi a minha saída dela que os causou?

Estando ou não certa, meu objetivo ainda não havia mudado. O mundo shinobi era cruel, mas eu ainda acreditava que a paz podia ser restaurada.

Naruto - União SupremaOnde histórias criam vida. Descubra agora